Margot
Com os olhos arregalados, Luke se aproximou da piscina e se abaixou. Pensei que estivesse prestes a tentar me ajudar, entrando na água, então estiquei um braço para impedí-lo. Nadei até a borda, tentando me concentrar em não parar de bater as pernas embaixo d'água antes que eu me distraísse com tudo o que estava passando na minha cabeça naquele minuto e me afogasse.
Me apoiei na escada da piscina e subi. Luke se ergueu e se aproximou de mim a passos longos. Minha cabeça girava, confusa demais.
- Você está bem?
Eu ouvia sua voz claramente e ainda assim era difícil acreditar no que eu estava vendo. Incrédula, o encaro por bons longos segundos. Aquela era a melhor forma de começar uma conversa? Se eu estava bem?
Havia tantas coisas na ponta da minha língua, prestes a serem disparadas antes que meu cérebro conseguisse realmente processá-las, que meus pensamentos ficaram difusos. Não sabia o que dizer primeiro, se perguntava o porquê dele estar aqui, quando chegou, se era ele ontem no elevador... e, o mais importante, o porquê de não ter entrado em contato antes. Isso não fazia o menor sentido.
Ao invés de falar qualquer coisa, caminho até a espreguiçadeira e pego meu roupão, amarrando firmemente ao redor do corpo. Luke se mantem em silêncio, mas segue meus passos enquanto eu me movimento.
- O que você está fazendo aqui? - minha voz é fria e direta. Mal a reconheço, a tirar pelo timbre. Não sei ao certo de onde surge a minha raiva, mas a falta de respostas sobre ele nesse tempo todo faz algo crescer dentro de mim.
Quando me viro para encará-lo, há um misto de confusão e tristeza em sua expressão, que ele imediatamente disfarça quando percebe meu olhar.
Quando Luke não responder, decido fazer a pergunta que mais me intrigou de repente.
- Como soube que eu estava aqui, para início de conversa? - sei que minha voz subiu algumas oitavas e que estou prestes a gritar pelo borbulhar de emoções dentro de mim, mas pouco me importo.
Luke suspira e passa a mão pelo cabelo, que só então noto estar desgrenhado. Passo a olhar seu rosto com mais atenção - a testa vincada, as olheiras abaixo dos olhos... ele tinha dormido tão mal quanto eu nos últimos dias? Pensar que no dia anterior que estava desejando que ele estivesse se sentindo mal, apenas para compensar minha própria dor, me fez sentir uma pessoa horrível. Aquele homem... o homem diante dos meus olhos, por mais que sentisse um pulsar de fúria dentro de mim nesse momento, eu o amava.
As palavras que ouvi de sua boca, que em nada pareciam combinar com a suavidade dos seus traços, não pareciam importar quando eu o olhava com atenção. O pensamento de tê-lo apenas em sonhos, por um momento, pareceu ridículo e insuficiente. Ele estava ali, de carne e osso.
Mas as próximas palavras não pareciam ter trazido sua alma.
- Vim a negócios. Soube que a Clair estava hospedada aqui, então pensei que você poderia estar também. - ele respondeu, cortando meus pensamentos.
Levo alguns segundos para processar seus palavras, semicerrando os olhos ao constatar a ausência de emoções que correspondiam às minhas. Mas antes que eu pudesse me deixar levar pela mágoa, noto que não é a verdade.
- Isso não faz o menor sentido.
- Por que você veio para Madri? - ignorando minha acusação, ele pergunta.
- Não é da sua conta. - não me importava se soaria infantil ou não. Sua falta de respostas estava me irritando.
- Pensei que tivesse voltado pra casa para resolver as coisas. Que não quisesse tentar porque sua vida estava complicada.
Percebo o tom acusatório em suas palavras e isso faz minha postura mudar. Meus ombros relaxam, por mais contraditório que isso pudesse parecer. Ele estava magoado, tanto quanto eu, talvez. Queria explicações, essas que eu não conseguia dar. Também não fazia a mínima ideia do porquê estar aqui, já que não conseguia me desligar um minuto sequer, já que minha vida estava me chamando de volta a todo momento. Luke, uma das maiores preocupações, parecia me perseguir qualquer fosse o lugar que eu ia. E, incrivelmente, eu me senti bem ao pensar nisso.
- Qual o problema, Margot? O que aconteceu nesses últimos dias, porque, sinceramente, eu não faço ideia. - ele disse, a carranca de frustração se desfazendo em tristeza. - Tentei entender, mas isso não faz sentido.
Engulo em seco. Sua posição frágil me deixa sem ação, sem respostas. Quero dizer que nem mesmo eu entendo, mas provavelmente soaria como uma louca nesse momento.
Ao invés disso, suspiro e me sento na espreguiçadeira. Preciso de ar, preciso parar e pensar no que está acontecendo. Preciso me concentrar antes que diga ou faça qualquer coisa impulsiva.
- Podemos conversar? - ouço os passos de Luke em minha direção e o movimento suave da espreguiçadeira quando ele se senta ao meu lado. - Só alguns minutos.
Mas eu sabia que não seriam só alguns minutos. Haviam se passado dias desde que o vi pela última vez e havia tanta coisa na minha cabeça, tanta coisa para esclarecer e discutir... Nada mais do que tinha pensado parecia fazer sentido, a vida sem Luke não parecia fazer sentido agora, mesmo com o risco de tudo dar errado.
Era difícil pensar quando Luke estava tão perto. Meus sonhos e imaginações não faziam jus à sua verdadeira essência. Seu cheiro me invadia e o calor que irradiava se sua pele em direção à minha me fazia querer tocá-lo.
- Margot?
- Eu preciso pensar! - protesto, me levantando da cadeira. - Preciso pensar, preciso de um pouco de espaço.
- Um pouco de espaço? Mais do que a droga do oceano inteiro? - ele se levantou abruptamente. - Quanto mais espaço você precisa, Margot, porque eu não consigo ver onde mais eu posso ir para poder dar o espaço que você tanto quer!
Engulo em seco pela segunda vez, sem coragem de olhar em seus olhos.
- Tudo o que eu estou pedindo agora é que você acabe com isso. Aqui. - suspira pesadamente. - Se puder dar um fim nisso agora, eu vou embora. Não precisa mais se preocupar em tudo dar errado, não precisa mais se preocupar com a porra do seu ex. Mas se você não quiser, tudo o que eu peço é uma conversa. Vamos conversar e resolver isso. De alguma forma, vamos resolver.
Finalmente o olho, encaro a intensidade com a qual ele faz o mesmo. Sua respiração está ofegante, seus olhos brilham com a adrenalina do momento, suponho. Meu coração bate cada vez mais rápido e antes que posso responder alguma coisa, refaço minha pergunta.
- Por que você veio?
Ele fecha os olhos momentaneamente e vejo seu pomo-de-Adão se mover antes de falar.
- Vim consertar as coisas. Vim para conversar. - e então seus olhos se abrem. Brilham mais que antes, como se fosse possível. Sua voz é baixa e contida. - Me desculpa por mentir, não queria parecer um... psicopata.
Vejo a vergonha em sua expressão e me sinto um pouco melhor. Toda essa contradição de sentimentos, esses altos e baixos que faziam minha mente parecer perturbada parecia ficar cada vez mais constante. Não era suposto eu me sentir mais relaxada ao vê-lo assim, mas eu sentia. Era egoísta, mas me fazia pensar que talvez, desse jeito, ele se importasse mais. A culpa vinha logo depois, a sensação dilaceradora de saber que eu causava a dor nos seus olhos. Era um misto de emoções, uma confusão que não me permitia pensar direito.
- Tudo bem. - balanço a cabeça algumas vezes, encarando o chão. - Vamos conversar.
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Capítulo curtinho pq achei que estava mt tempo sem postar hihi
Espero que gostem
São 3h da manhã então n consigo pensar em mais nada para comentar
Vou soltar uma pergunta: qual a música fav de vcs de CALM?
Se cuidem, fiquem bem!
beijoooos e até daqui a pouco ;)
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Madrid || l.h.
Fiksi Penggemar{Livro dois de "Maldives"} Depois de o pior cenário acontecer, Margot se sente perdida e decide que é mais sensato se afastar da confusão de sua vida amorosa por um tempo. Sendo coincidência ou atos propositais, ela não sabia, mas não conseguiria fi...