Abro os olhos, acordando de um sono bom como nunca antes havia dormido. Olho em volta. Estou no meu quarto. Estou na casa dos Miller. Meus lábios imediatamente se esticam em um grande e feliz sorriso por saber que não estava sonhando. É real. Real mesmo. A noite passada foi mágica. Joan e Shawn preparam um delicioso macarrão com queijo para o jantar, Paige fez alguns bolinhos de chocolate com recheio de nata e morango. Na mesa de seis lugares, me sentei ao lado da garotinha assustadoramente amável, o que desencadeou em um longo diálogo sobre moda.A garotinha é jovem ainda, porém entende bastante sobre o assunto. Sendo o ogro que sou, para mim ela falava uma língua desconhecida. Eles se esforçaram para formar um assunto agradável enquanto jantávamos e, devo admitir que obtiveram sucesso. Apesar de não ter-lhes dado respostas muitas longas, me senti estranhamente bem. Quando terminei de comer, fui lavar meu prato, copo e talher, o que deixou Joan surpresa. Ela disse que eu podia deixar na pia que ela lavava tudo junto, mas insisti tanto para que me deixasse lavar pelo menos a louça que usei que a estilista cedeu.
Mais tarde, ela e Shawn fizeram uma breve visita ao meu quarto quando já estava deitado. Fizeram perguntas do tipo: “como você está? ” “não está com frio? Quer outro cobertor?” “gostou do dia de hoje?”. A verdade é que eles pareciam tão embaraçados e sem saber muito bem o que dizer quanto eu. Logo, acenaram para mim da porta e se retiraram. Não demorei a cair no sono.
Eu, sinceramente, não imaginava que teria uma família seria capaz de me dar uma segunda chance para amar e ser amado. Não imaginei que seria tão bom ter pessoas ao seu lado que se importam com você e que querem de verdade saber do que você gosta e do que não gosta. Gosto deles. De verdade. Mas ainda tenho medo de me apegar demais e acabar abandonado de novo. Sei que não poderia culpá-los se isso acontecesse. Isso não faria deles más pessoas.
Me levanto da cama e vou direto tomar um banho quente. Retorno ao quarto com uma toalha enrolada na cintura e olho pela janela. A rua está cheia da neve que caiu noite passada. Sempre que vejo neve, me lembro que nem uma vez brinquei verdadeiramente nela, como todas as outras crianças. Perdi a conta de quantas vezes testemunhei pais brincando com seus filhos na neve e senti uma profunda inveja por nunca ter tido isso. A palavra “nunca” encaixa-se bem na minha vida.
Menos de meia hora depois, desço as escadas e vou direto para a cozinha. O cheiro de ovos mexidos com bacon faz meu estômago dar sinal de vida. Joan já está muito bem vestida com roupas chiques e usa um avental vermelho enquanto bate a massa de panquecas. Shawn está encarregado dos ovos. Estão tão concentrados em sua tarefa que pareço invisível.
Me sento e apoio os cotovelos na bancada de mármore, coloco o queixo na mão e fico pensando se devo me manifestar ou não. Por alguns minutos, aprecio a visão que tenho deles. Mal posso me recordar da última vez que comi uma comida de mãe ou pai. Meus pais não costumavam cozinhar com frequência e sua comida não era boa.
— Oi, Adam! — Cumprimenta Joan, exibindo um sorriso carinhoso — Não te vimos aí, querido.
— Desculpa. Não queria atrapalhar.
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Feliz natal, Adam
Short StoryAdam é um garoto de quinze anos que vive em um abrigo desde os oito, quando seus pais o abandonaram e nem se deram ao trabalho de olhar para trás. Adam havia perdido as esperanças de ser adotado por uma família. Afinal de contas, os casais só têm ol...