Ajudo Joan a carregar as sacolas para dentro de casa. Tínhamos ido ao mercado há algumas horas porque ela queria comprar as coisas para a ceia de Natal, mas ela já aproveitou e comprou também para o Ano Novo. Talvez por isso eu esteja, literalmente, cheio de sacolas pesadas nos ombros, braços e mãos. Sigo-a até a cozinha, onde ela diz para deixar tudo na bancada.
Conforme vou largando as compras, sinto aquele peso sair de mim, mas em compensação, deixando o lugar reservado para o cansaço. Shawn levou Paige com ele para encontrar noz moscada e cogumelos, que não se encontram nos estabelecimentos mais próximos. Pelo que entendi, esses cogumelos e as nozes são o segredo dos Miller na ceia de Natal, mas não pedi mais detalhes.
— Obrigada pela ajuda, querido. — Agradece Joan, tirando alguns legumes de uma das sacolas.
— Não foi nada.
— Ah, você quer chocolate quente? Estou morrendo de vontade de beber um. — Sua voz é animada e alta.
É impossível não sorrir com a expressão de criança travessa que preenche seu rosto oval.
— Eu adoraria. — Respondo, massageando o ombro direito que ficou um pouco dolorido.
Apesar disso, nunca me senti tão feliz na vida. Fui ao mercado com a mulher mais próxima de uma mãe que eu tenho pela primeira vez. Foi divertido ajudá-la a empurrar o carrinho que, de tanta coisa, já devia pesar uns dez quilos a mais. Jamais imaginei que precisasse comprar tanta coisa para a ceia. No abrigo, fazíamos presunto, arroz e alguma salada na ceia.
Em pouco tempo, um aroma de chocolate e canela invade o ambiente e meu estômago implora para provar essa delícia o quanto antes. Joan despeja o liquido quente e extremamente cheiroso numa xícara branca, em seguida coloca três marshmallows e faz um sinal com a cabeça para eu pegar. Assoprei para esfriar um pouco antes de dar o primeiro gole.
A verdade é que é a primeira vez que tomo um chocolate quente na vida. Desde que estou com os Miller’s, me sinto como se estivesse sendo a criança que nunca fui. Descobrindo novos sabores, experimentando novas atividades e, acima de tudo isso, recebendo muito carinho deles. Joan e Shawn sempre vão me ver antes de dormir e desejam boa noite. Eles sempre me abraçam de manhã quando desço para o café. Na verdade, quase todos os dias eles demonstram seu afeto por mim, através de palavras e gestos, mas eu não sei mesmo como retribuir. Não estou acostumado a ser amado ou a amar. Tudo isso é uma novidade pra mim.
Noite passada, eu não conseguia dormir e fiquei olhando o céu através da janela. Mirando aquelas inúmeras estrelas, me peguei me lembrando da noite em que vi uma estrela cadente e desejei – como se acreditasse em contos de fadas – ter uma família. E, no outro dia, esse casal apareceu no abrigo e logo se mostraram interessados em mim. Por mais que eu não acredite em magia, estou começando a me perguntar se aquela estrela não tem nada a ver com a minha adoção.
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Feliz natal, Adam
Short StoryAdam é um garoto de quinze anos que vive em um abrigo desde os oito, quando seus pais o abandonaram e nem se deram ao trabalho de olhar para trás. Adam havia perdido as esperanças de ser adotado por uma família. Afinal de contas, os casais só têm ol...