Capítulo 3: Uma mudança muito boa

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“Adam, nós vamos adotá-lo”

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“Adam, nós vamos adotá-lo”. 

Nunca pensei que dezenove letras fossem virar meu mundo de cabeça para baixo e em tão pouco tempo. O que o sr. Miller me disse aquele dia ainda me surpreende, me deixa um pouco assustado, até. De início, imaginei que estivesse curtindo uma com a minha cara. Afinal, por que um casal jovem e simpático como eles me adotaria? O que eles viram em mim que os fez querer que eu fosse um membro de sua família? Sinceramente, se eu me fizer tais perguntas mais vezes, acho que corro o risco de ficar louco. 

Hoje é o dia que eles vêm me buscar e eu ainda não acredito. É como se estivesse nas nuvens. Aquele dia, depois que descobri que seria adotado, eles ainda conversaram comigo durante um bom tempo. Queriam saber tudo sobre mim e eu me senti surpreso por contar à eles quase tudo. 

É claro que omiti o que passei com aqueles dois que diziam ser meus pais. Apesar de que, pela primeira vez em anos, ter me sentido confortável para falar à respeito, o silêncio me pareceu a melhor opção. Não faço ideia do que eles viram em mim para quererem me adotar, mas seja lá o que for, não desejo que mude por causa do meu passado. Um passado que só fica mais difícil de esquecer nessa bendita época do ano. É quando as lembranças surgem como uma avalanche destruindo minha frágil estrutura emocional e ameaçando pôr abaixo a postura que luto para manter. 

— Cara, não esquece esses gibis. — Alerta meu amigo. 

Nick me lança os três gibis que tenho do Superman. São bem antigos, tanto que suas páginas já estão se rasgando. Assim que cheguei ao abrigo e a diretor me jogou neste quarto, essas histórias em quadrinhos deram cor aos meus dias mais sombrios. 

— Pode deixar, cara. — Coloco-as na mochila e fecho o zíper. 

Como não tinha muitas roupas, todas couberam com facilidade em minha mochila preta sem grandes detalhes. Mochilas novas foram um presente da srta. Monstros SA para a gente, de Natal já antecipado. Faltam duas semanas para o mesmo. E, ainda que seja improvável, gosto de pensar que poderia passar essa data festiva ao lado de uma família, recebendo muito amor. Pensamentos bons demais para alguém ferrado como eu. 

— Vou sentir saudade, Adam. — Nick me dá um abraço apertado. 

— Acho que não vai precisar sentir saudade por muito tempo, amigo. Duvido que eles vão querer...

— Adam, não! — Se afasta deixando as mãos em meus ombros — Não faça isso com você. Não estrague uma coisa boa que está acontecendo na sua vida porque acha que não é merecedor. Você é. Todo mundo merece ter uma família, cara. Ainda mais no Natal. Me promete uma coisa? — Coloca a mão direita no meu rosto. Assinto, sentindo a emoção da despedida tomar conta de mim. — Promete que vai deixar eles quebrarem a barreira e se aproximarem. Promete que não vai estragar tudo por medo. 

Eu construí um muro em minha volta há anos. Nick sempre soube disso. Talvez por ele mesmo ter construído o seu próprio muro no primeiro ano aqui, mas algo aconteceu que o fez baixar a guarda, diferente de mim. Promessas são feitas para serem cumpridas. Esse malandro sabe que acredito veementemente nisso. Me sinto entre a cruz e a espada. 

Feliz natal, AdamOnde histórias criam vida. Descubra agora