Tudo isso ainda parece irreal para mim. Quando Adam me ligou aos prantos, fiquei tão desesperado que mal conseguia respirar, pior ainda quando soube do acidente envolvendo a Paige. Contei para Joan só o que Adam teve condições de me contar e corremos para o hospital já esperando o pior. Adam pediu perdão e disse que foi culpa dele.
Minha esposa tratou de consolá-lo, mesmo que ela estivesse inconsolável e apavorada. Ela foi uma verdadeira mãe e tenho vontade de bater em mim por esperar que não fosse assim. Eu, porém, me afastei e fiquei só observando os dois.
Depois que o médico disse que nossa pequena está em coma e que bateu com a cabeça, aí eu tive certeza que o mundo desabava ao meu redor. Minha doce menininha nunca fez mal a ninguém. Tão pequena e indefesa... Não merecia isso. Talvez por causa da dor destruidora que estava sentindo aproveitei para descontar no meu garoto.
(...)
— Você perdeu a razão? Como pode dizer isso? — Minha esposa se segura para não gritar.
— E eu menti? Se Adam tivesse ficado com nossa filha isso não teria acontecido. — Falei seco, olhando em seus olhos que me fuzilavam sem piedade.
— Está culpando ele? — Questiona, incrédula.
— Ora, Joan! Seja racional. Ele não deveria ter deixado minha filha sozinha e você sabe muito bem disso. Droga, o garoto nem é nosso filho! — Esbravejei.
Foi o estopim. Joan esbofeteia meu rosto com tanta força que dá um estalo e preciso virar a face. Ela me encara e é como se chamas saíssem de seus olhos. Sua expressão está furiosa, a respiração pesada. Nunca em todos os anos que estamos casados a vi assim. Percebendo meu olhar de surpresa, ela começa:
— Sabe por que eu fiz isso, Shawn? Porque uma mãe é capaz de tudo pelos seus filhos. Uma mãe não aceita que ninguém, absolutamente ninguém, fale mal dos filhos dela. Uma mãe não quer saber se o filho está certo ou errado, ela vai defendê-lo com unhas e dentes e repreendê-lo depois se ele estiver errado. Uma mãe, não importa o que aconteça, ama incondicionalmente seus filhos porque sabe que eles são a maior bênção do universo! Mãe não é aquela que traz uma criança ao mundo, mãe é aquela que cria e ama, Shawn. E eu amo o Adam. Ele não saiu do meu ventre, mas fez parte do meu coração desde a primeira vez que o vi. Sei que estou desempenhando o meu papel de mãe, mas e você? Está desempenhando o seu papel de pai? Se ia esbravejar que ele não é nosso filho no primeiro deslize que ele cometesse, por que quis adotar? Para fazer caridade? Para dar um lar a um pobre adolescente?
— Joan, você sabe que eu não sou assim. — Minha voz saiu em um fiapo.
— Pois está parecendo ser! — Ela se aproxima e olha no fundo dos mais olhos — Shawn, eu entendo perfeitamente como está se sentindo. Eu também estou assustada e apreensiva pela nossa pequena, mas não podemos ficar descontando em todo mundo. Principalmente no Adam. O que une as pessoas não é o laço sanguíneo, é o laço do amor. Adam precisa de nós e nós precisamos dele. A última coisa que quero é desentendimentos e acusações neste momento.
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Feliz natal, Adam
Short StoryAdam é um garoto de quinze anos que vive em um abrigo desde os oito, quando seus pais o abandonaram e nem se deram ao trabalho de olhar para trás. Adam havia perdido as esperanças de ser adotado por uma família. Afinal de contas, os casais só têm ol...