— Sinto muito, senhorita Hunt, já passara do limite do atraso.
A mulher de cabelos frisados explicava calmamente e cada palavra era dita como se a capacidade intelectual de Maxine fosse equivalente a zero. Desde o momento em que pusera os pés dentro da universidade, era como se ela apenas dissesse estas mesmas palavras. Maxine até começara a achar que a criaram em um laboratório de tecnologia, e sua caixa de voz se limitava a dizer aos alunos que não podiam entrar. Já que Maxine Hunt não fora a única a tentar entre depois do atraso limite.
Logo, os seus óculos encontrados estupidamente na ponta do nariz, que dificultavam um pouco a leitura dos documentos sob a mesinha, já enfureciam a garota.
— Eu sei, a senhora já repetiu isso várias vezes. Mas é importante. — Max fala por entre dentes.
— O limite de atraso é para ser respeitado. Se não respeitado, a universidade não permite a sua entrada. — a mais velha avisa novamente, ainda de forma lenta.
Após isso, num ato quase que automático, as mãos de Maxine batem com força no balcão, atraindo a atenção de todos.
— Eu sei disso, fui avisada! — Max suspira, percebendo a maneira assustada que as pessoas lhe encaravam. — Escuta, peço desculpas. Mas eu não posso perder mais um dia de aula.
Apesar do tom de voz que transbordava súplica, o rosto suado de Max e suas calças sujas e rasgadas, o pedido desesperado não provoca o efeito esperado. Pois a única coisa que ela consegue arrancar da senhora é seus lábios se curvando numa linha reta e um olhar fuzilante.
— Saía daqui imediatamente, ou será necessário que eu chame os guardas? — ela questiona, erguendo uma de suas sobrancelhas.
Maxine arregalou os olhos. O seu lado teimoso e insistente lhe dizia para continuar tentando coagir a senhora, porém se fosse presa, os atrasos não seriam mais problemas, já que a traria uma expulsão imediata. A garota arruma a alça da mochila que caia, e afasta lentamente do balcão.
Enquanto se apressava para sair dali o mais rápido possível, Maxine tentou listar todas as desculpas que poderia utilizar com sua mãe, mas não havia nada que a mesma não tenha ouvido e decorado durante o colegial. O motivo de tantas fugas e inconveniências naquela época, não envolvia alguma falta de interesse pelo estudo. A realidade da morena eram os ataques de fúria constantes devido as piadas ácidas de seus colegas. Não os aguentava, nem sequer ouvir suas vozes por horas.
Os seus colegas de faculdade também não se encaixavam no termo suportáveis, mas agora, Maxine tinha a completa certeza de que preferia estar sentada junto a eles, estudando para um teste que provavelmente fora marcado pelo professor. Ao invés do seu estado atual, caminhando com os braços largados e totalmente desanimada. A frustração consumia o corpo de Maxine, e a única forma de pôr um fim nela, se baseava numa grande xícara de chá. E era o que Max pretendia fazer, seguindo a direção contrária da instituição, a qual a levaria para sua doceria favorita, que por acaso, também servia chá.Durante o trajeto, os olhares das pessoas que passavam, se concentram na Hunt. Pois assim como o restante de suas características, a mania de resmungar quando irritada, foi adquirida de seu falecido pai. A cada passo, Maxine resmungava sobre o quão grosseira a senhora do balcão, tinha sido, e todos a observavam com curiosidade. A garota permaneceu fazendo isso, até um estabelecimento que se destacava dos outros, chamar sua atenção. Diferente da aparência moderna e futurística de San Fransokyo, a doceria com detalhes simples, parecia ter saído de um filme francês. Talvez porque a proprietária sempre quis manter as lembranças de Orleães, e encontrou uma forma através da criação daquele lugar.
A cor amadeirada, e a plaquinha na frente, com as promoções do dia, fizeram Maxine suspirar. Um bom pedaço do famoso bolo de chocolate, acompanhado do chá, apagaria as suas preocupações. Pelo menos, até chegar em casa, e enfrentar um longo discurso de sua mãe sobre atrasos e irresponsabilidade.
O pequeno sino na porta, tocou, anunciando a todos que alguém havia entrado. Maxine Hunt olhou ao redor, antes de caminhar na direção do atendente. Algumas pessoas conversavam animadamente, e outras apenas aproveitavam os seus pedidos. Já o atendente, um homem atrás da caixa registradora, aparentava ter a mente distante dali. Mas, quando notou a presença de um novo cliente, aprumou-se.
— Bom dia, senhorita. Como posso ajudá-la? — apesar de parecer um pouco forçado, um sorriso iluminou seu rosto.
O bigode perfeitamente arrumado, mexia-se enquanto ele falava.— Chá gelado, e aquele bolo de chocolate. — Max apontou para o doce que estava quase acabando. Ela sequer precisou procurá-lo, considerando que sempre o colocavam no mesmo lugar.
— Ótimo. — o atendente balança a cabeça em confirmação, e começa a calcular o custo na registradora. — Fica $10,00.
— Certo.
Maxine puxou a mochila das costas para que pudesse pegar a carteira. Por consequência, ela repara a existência de alguns rasgos em sua frente, e então, surge a lembrança do cara bonito que lhe atropelou. A frustração de não ter chego a tempo na universidade, e a senhora da recepção a tratando como uma deliquente, fizeram com que a morena se esquecesse desse fatídico acontecimento. Durante um tempo, ela se pegou imaginando se o veria novamente, e revirou os olhos diante esse pensamento.
Maxine volta a busca pela carteira, e quando encontra, tem uma certa dificuldade de tirá-la de baixo dos cadernos que carregava. Suas tentativas são falhas até arrancar o objeto. Ela sopra as madeixas que caíram em seu rosto, durante sua luta, e em seguida, pega algumas notas.— Olha, eu só tenho $9,50. — Maxine franze a sobrancelhas, enquanto mostra o dinheiro para o atendente.
— Sinto muito, senhorita. Não sou permitido a fazer descontos naqueles que não estão no cardápio de promoções. — ele avisa de uma forma delicada.
É quase possível escutar as esperanças de Maxine de ter algum ponto positivo em seu dia, se destruindo com a fala do homem.
— Eu sempre venho aqui, e a sua chefe me conhece. Por favor, eu prometo que pago amanhã. — Maxine junta as mãos numa súplica, deixando a carteira cair no chão.
— Senhorita, você sabe que eu não posso fazer isso.
Parte das pessoas que estavam no estabelecimento, já olhavam os dois, intrigados com o que acontecia. O atendente implorava mentalmente para que Maxine desistisse. Mas a única coisa que ela faz é alcançar sua carteira, e voltar a olhar o homem, com uma expressão que o fizesse ceder. Seu cabelo se encontrava mais bagunçado que anteriormente.
— Eu tive um dia muito difícil, quase fui atropelada e ainda, não consegui entrar na aula que eu detesto. E todo mundo sabe que terminar um dia estressante com um bolo desse lugar, é a melhor coisa. — Maxine desaba em cima do balcão, assustando o atendente. Estava tão cansada que nem se importava de estar contando o seu dia para um desconhecido.
— Me desculpa mesmo. Mas eu nã-.
— Tá tudo bem. Eu pago.
A voz um tanto familiar para Maxine, a faz sobressaltar. No momento em que se vira, os olhos da garota se arregalam com a pessoa diante dela. Era Noah Warren, seu melhor amigo na época que estudavam no Instituto San Fransokyo de Tecnologia. Ele havia crescido alguns centímetros, e aparentava estar mais extrovertido do que outrora, mas Max nunca se esqueceria da pessoa que esteve ao seu lado até seus mundos se distanciarem.
— Oi para você também, Super Max.
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TEMPO ▷BIG HERO 6
Hayran KurguA ciência e a tecnologia sempre estiveram ao redor de Max Hunt. Sua mãe era uma cientista, enquanto o pai trabalhava em invenções que poderiam ajudar as pessoas. Infelizmente, Tim Hunt colocava seu trabalho acima de tudo, até da saúde e de sua famíl...