4. Fuga

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  As saídas de emergência se encontravam espalhadas pela boate e a mais próxima estava ao lado oposto da escada. Teríamos que atravessar e, por mais que as luzes piscassem, o sangue em minhas mãos já havia se espalhado para os braços, impossível de esconder. 

 - O que foi? - perguntou Noah quando parei na metade dos degraus e eu apenas acenei com uma das mãos. - Me abraça.

 - Quê?

 - Anda, vem cá - ele esperou eu me aproximar e fez com que eu o envolvesse em um abraço de lado, de modo que minhas mãos ficaram por baixo da jaqueta que usava.

 Uma batalha acirrada era formada dentro de mim: o que caralhos estava acontecendo? Nada fazia sentido, tudo parecia não passar de um sonho... ou um pesadelo.

 - Psiu - chamei a atenção dele enquanto caminhávamos de uma maneira que deveria parecer casual. - A gente não pode simplesmente ir embora assim, vai ser estranho o fato da gente estar lá em cima de não ouvir nada com a porta escancarada.

 - É... O que você sugere?

 - Parece que eu fiz uma das melhores escolhas da noite, não é mesmo? - Josh gritou assim que nos viu. - O quarto fez bem pra vocês, pelo visto!

 - Sim, foi ótimo, calanguinho - sorri. - Só que a gente não ficou lá, o sofá foi bem melhor.

 - O sofá? Vocês não entraram no quarto do fogo? - a calopsita parecia confusa.

 - O que tinha lá, afinal? Uma cama em formato de coração e umas algemas? - perguntei tentando soar irônica.

 - Quando eu subi já estava ocupado, babe - ele sorriu para Josh.

 - Sério? - ele parecia ainda mais interessado. - Quem?

 - Não sei, mas acho que teve alguma briga feia. Sabe o Raven? Acho que ele estava no quarto com a namorada daquele amigo dele grandão. Quando eu estava indo pras escadas vi ela descendo e logo depois ele subiu.

 - Eu ia pedir ajuda, mas o Noah disse que isso é normal por aqui... O que é bem estranho.

 - Ele tá certo, Gey, isso sempre acontece nas festas - Josh riu.

 - Deve ser por isso que eu nunca saio de casa - revirei os olhos.

 - Bom... acho que a gente já vai.

 - A festa vai começar de verdade agora, não é? - Joshua estava com aquela carinha idiota de criança de 12 anos que quer zoar o amiguinho.

 - Acho que você pode perguntar isso pra outra pessoa - sorri e gritei o nome da sua paixão. - ANY!!!

 - Meu deus, cala a boca, Geysa! Vai dar um jeito nessa garota logo, mozinho.

 - Pode deixar que eu vou, tchau.

 Josh se aproximou pra um abraço e Noah me apertou contra si, fazendo com que Josh percebesse que ele não iria me soltar.

 - Sou um cupido realmente maravilhoso! - ele sorriu e apenas deu um tapinha no ombro de Noah antes de desaparecer pela multidão.

 - Problema resolvido, vamos embora logo - sussurrei.

 Caminhamos o mais rápido possível e atraindo todos os olhares. Maldito Urrea. Até quando me ajudava, ele conseguia de alguma forma me fazer ficar com raiva. Saímos da boate e fomos até o estacionamento.

 - Obrigada, Noah - tentei não olhar em seu rosto enquanto suas mãos ainda me seguravam. - Eu vou indo...

 - Eu te deixo em casa, você não parece bem pra dirigir.

 - Não vou pra casa. Eu disse que voltaria a tarde amanhã e meu pai acorda com qualquer barulhinho, sem chances de esconder essas luvinhas aqui - ergui a mão.

 - E pra onde você vai?

 - Sei lá, num hotelzinho barato pelo caminho.

 - Geysa, olha pra mim - ele murmurou.

 - O que foi? - o encarei a contragosto. Seu rosto tinha a mesma expressão fria e impassível de sempre, o que me fez voltar a mim mesma.

 - Pode confiar em mim por uma noite?

 - Não - me desvencilhei de seu abraço. - Mas obrigada pela ajuda, tchau.

 - Nada disso - Noah segurou minha mão, que compartilhou um pouco do sangue que ainda não estava seco com a dele. 

 - Me solta! - puxei minha mão - Você vai se sujar se ficar pegando em mim, vá embora.

 - Entenda uma coisa, - seu olhar agora era tão intenso que parecia capaz de enxergar através de mim - eu sujei minhas mãos de sangue no momento em que eu passei por aquela porta. Estamos juntos nessa, queira você ou não.

 - Não é como se uma garrafada matasse alguém, Noah. 

 - Exatamente, aquele cara vai se lembrar perfeitamente do que viu antes de cair.

 - Pra onde vamos?

 - Confia em mim? - perguntou ele mais uma vez, com um olhar tão profundo que o poço da Samara teria inveja.

 - Não tenho escolha.

 - Sim, você tem.

 - Ok, eu confio, Urrea.

 Entramos no carro dele pois as chaves do meu estavam na bolsa de Carol e eu não queria envolver mais ninguém em toda aquela bagunça, nem deixá-la na viação canelinha. Seu jeep preto era extremamente confortável, seria adorável dar uma voltinha nele em outro contexto. Noah ligou o som para preencher o vazio que a ausência de palavras deixava entre nós e logo estava cantarolando baixinho, embora sua expressão continuasse a mesma.

I'm a prisoner to my addiction
I'm addicted to a life that's so empty and so cold
I'm a prisoner to my decisions

Eu sou um prisioneiro do meu vício
Estou viciado em uma vida tão vazia e tão fria
Eu sou um prisioneiro das minhas decisões

 Já passava das duas da manhã e as ruas estavam completamente desertas. Após alguns minutos, que pareciam séculos, Noah parou o carro na frente de uma fachada cintilante.

 - Noah, eu não sei se eu quero ver mais alguma luz de neon na minha frente.

 - Lá dentro não vai ter nenhuma luz ofuscando sua visão, fique tranquila.

 - Onde estamos, afinal? - perguntei enquanto tentava enxergar as palavras no meio de todo aquele pisca-pisca irritante.

 - Não precisa se preocupar - ele deu um sorriso fraco e em segundos estávamos na entrada de carros da luzinha de natal em forma de parede.

 - Documentos, por favor? - perguntou um homem de idade mediana que se encontrava numa espécie de guarita.

 Em resposta Noah apenas abaixou o vidro, ao que o homem apenas deu um sorriso de lado e logo o portão estava aberto para que passássemos. Enquanto isso, eu olhava em meu celular onde estávamos e... maldito Urrea.

 - Noah... - respirei fundo. - Por que caralhos a gente está em um motel?

A Little DeathOnde histórias criam vida. Descubra agora