2. Certas Coisas Nunca Mudam

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 Ficamos nos encarando pelo que pareceram horas, mas não passaram de segundos. Os segundos mais longos que eu já tive o desprazer de vivenciar. Noah estava com um sorriso estampado no rosto, que se desfez rapidamente assim que me reconheceu. Nada havia mudado. Eu estava certa. Mas porque isso não me deixou nem um pouco contente?
Urrea me observou de cima a baixo, assim como a maioria dos rapazes desde que eu chegara. O desprezo em seu olhar, assim que nossos olhos se encontraram novamente, fez com que um sorriso incrédulo surgisse em meu rosto. Foda-se, pensei. 
Andei lentamente em sua direção, sustentando a troca de olhares que diziam algo que nem eu mesma sabia dizer o que era. Ao chegar perto o suficiente, murmurei a centímetros dele:

- Seu zíper está aberto – e após um último sorriso repleto de escárnio, entrei no banheiro.

Era bom poder respirar novamente, apesar do cheiro estranho que sentia. Não é como se eu me importasse com o fato de ele estar fodendo garotas por aí e depois agindo como se nada tivesse acontecido, as ignorando por completo. Eu não sentia ciúmes dele, mas aquele olhar me incomodava, principalmente pelo fato de eu não saber o que o motivava. Éramos adultos agora, não havia sentido algum em insistir nessa postura. Talvez eu devesse-

- SERÁ QUE DÁ PRA LIBERAR O BANHEIRO? MORREU AÍ DENTRO? – os gritos e os murros na porta interromperam meus pensamentos.
- Não precisa gritar – falei enquanto abria a porta.
- Ah... Tinha que ser... – Sabina Hidalgo, meu sonho e meu pesadelo da High School continuava extremamente linda, que inferno!
- Também estou feliz em te ver, Sabi – sorri e trocamos um abraço falso.
- Eu realmente preciso entrar – ela entrou rapidamente.

Sabina era simplesmente a garota mais popular não só do colégio, mas também da cidade inteira. Suas apresentações de dança eram as principais atrações dos eventos e sua personalidade oscilava frequentemente entre um amor de pessoa e uma completa insuportável. Era impossível estabelecer amor ou ódio, principalmente pra mim, pois pensava que ela só tinha um defeito: andar demais com Noah Urrea. Sabina era uma das poucas pessoas que tinham acesso livre a ele, tanto que cogitavam frequentemente se os dois não tinham alguma coisa além da amizade. Eu preferia acreditar que não. Por ela, obviamente.

Voltando à realidade, logo estava de volta ao meu grupinho de amigos, ingerindo mais álcool e perdendo completamente a noção. Não é tão difícil fazer isso quando se é consideravelmente fraca para bebidas, de qualquer forma.

- Gey, você pode vir comigo? – Krystian perguntou enquanto mordia o lábio inferior.
- Pra quê? – questionei, com muita preguiça de levantar mais uma vez.
- Por favor! – insistiu.
- Tudo bem, tudo bem... – levantei e fomos para um cantinho não muito afastado.

Krys parecia ansioso e hesitante: os olhos fixados no chão e os lábios ainda sendo maltratados por seus dentes.

- Você tá bem? – perguntei afagando seu braço.
- Sim, estou ótimo – ele sorriu. – Na verdade, eu preciso muito te dizer uma coisa...
- Você sabe muito bem que eu começo a passar mal com esse tipo de frase de efeito, Wang!

E não era mentira, qualquer mistério, suspense ou algo do tipo me deixava apavorada: meu coração acelerava, minha respiração descompassava e o infarto vinha. Nunca chegou a vir, mas não era algo muito distante de acontecer.

- Me desculpe, mas não tem como começar a falar algo importante sem antes dar a entender que é algo importante, não é mesmo? – ele sorriu, lindo.

Não sei se comentei, mas Krystian era simplesmente maravilhoso da cabeça aos pés. Sim, da cabeça aos pés. Tanto o era que eu facilmente pediria um pack do pezinho para ele (não que eu tenha feito isso... ainda). Além de absurdamente lindo, ele também era muito talentoso e tinha uma voz... bom acho que já deu pra entender. Enfim, Krystian era o homem absolutamente perfeito – o murro no necrosado do Noah é real, apesar de se darem bem também. Pelo que podemos perceber, mesmo sem se aproximar tanto, Urrea se dava bem com quase todo mundo. 

A Little DeathOnde histórias criam vida. Descubra agora