Cada célula do meu corpo vibrava intensamente ao toque de Noah, seus olhos mais uma vez pareciam ver através de mim, fazendo com que me sentisse levemente indefesa. Suas mãos seguravam minha cintura com firmeza e a frieza da pedra onde ficava a pia causava arrepios em minhas costas. Meu peito movia-se rapidamente, apesar da tentativa falha de prender a respiração. Nossos rostos estavam a centímetros de distância. Hormônios. Malditos hormônios.
- Noah, eu... - comecei, sem conseguir desviar o olhar.
- Shhh - ele colocou seu dedo indicador em meus lábios.
- Não - sussurrei. - Eu sei exatamente o que está acontecendo aqui.
- Mesmo? - perguntou com os olhos cerrados enquanto acariciava meu rosto - O que é?
- Talvez a bebida esteja facilitando as coisas ou talvez seja apenas a bebida...
- Você está querendo dizer que alguma coisa está fazendo com que eu queira beijar você loucamente ainda que seja totalmente contra a minha vontade?Meu corpo reagiu imediatamente: minhas mãos subiram lentamente pelas costas dele, parando em sua nuca. Beijá-lo loucamente não soava nada mal... Porém totalmente contra a vontade dele sim.
- Sim, é exatamente isso - murmurei. - Esse quarto está cheio de fragrância afrodisíaca, Urrea. Mas não é como se você não soubesse.
E, contrariando todos os meus instintos, o empurrei para fora do banheiro e tranquei a porta. Eu precisava urgentemente de um banho para reorganizar as ideias e, obviamente, me sentir limpa novamente.
Após tirar o vestido e os sapatos, me encarei no espelho. As manchas de sangue em minha pele haviam secado completamente e a peça de tecido em minha mão simbolizava a lembrança de um passado recente, mas que parecia extremamente distante.
A água descia lentamente por meu corpo, aquecendo-o e limpando os vestígios daquela noite tão confusa. Fechei os olhos, esperando que aquelas gotas fossem capazes de limpar minha memória também. Impossível. O efeito do álcool parecia escorrer, deixando-me cada vez mais sóbria.
...
Saí do banheiro envolta por um roupão branco extremamente macio, Noah estava sentado na beirada da cama completamente concentrado no copo vazio em sua mão. Suspirei. Seus olhos voltaram-se para minha direção e ele deu um sorriso amarelo.
- Hum... Geysa? - murmurou quando passei por ele para deixar as roupas em um cantinho.
- Que foi? - perguntei, o encarando.
- Me desculpe.
- Tudo bem, a bebida faz essas coisas - sentei-me no divã carmim, que era tão confortável quanto parecia a cama na qual Noah estava sentado.
- Não... - ele levantou - Não se trata só disso.
- Não? - o encarei com curiosidade.Noah caminhou lentamente até mim, mordendo os lábios e com uma hesitação quase palpável.
- Você sabe que não - disse sentando-se ao meu lado. - E eu sei que você quer ter essa conversa.
- Talvez, Noah - suspirei novamente. - Mas não agora.
- Tem certeza?Seus olhos verdes exalavam uma sinceridade pura, que eu jamais havia visto nele. Naquele momento, Noah não parecia possuir gigantescas muralhas a sua volta. A genuinidade lhe caía muito bem, tanto que eu até me arriscaria a dizer que era bonito.
- Eu não sei, Urrea - sussurrei, sentindo o peso de todos os acontecimentos da minha vida em minhas costas.
- Você está bem? - sua mão tocou meu ombro cautelosamente, sempre hesitante.
- Eu... - respirei fundo - Não quero que me veja assim - levantei-me e corri para o banheiro.Não se tratava dele, não se tratava de ninguém. Eu odiava chorar. Cada lágrima que descia pelo pelo rosto parecia o transbordar da mais pura fraqueza e eu odiava me sentir fraca. Eu queria uma noite memorável e recebi uma. Jamais seria capaz de esquecer de tudo aquilo.
Toc toc.
Quem é?
Ha ha ha eu e você sabemos quem está batendo, não é mesmo?
- Geysa, por favor sai daí - disse Noah. - Eu quero te ajudar.
- Você já me ajudou muito pra uma noite, não se preocupe - murmurei entre soluços.
- Eu sei que desabafar te ajuda, não vou falar nada, apenas te escutar.
- Me ajuda?
- As pessoas, todas elas. Quero dizer, todo mundo se sente melhor quando bota pra fora.
- Ah, claro... Eu... Só preciso de alguns minutos.
- Destranca a porta, pelo menos.
- Eu não vou me matar, Noah.
- Nunca se sabe.Destranquei a porta por mera convenção. Eu não estava a costumada a ingerir tamanhas quantidades de álcool, logo poderia de fato passar mal. Chorei por aproximadamente 10 minutos e minha mente alternava entre Bryan Raven rodeado de caquinhos de vidro e a primeira rejeição que sofri. Era sempre assim: um gatilho bastava para que eu me lembrasse de todas as coisas ruins que me aconteceram e me deleitasse com um momento de total fragilidade. Após alguns minutos de hidratação facial com lágrimas de péssima qualidade, eu era uma nova pessoa.
Não dessa vez.
A angústia ainda tomava conta de cada célula de meu corpo.
Eu precisava urgentemente de um abraço.
Saí do banheiro e Noah não estava no quarto. Mantenha a calma, ele deve estar no carro. Deitei-me na cama e abracei um dos enormes travesseiros.
Escuridão.
Neon vermelho.
Escuridão.
Um labirinto.
Luzes piscando freneticamente.
Fagulhas de vidro perfurantes.
Um grito estridente.
Escuridão.
Correntes.
Imagens completamente desconexas formavam um sonho confuso. Um pesadelo, para ser mais exata. Geysa. Geysa. Geysa.
Eu conhecia aquela voz.
Geysa!
Meu corpo sacudiu levemente.
Geysa!
Finalmente consegui abrir meus olhos e Noah foi a primeira coisa que eu vi. Suas mãos seguravam meus ombros firmemente e sua expressão era indecifrável novamente.
- Você pega no sono bem rápido - disse, soltando-me.
- Onde você estava? - perguntei.
- Fui conseguir algumas roupas limpas pra gente, tinham umas peças íntimas comestíveis, mas não acho que seriam adequadas.
- Não mesmo - não consegui segurar a risada fraca que saiu pelos meus lábios.
- Parece que você está melhor.
- É... - olhei para o travesseiro ao qual ainda me agarrava - Acho que sim.
- Precisa de alguma coisa?
- Não, estou bem - sorri pra ele.Noah também sorriu e me encarou por alguns segundos. Não durou muito, alguma coisa titubeou dentro de sua mente e logo o sorriso desapareceu. Eles estava sério, mais do que nunca. Ele caminhou até o divã, onde sentou-se com a cara fechada.
- O que foi? - perguntei.
- Não é da sua conta - respondeu, totalmente ríspido.
- Quer saber de uma coisa, Noah? - levantei-me. - Estou de saco cheio dessas suas mudanças de humor.
- Eu estou de saco cheio de muitas coisas, mas não saio reclamando por ai.
- E o que EU tenho a ver com isso?
- TUDO! VOCÊ TEM TUDO A VER COM ISSO, GEYSA!E naquele momento, mais do que nunca, eu quis saber o que se passava na cabeça daquele cretino.
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A Little Death
RomanceDançar noite a dentro Uma vodka e uma sprite Um vislumbre de silhuetas Uma noite que nunca se esquecerão Toque-me, sim Eu quero que você me toque lá Faça-me sentir que estou respirando Sentir que sou humano