8. Razões&emoções

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 - Você não acha que isso é radical demais? - perguntou Josh.
 - Não, eu sei bem o que eu senti e não quero uma segunda dose.
 - Mas o que houve entre você e sua ex que te deixou tão traumatizado?
 - Bem... - hesitei, os flashes de memória em minha mente.
 - Não precisa falar se não quiser.
 - Obrigado.

 Nos dias que se seguiram comecei a evitar Geysa a todo custo e mantinha a maior distância possível. Não respondi nenhuma das mensagens dela e, após uma semana, ela desistiu de conversar.

 "O auxílio obrigatório já acabou, mas se precisar de mim pode me chamar."
 "Ei, desculpa te incomodar, mas tá tudo bem com você? Tenho te achado meio estranho, pra baixo, não sei."
 "Se eu tiver feito algo, pode me falar." 

 Eu queria respondê-la e agradecer por toda atenção, mas não podia. Era uma verdadeira tortura, que ficaria cada vez pior.
 O professor de biologia decidira aplicar um trabalho seguido de prova em dupla e a melhor parte era que ele escolheria as duplas. Como você deve imaginar, tive a sorte de ter a consagradíssima como minha dupla. 

 E foi aí que meu plano deu completamente certo.

 Apesar de extremamente simpática e preocupada com todos ao seu redor, Geysa tinha um limite, como todas as pessoas normais. A paciência dela acabou no momento em que veio conversar sobre o trabalho comigo.

 - Parece que somos uma dupla novamente.
 - É - não me dei ao trabalho de olhar para seu rosto, tentando parecer indiferente.
 - Qual seu problema comigo? - não respondi e ela bateu na mesa - Urrea, eu tô tentando ser legal com você, mas não tenho que aturar essa sua ignorância.
 - Não tem ninguém te obrigando - sorri.

 Ela me encarou por alguns segundos, um misto de emoções tomando seu rosto.

 - É, você tá certo - disse e saiu da sala.

 No dia seguinte, tive que trocar de dupla e, por sorte, Josh estava disponível. Ele não era lá muito bom em biologia, mas não era como se eu tivesse escolha: Gey solicitou a troca. A situação era incômoda, porém necessária.

 Em algumas semanas um boato rondava a escola: eu teria dado um fora nela, que revoltada desfez a dupla com o novato bonitinho. A partir disso, comecei a perceber uma quantidade estranha de meninas flertando comigo, sem sucesso. 
 Eu estava cada vez mais próximo de Josh e seu grupinho de amigos, que incluía algumas garotas. Sabina Hidalgo era uma delas e se encaixava perfeitamente no título de "garota popular rainha da escola sharpay evans", exceto pelo fato de não ser tão insuportável assim. Ela era muito amiga de Any Gabrielly, que era mais nova que todos nós e a paixão platônica de Josh. Éramos um grupo bem fechado e, constantemente, nos comparavam com o grupinho de Bryan Raven. Eles eram os mais populares, bonitos e "desejados", porém nada inteligentes. Eu considerava uma ofensa, mas Josh adorava a comparação. 

 Acabei me relacionando com algumas garotas, por pura pressão de Joshua, mas o vazio em meu peito parecia se tornar cada vez mais intenso. Eu me tornava cada vez menos apto a ter qualquer tipo de relacionamento mais íntimo emocionalmente, uma barreira se formava ao redor dos meus sentimentos. 

 No começo era estranho perceber que a ideia de amor estava me abandonando, mas com o passar do tempo, eu me acostumei e a ausência de emoções tornou-se algo trivial. Josh era a pessoa que não me deixava esquecer completamente de quem eu era: juntos brincávamos e éramos completamente idiotas, sem amarras. Ele se tornou meu melhor amigo e, após um ano, resolvi que era a hora dele conhecer minha frustrada história de amor.

 Estávamos em minha casa, meus pais haviam saído e minha irmã sabe-se lá onde andava. Era um de nossos sábados nos quais não fazíamos nada além de jogar, cantar e comer bobagens.

 - Ei... lembra que você me perguntou sobre meu último relacionamento?
 - Lembro - respondeu com a boca cheia de salgadinho, parecendo uma calopsita comendo semente.
 - Acho que você está pronto para saber - disse imitando a voz de um narrador de filme épico.
 - Pensei que esse dia nunca chegaria - sorriu, com os dentes amarelados de cheetos (a autora gosta de cheetos, se vc nao gosta, desgoste aí na sua casa).
 - Bem... havia uma garota muito linda no meu antigo colégio, ela era perfeita, sério. A dona do sorriso mais cativante que eu já vi. Nos aproximamos quando criaram um grupo de dança para representar a escola e logo nos tornamos amigos. Gostávamos das mesmas coisas, ríamos das mesmas piadas e nos divertíamos muito, tipo eu e você.
 - Então a gente vai namorar em breve? - Josh sorriu.
 - Quem sabe - sorri de volta e dei um tapinha em seu ombro. - Enfim, num belo dia nos beijamos e após alguns meses a pedi em namoro. O beijo dela também é perfeito... Estava tudo dando certo: eu tinha amigos que eu gostava e namorava uma garota incrível. Aí minha irmã conseguiu uma bolsa de estudos aqui e tivemos que nos mudar. 

 Antes da mudança, eu e ela nos sentamos e conversamos sobre o nosso relacionamento. Nós dois concordamos que seria muito complicado, principalmente porque estávamos acostumados a ter um ao outro sempre tão perto, mas que nosso amor conseguiria sobreviver. Pelo menos a gente tentaria.

 Eu gostava dela com todo meu coração, Josh. Faria quase qualquer coisa por ela e estava disposto a enfrentar o que fosse necessário para não perdê-la. Nos primeiros meses à distância era tudo maravilhoso: chamadas de mais de 3 horas, longas declarações de amor por mensagem. Estava tudo bem pra mim, pelo menos eu tentava acreditar nisso. Às vezes era uma tortura não tê-la perto, não poder chamar para ver um filme no sofá de última hora, mas eu poderia aguentar. Não é todo dia que você encontra a garota perfeita, certo?

 Já no segundo mês, após a gente se encontrar, as coisas começaram a esfriar. Ela parecia conversar no automático e eu sofria secretamente por isso. Eu me sentia fora de mim, um estranho em um corpo ainda mais estranho. Resolvi não reclamar, ela não era o tipo de pessoa que gostava tanto assim de webnamoro, talvez eu apenas estivesse carente demais. Com o passar dos dias eu ficava cada vez mais incomodado com a forma como estávamos conversando e, quando chegou a gota d'água eu resolvi parar de responder.

 Todas as vezes em que ela sumia por muito tempo eu ficava completamente louco de preocupação, com medo de algo ter acontecido ou um cara malhado, alto e loiro a ter conquistado. Ficar longe de quem a gente ama causa muitas paranoias e eu tentava esconder as minhas da melhor forma possível. 

 Foram 3 dias.

 Ela nem notou.

 No quarto dia era nosso "mêsversário" de 3 meses, apesar de estar chateado, resolvi mandar uma mensagem sobre isso, afinal fui eu quem não respondi.

Ela só respondeu na noite do dia seguinte, com as seguintes palavras:

 "Noah, precisamos conversar."

A Little DeathOnde histórias criam vida. Descubra agora