3. Quarto do Fogo

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 Naquele momento, o holofote iluminou a pessoa a minha frente: Noah Urrea, com uma expressão de ódio.

 - NÃO! - gritamos em uníssono.

 - Se não estavam dispostos a jogar não deveriam ter entrado na roda... - Josh cruzou os braços.

  Todos ao redor o ovacionaram. Aquele calanguinho maldito iria me pagar muito caro.

 - Escutem, vocês não precisam fazer nada - a calopsita dançarina sorriu - que não queiram... Só uns 20 minutinhos lá dentro e estão liberados.

 - Nem fodendo - Noah murmurou entredentes.

 E foi nesse instante em que o ódio tomou conta de mim e todas as bebidas começaram a fazer efeito tardiamente. Nem fodendo, Urrea? Vinte minutos seriam o suficiente para tirar algumas coisas a limpo ou, pelo menos, para que eu acabasse com aquela carinha bonita.

 - Onde fica esse tal quarto? - perguntei me levantando, enquanto os gritos animados recomeçavam.

 - Segundo andar - respondeu Josh e em seguida se dirigiu a Noah, que estava impassível, quando eu já estava caminhando na direção das escadas. - Pelo jeito teremos que mandar outra pessoa em seu lugar.

 O que eu estava fazendo? Havia sido completamente dispensada na frente de todos, uma humilhação. Não que eu não estivesse acostumada com a rejeição,  nem que eu me importasse de ter sido ele. Sendo sincera, eu não fazia ideia do que estava me aborrecendo tanto, mas isso não importava. Respirei fundo e deixei a música fluir.

I think I want your, your american tan

I think you're gonna be my biggest fan

Acho que quero seu, seu bronzeado americano
Acho que você vai ser meu maior fã

 No segundo andar havia uma espécie de sala com dois sofás pretos de couro reluzente e um longo corredor que dava para uma porta contornada por um fio de neon vermelho e com os dizeres "fire room" escritos com a mesma luz cintilante. Ao entrar, deparei-me com duas cadeiras e uma mesinha com algumas bebidas. O pequeno cômodo era iluminado por uma luz fraca avermelhada e um pequeno monitor que permitia escolher a música ambiente. Muito bem pensado, pensei. Enquanto eu observava o tal quarto do fogo, alguém bateu à porta. No final das contas, ele não era covarde. Abri a porta e, sem olhar em seu rosto, comecei a falar enquanto lhe dava espaço para entrar.

 - Em primeiro lugar, fique sabendo que eu quero estar aqui tanto quanto você e não tenho interesse ne-

 - Ei! - sussurrou, enquanto erguia meu queixo com o dedo indicador, fazendo-me encará-lo - Eu me pareço com o Urrea por acaso?

 Não era ele. Bryan Raven, alto, forte, rosto perfeito e um sorriso que causava tanto suspiro quanto o de Noah. Also, not my type. Muita areia para meu caminhãozinho, mas seu cheiro forte de álcool explicava todo o contexto.

 - Definitivamente, não - sorri. - Sorte a sua.

 - Não, sorte a SUA - ele acariciou meu rosto - porque hoje é definitivamente seu dia.

 - Wow, wow, wow, vamos com calma, Bryan - afirmei o empurrando para fora do quarto.

 - Estamos todos calmos, Gey... Apenas vamos conversar - disse enquanto voltava a me conduzir para dentro do cômodo.

 - Podemos conversar lá fora, tem uns sofás que parecem muito confortáveis ali na entrada, você viu? 

 - Tenho um lugar muito melhor pra você se sentar.

 - Melhor não, Bryan - voltei a empurrá-lo para fora do quarto, tentando esconder meu constrangimento. - Quem sabe em outra ocasião...

 - Infelizmente eu não posso esperar - ele disse enquanto conseguia, finalmente, entrar no quarto e trancar a porta, guardando a chave em seu bolso. - Você não tem como fugir de mim.

 O álcool em seu hálito estava tão forte que começava a me deixar tonta. Aquilo não parecia estar indo por um bom caminho. Mas... Eu queria uma noite incrível, não era? E ali estava, bêbado ou não, um dos caras mais bonitos da cidade. Eu precisava me permitir, precisava parar de pensar. A primeira vez é sempre ruim, não é mesmo?

É...

Talvez...

Estaria na hora de quebrar a minha única regra?

Se tiver dúvida: não faça.

Os braços fortes de Bryan começavam a apertar meus ombros. Não haviam mais dúvidas. Estava tudo perfeitamente claro.

 - Bem... eu... nunca fiz algo assim - comecei, enquanto tentava disfarçar meu nervosismo e sincronizava meu celular com a pequena tela. - Então se me permite, quero fazer algo especial.

 - Me surpreenda - ele murmurou enquanto pegava a bebida mais próxima.

 - Eu vou, pode ter certeza.

 Cast me far away
Play these little games
Actin' all okay

Me lance longe
Jogue estes joguinhos

Agindo como se estivesse tudo bem

 Bryan puxou-me pela cintura assim que as encontrou a seu alcance.

 - Estou começando a perder a paciência.

 - Eu disse que faria algo especial, preciso que você fique vendado - murmurei afastando-me.

 - Vou ganhar um lap dance? - ele sorriu de lado enquanto tirava a gravata frouxa de seu pescoço.

 - Score - sussurrei enquanto o vendava. - Está pronto?

 - Me dê seu melhor.

 CRACK

CRACK

CRACK

CRACK

 Os pedacinhos de vidro estilhaçado espalharam-se por todo o cômodo, assim como líquido que se encontrava dentro das garrafas. O sangue começava a escorrer, enquanto minha mente entrava em um loop de confusão completo. A adrenalina fazia com que todo meu corpo tremesse incessantemente, como se fagulhas de pura eletricidade corressem por minhas veias. Eu precisava sair dali, o mais rápido possível. Bryan estava tombado na cadeira e a chave da porta estava no bolso de sua maldita calça skinny. A tendência Zezé Di Camargo começava a me dar nos nervos. Enquanto eu tentava pegar a chave, o sangue pintava minhas mãos com um tom de vermelho vivo. 

 Destranquei a porta e, ouvindo a música ainda tocando, me toquei que meu maldito celular estava ficando para trás. Corri para pegá-lo e quando estava prestes a sair, a porta se abriu. Noah entrou lentamente encarando o corpo de Bryan por alguns segundos com o cenho franzido e, em seguida, dirigiu seu olhar a mim.

 - Eu... Eu juro que posso explicar! - balbuciei.

 Não houve tempo para explicações, um amigo de Bryan também chegara a cena do crime.

 - O que vocês fizeram? - gritou enquanto entrava no cômodo que parecia cada vez menor.

 - Eu... não é o que parece... Bryan... ele... - o nervosismo tomava conta de cada célula do meu corpo.

 - POIS ME PARECE QUE VOCÊ MATOU MEU AMIGO! EU JURO QUE VOU...

CRACK

Mais estilhaços espalhados, mas dessa vez eu não havia quebrado garrafa alguma.  

 - Temos que dar o fora daqui - disse Noah entredentes. - Agora.

A Little DeathOnde histórias criam vida. Descubra agora