Capítulo 8

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Lembrava-se de correr. Correr muito. Como se estivesse na procura de algo, ou melhor, de alguém muito importante. Havia algo em suas mãos, como uma folha de papel, talvez desenhada. E, aparentemente, o motivo de tanto correr era pra entregá-la, mas para quem?

'Mamãe!'

Uma figura rodeada de papéis importantes na mesa virou-se para vê-lo, falando algo que não pôde determinar o que era. Assentindo com um grande sorriso, ele gostaria de lembrar qual havia sido a reação daquela figura quando entregou o papel. Mas de repente tudo se tornou escuro e ele sentiu-se cair, quando a pessoa lhe deu as costas e pareceu chorar. Não havia sido empurrado fisicamente, mas foi como se sentiu. Caindo num poço sem fim, a escuridão o engoliu por completo.

'Mamãe!'

Arregalando seus olhos ao se sentar na cama, Damian acordou um segundo antes do seu alarme tocar, anunciando ser seis horas da manhã da segunda-feira. Ainda ofegante pelo sonho estranho, ele esfregou o rosto e forçou-se a levantar da cama, tendo em mente se arrumar para ir a escola. Mas quando passou em frente de sua mesa de estudo, parou ao ver uma data marcada com vermelho no calendário. Esfregando os olhos para poder ver melhor, ele inclinou-se contra a mesa, reagindo logo depois. Como poderia ter esquecido disso?! Seu pai voltava hoje!

Animando-se, ele correu para o banheiro e tomou um bom banho matinal, todo seu sono sumindo em questão de segundos após isso. O fim de semana havia passado feito um relâmpago depois de terem recebido alta. Levi se tornou um pouco mais quieto perto do Damian, mas o mesmo nem estranhou, acreditando que a consciência pesada do mais velho passou, já que fazia "dias" agora desde seu aniversário. No final da tarde de ontem, após terminarem de reorganizar as coisas, Levi e ele voltaram para casa e seguiram com sua rotina normal.

Após meia hora, ele saiu usando somente uma toalha ao redor da cintura, passando reto de onde estava a sua farda que havia separado ontem a noite. Pegando o primeiro par de roupas em sua frente, ele vestiu sua calça preta favorita junto de uma blusa cinza rapidamente. Terminando, ele se perfumou e enxugou seu cabelo, franzindo o cenho quando ficou todo bagunçado. Não querendo perder seu tempo com algo que só iria bagunçar ainda mais, ele levou a toalha para estender e após isso, saiu de seu quarto com a intenção de comer algo. Mas assim que pôs os pés fora do quarto, estranhou de imediato o silêncio ensurdecedor que tomava conta da casa. Olhando em volta, franziu o cenho ao não encontrar Isabel em canto nenhum. Já não devia ser hora dela voltar? Ele não a via há dias. Isso sem contar que nem mesmo sua mãe estava em canto algum, e isso só serviu para aumentar sua curiosidade. Sua mãe não dormia até tarde. Na verdade, ele desconfiava que Levi sofresse de insônia, já que quando saía do quarto, ele sempre estava em pé e pronto para ir ao trabalho.

Cogitando ideias, ele descartou quase todas, menos uma. Era quase impossível colocá-la em porcentagem, mas ele teve que acreditar nisso. Bem... Ou sua mãe já saiu, ou está dormindo em seu quarto. Uma provável e com grandes chances, e outra quase impossível.

Engolindo em seco o nó em sua garganta, ele lutou contra a vontade de se deixar levar pela opção de maior chance e foi até o quarto ao lado do seu, parando frente a porta. Não tendo certeza se deveria bater ou não, ele apenas ergueu o punho e esperou pela coragem. Sentia medo de encontrar o quarto vazio e descobrir que ele havia ido sem si. Mas também sentia medo de Levi levá-lo por obrigação, já que não queria que fosse até a cadeia.

Com os lábios trêmulos, ele engoliu em seco antes de chamar: "M-mãe? P-posso entrar?"

Tendo o silêncio como resposta, ele fechou os olhos com força, não querendo chorar logo pela manhã. "M-mãe? V-você está aí? F-fale que está... P-por favor."

Mordendo os lábios com força, ele pegou na maçaneta com a mão trêmula. Tomando uma profunda respiração, ele a destrancou e empurrou a porta, arregalando os olhos ao ver que Levi ainda estava na cama. O quarto parecia mais impecável e assustador do que lembrava. Uma parede inteira era cheia de livros, uma mesa mediana estava no meio da prateleira que mantinha a área de trabalho. As cortinas cinzas deixavam o quarto ainda mais sem vida quando se misturava com a cama revestida impecavelmente com lençóis brancos e cinzas. Engolindo em seco com o ar pesado do quarto, que era totalmente o oposto do restante da casa, ele voltou a falar: "P-posso en-"

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