Inocente

Capítulo 23

O dia havia chegado mais rápido do que Levi pôde contar, e junto a ele veio a apreensão pelo que viria a seguir. Era certo que seu avô iria lançar alguns comentários, mas nada muito grave comparado ao que poderia vir de seu primo, Pietro. Fechando seus olhos, respirou fundo antes de suspirar, já podendo imaginar a enxaqueca que esse almoço dará mais tarde. Com o cenho franzido suavemente, tentou não pensar muito naquilo. Era bem pior ficar se estressando antes do tempo, lembrou-se das sábias palavras de seu companheiro naquela manhã, quando ainda estavam se arrumando. Acomodando-se no banco, espiou Damian pelo retrovisor, querendo ter certeza de que o filho continuava animado para conhecer o bisavô. A animação do garoto vinha mais por causa da curiosidade que tinha, e vê-lo assim, tão entusiasmado com algo, deixou Levi mais leve.

Suspirando outra vez, tentou relaxar. Eren, que estava dirigindo, não deixou de notar sua inquietação, e com uma feição suave levou sua mão para a perna do omega, segurando-a num ato gentil e sem luxúria envolvida. "Relaxe, amor. Vai ser rápido isso, ok?"

"Estou fazendo parecer que vamos enfrentar o fim do mundo, não é?" murmurou cabisbaixo, não se incomodando com o toque do alfa. Na verdade, ele sentia-se um pouco mais confortável sentindo o toque, mesmo que não fosse pele com pele. "Eu só…"

"Está tudo bem, Le. Eu reclamei em algum momento? Não. E também nem vou. Eu gosto do Hermes, e sei que, apesar de tudo, ele também gosta muito de nós. Então, só tente relaxar, ok?"

As palavras gentis do moreno pareciam ter feito algum efeito no omega, pois logo após ter ouvido aquilo Levi relaxou um pouco. A tensão em seus músculos se desfez, dando-lhe a chance de ficar somente aproveitando a pacificidade que reinava dentro do carro. Bem… O pequeno momento de silêncio. Até porque não demorou muito para Eren começar a cantarolar baixinho, o que resultou numa risadinha contagiante vindo do Damian que havia acabado de pôr o cinto.

"Vamos, Damian. Tenho certeza que conhece a letra." brincou, forçando uma tosse antes de afinar um pouco mais sua voz. "Eu espero que você entenda- vamos, Damian!"

Com uma certa relutância, Damian acabou cedendo por simplesmente não conseguir levar a sério a voz que o pai usava. "Que o meu amor, é amor de quenga." cantou baixinho, rindo quando o mais velho fez o famoso "iukê" da cantora. Tampando sua boca numa tentativa fútil de controlar sua risada descompassada, abaixou sua cabeça enquanto ouvia o outro continuar.

"Eu não quero que você se prenda no meu amor, amor de quenga!" olhando para a rua, tentou olhar através do vidro embaçado pelo temporal enquanto os parabrisas faziam seu trabalho. "Essa semana tá foda, hein? Já perdi as contas de quantas vezes choveu."

Sorrindo suavemente, Levi apoiou a cabeça contra a janela, observando as ruas enquanto ouvia a barulheira que os outros dois faziam ao cantarem/forçarem a voz para se parecer com a da cantora. Aquele momento em específico aqueceu seu coração, o que resultou num pequeno sorriso bobo estampado em seu rosto. Era como se ele estivesse confirmando o que sempre soube. Seu alfa seria um grande pai para o filhote que teriam, foi o que pensava. Agora tinha certeza. 

Pondo uma mão sobre o peito, sentiu seu coração bater acelerado. Era fato que Eren era um exemplo de bom pai, apesar de ser palhaço sabia o momento certo de ser alguém sério se fosse para colocar o filho na linha. E pensar que todos acreditavam que o único a ser firme seria Levi…Ah, como estavam errados. Por mais que quisessem, ele nunca conseguiria. Não sabia ao certo o real motivo, mas sabia que era algo de muito antes. Encolhendo-se com a memória de sua infância, logo forçou-se a jogar as lembranças para o mais longe possível. Mesmo que não tivesse próximo, ele fez de tudo para que Damian tivesse uma infância rodeada de brinquedos e jogos, na verdade, o garoto tinha tudo o que queria sem obter nenhum não como resposta. Bastava somente apontar, e Levi compraria. A princípio, o sorriso que ele lhe dava em troca deixava o omega bem, mas com o passar do tempo, não havia mais sorrisos e Levi temeu por isso. Então, a partir daquela situação, Isabel passou a comprar tudo. Mesmo assim… Não houve mais entusiasmo. Olhando para trás, Levi só poderia observar o quão imbecil havia sido. Seu filhote não queria brinquedos, queria ele. E esse pensamento lhe levou para uma época um pouco mais distante, quando ainda estava gestante, em uma de suas últimas visitas a Hermes em sua mansão.