—A questão é: que escolhes tu? Viver ou sobreviver?—pergunto encarando-o.Ser psicóloga não é um trabalho assim tão simples. Não é apenas ser capaz de dizer palavras bonitas e inspiradoras, mas também fazer com que a mensagem permaneça dentro do paciente, para que mais tarde, seja interiorizada.
Para James, posso estar a dizer um monte de coisas vagas e estúpidas, mas na verdade, o que pretendo é que reflita e mude, mais tarde, o que está mal com a sua vida.Quando me volto a concentrar nele, parece pensativo, então deixo-o ficar assim por alguns segundos.
Nem acredito no que a Kim fez...
Mas não posso pensar nisso neste momento, estou a trabalhar. James volta a olhar para mim, desta vez mais calmo do que o costume.
Sei que pode ser um pouco arriscado, mas eventualmente teríamos de falar sobre um assunto delicado.
O pai dele.
Estamos na 3° sessão, apenas faltam mais duas, e por mais difícil que seja, James não se poderá completamente libertar se não falar nele.
Ergo o meu olhar para ele e tento parecer o mais delicada possível.
—James, fala-me do teu pai.— peço e ele olha para mim. Ele torna-se um pouco distante por uns momentos, mas depois volta a encarar-me.
—Fodasse, Leela —ele suspira.
O silêncio toma conta de nós durante alguns minutos, mas eu não posso simplesmente obrigá-lo a falar.
Falar no seu pai sempre foi um pouco tabu, e eu entendo. Não há uma dor tão forte como perder alguém que amamos.
Pelo o que percebo, a única pessoa estável na sua vida sempre fora August, e agora sem ele, não me admiro porque é que ele pensa que toda a sua vida está em cacos.
Quando tudo parece perdido, lembro-me de uma maneira mais fácil de abordar este assunto.
—Fala-me no teu negócio de hoje. — peço calmamente, e ele olha confuso para mim.
—O que é que isso tem a haver com o meu... — ele começa por perguntar, mas eu interrompo-o.
—Fala-me do teu negócio de hoje. — volto a pedir e ele fica menos tenso.
—Bem, a nossa empresa fez uma aliança muito poderosa com os franceses. Basicamente vamos ficar a ser reconhecidos internacionalmente.— ele explica-me mais entusiasticamente.
—O teu pai ficaria orgulhoso de ti, não achas? — pergunto um pouco relutante e ele volta a desviar a sua atenção.
Alguns minutos passam até que algum de nós fale. Por fim a voz de James rompe este silêncio consumidor e os meus ouvidos.
—Penso que ficaria, apesar de tudo ele é que teve toda esta ideia...—ele explica, eu assinto e James continua.
—Ver o seu império a crescer desta maneira, de lá de cima, deve fazê-lo sentir como um rei.—James completa, com os olhos a cintilarem como nunca.Sorrio e ele retribui sorrindo também. Deixamo-nos estar assim por alguns segundos até ele voltar a falar.
—Ele tinha hemofolia. Apesar de não ser algo que te leve diretamente à morte, sob certas circunstâncias, pode ser letal.— James explica triste, mas sem medos.
Olhando-me sempre nos olhos, como se o cofre que continha esta informação tivesse finalmente sido aberto.—Desculpa perguntar, mas o que é essa doença? —interrogo-o, repreendendo-me a mim mesma por ser tão burra em situações como estas.
—É uma doença que afeta a corrente sanguínea. Quando alguém infetado faz um corte, o seu corpo tem dificuldade em formar coágulos— ele respira fundo, e continua.— Então, é mais provável sangrar até à morte do que uma pessoa normal.
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O consultório do 2º Andar
RomansaDepois de um longo percurso para se formar em psicologia, Leela Smiths celebra com as suas amigas o seu novo trabalho que vai começar no dia seguinte. Quando chegam ao famoso bar frequentado por elas, Slow Strike, Leela é abordada por um homem extr...