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- Foi você quem fez isso?!

Pandora voa em sua direção, os braços estendidos, as mãos esticando dedos para prendê-la. Helena apenas volta o rosto para ela, uma expressão de desinteresse caindo sobre seus olhos.

- Isso o quê, impostora?

- Não se faça de desentendida! Aquele bilhete no Templo! Foi você?! Como entrou lá?!

Helena suspira, soltando o pente que passava entre as chamas de seu cabelo. Ela dá meia volta, apoiando os cotovelos sobre os cantos da cômoda, seu rosto levemente pendendo para a lateral.

- Já falei que se continuar dizendo todas as frases pela metade eu não vou entender o que você está falando.

- Estou falando da merda do bilhete que dizia para confiar em você!

As sobrancelhas de Helena se erguem sobre seus olhos díspares, o sarcasmo retorcendo seus lábios:

- Um bilhete te disse para confiar em mim? Que ingênuo da parte dele...

- Pare de brincar! Eu sei que você está envolvida nisso!

- E o que te faz acreditar em tal coisa, garota-garoto? Encontrou minhas digitais nele, por acaso?

- Não preciso. É mais do que óbvio que você iria usar uma farsa dessas!

- Porque...? – Helena roda uma das mãos no ar, pedindo que ela continue.

- Porque você quer me fazer confiar em você, e quer me enganar que tem alguém me dizendo isso!

Ainda de sobrancelhas erguidas, Helena leva a mão suspensa ao rosto, pressionando-a contra a testa.

- Pra começar, quem está usando farsas aqui é você. Depois, eu não quero que você confie em mim, eu te disse várias vezes para não confiar em mim. E por último, pelo amor de Deus, garota! Você não consegue juntar as palavras de um jeito que faça sentido?! Eu me sinto conversando com uma criança de dois anos!

Pandora cruza os braços, lançando o corpo sobre a cama. Ainda está vestida com a túnica cerimonial que, além de ser exageradamente grande para seu corpo magro, pesa com as decorações de ouro, cansando-a.

Talvez Helena tivesse razão ao dizer que ela estaria doente ou morta se continuasse a comer pouco. Seus braços e pernas tornavam-se mais fracos a cada dia, e mesmo as roupas já eram um peso incômodo.

Helena a observa, acariciando o próprio rosto com os dedos.

- Eu sei que você não acredita em mim, impostora, mas isso não me importa. O que importa é que eu não deixei recado nenhum para você, o que significa que outra pessoa fez isso, e precisamos descobrir quem.

Ela se aproxima de Pandora, prendendo o queixo da garota entre suas mãos.

- Você vai me dar mais informações sobre isso. O que o bilhete dizia? Como se parecia? O que mais tinha? Alguma marca ou assinatura, talvez?

- Tire as mãos de mim e eu talvez fale. Se me machucar de novo, eu juro que te denuncio hoje mesmo. Já cansei de seus abusos.

- Você sabe que se me denunciar, além de ficar sozinha, você também corre o risco de eles enviarem outro Surdo atrás de você, não sabe? Os outros são melhores do que eu, Sacerdote. Os outros não vão errar como eu errei.

- Dane-se se eu morrer. Você estará fora do meu caminho, é só isso que quero.

- Se você morrer, não vai nem ter chance de apreciar o fato de eu não estar no seu caminho. – ela ri, deslizando a mão pelo rosto de Pandora – Vamos, impostora... Você não tem motivos para esconder informações de mim. Você nem mesmo sabe quem são seus amigos e inimigos, que diferença faz?

Ela inspira profundamente, empurrando a mão de Helena para longe de si.

- Tinha um nome... Cérbero.

Helena dá um passo para trás, concentrando seus olhos em um ponto distante através da janela. A noite está começando a surgir no horizonte, os últimos sons do dia esvanecendo.

- Cérbero é um nome de Surdo. – ela comenta casualmente, sem tirar os olhos do horizonte – Não me lembro de ter ouvido ninguém se identificando assim, então...

Ela volta o rosto para olhar nos olhos de Pandora.

- Nós temos um Surdo dissidente tentando te manipular, impostora... E aparentemente ele está nos observando de perto.

 E aparentemente ele está nos observando de perto

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Pandora (COMPLETO) - Livro III - Trilogia DantálionOnde histórias criam vida. Descubra agora