Suspeito número um

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Nós dois temos os mesmos defeitos. Sabemos tudo ao nosso respeito. Somos suspeitos de um crime perfeito, mas crimes perfeitos não deixam suspeitos.
Humberto Gessinger

Spoleto 1923, as ruas vazias graças a chuva, ou talvez graças ao assassino a solta. Já havia se passado uma semana e não prenderam o criminoso e nem sinal de pistas que levassem a alguém.

     Apesar de não ter ocorrido mais nenhum incidente a pequena cidade ainda estava em trauma. Miguel decidiu andar pela cidade para ver como os moradores estavam. 
     Atravessando as ruas com paciência, cumprimentava as pessoas nas portas de suas casas, talvez ele fosse louco por sair na chuva mas isso já não importava. Parou na ponte, sob o ribeirão para ver como cada gota de chuva se fundia com a água cristalina do ribeirão. As gotas escorriam pelo seu rosto, seu cabelo castanho e curto estava liso sob sua testa, a pele levemente avermelhada deixa visível as partículas de água sobre ela.

- Que bela vista não é padre? - O padre sorri só de ouvir a melodia que a voz da jovem soava em seus ouvidor.

- Senhorita Pazzonni, por que andas nesta chuva? Podes pegar um resfriado...

- Tudo bem padre, é minha folga do hospital mesmo. - Ela dá de ombros.

- Onde estavas? Perdoe minha curiosidade.

- Tudo bem. Estava no orfanato, eu vou lá em minhas folgas, aquelas crianças precisam de um pouco de atenção, sabe...

- Entendo. Bom acho que é muito reconfortante saber que há pessoas do bem por aqui. - O padre vira o rosto para a moça, que o olha com uma certa admiração,suas bochechas coram quando ele sorri para ela.

- Obrigado pelo elogio... - Ela observa o horizonte. - Bom acho que vou indo para casa. Cuide-se padre , o mundo é um lugar horrível para se viver.

      Antes que o padre possa pergunta o que ela queria dizer, a garota já está distante, mas Miguel não tirou aquilo da mente. Decidido a ir ao orfanato o padre aperta o passo. Ao chegar espera ser atendido por alguém, mas ninguém vem ao seu encontro. Sem esperar muito ele entra na sala da madre superior, uma sala com mobília rústica e muitas imagens religiosas.
     Algo faz o padre quer conhecer aquele lugar tão conhecido mas tão desconfortante. No canto da parede ao lado de uma janela, há um armário velho e grande, Miguel o observou por um tempo até tomar coragem e abri-lo, se espantou com o que viu , lá dentro havia chicotes de todos tamanhos e formatos. Miguel não conseguiu nem imaginar o que se passava na cabeça dos ocupantes e responsáveis pelo lugar.
      Com angústia , Miguel percorre o corredor o mais rápido que pode, procurando as crianças com um medo de encontrar-las açoitadas, agora ele entendia o porque Annabell passava seu tempo ali. Para ele os corredores pareciam eternos, ao chegar no quarto das crianças, que o observavam dos pés á cabeça. Algumas liam, outras escreviam, o padre sentou-se ao lado de uma garota loira que estava sozinha perto da janela.

- Com licença, criança ,qual seu nome?

A garota o observou um pouco, estava dividida sobre falar ou não.

- Elisabetta. - A pequena garota se deslocou para mais perto da janela, Miguel a olhou nos olhos, e aqueles olhos azuis lhe mostravam pavor e medo, ele não sabia o porquê.

- Eu me chamo Miguel. Por que não brinca com as outras crianças?

- Pois já não sou mais uma criança. - Intrigado o padre fórmula uma maneira de tentar perguntar, mas sem ofender.

- Como uma criança deixa de ser criança?

A menina olhou para ele com os olhos frios e apavorados e então respondeu.

-Quando ela perde sua inocência.

     Depois de ter dito a garota se afasta de Miguel. O padre ficou se questionando sobre o que a garota havia se referido. Apesar de todas as dúvidas o padre não havia desistido de procurar a Madre. Atravessando um corredor que levava ao pátio o padre percebeu que o local parecia uma prisão e não uma casa de crianças sem lares. Ao chegar no pátio se deparou com uma cena traumatizante.
     O corpo de uma mulher despida se encontrava pendurado de cabeça para baixo com um mínimo corte no pescoço. O sangue pingava no chão fazendo uma melodia aquecedores ao seus ouvidos. Não podendo deixar de ver todo o resto do corpo, percebeu que as costas haviam cortes, o padre não pensou duas vezes, saiu do pátio e chamou as crianças.

- Pequenos, quero que vocês se dirijam a igreja imediatamente e chamem o senhor Di Angelis.

    Elisabetta deu um passo a frente e chamou as crianças para a saída. Ela parou e olhou para o padre e agora seus olhos brilhavam.

- Ela se foi ,não é? A madre pagou pelos seus pecados? O nosso anjo veio nos libertar. - Dito isso ela correu para as outras crianças.

" O anjo deles? Seria possível que Annabell tenha causado aquilo? Mas ela é a primeira que me vem em mente. "

    Pouco tempo depois o Sr. Di Angelis havia chegado ao local, o padre contou-lhe tudo ou melhor quase tudo. Miguel não falou sobre Annabell pois ainda não tinha certeza.
    Após todo o depoimento e todo interrogatório o padre foi liberado. Atravessou a ponte que antes chovia agora o que sobrará eram nuvens escuras, apesar de ter mentido para o detetive ele sentia que havia feito a coisa certa. Passou por ruas e ruas até chegar a um chalé rústico. Bateu palmas e de repente um senhor já de meia idade apareceu, era Francesco, pai de Annabell.

-Bouna notte. Poderia falar com Annabell? - O velho olhou Miguel dos pés à cabeça umas três vezes e então chamou a garota.

    Annabell apareceu, ficou confusa ao ver o padre, mas seguiu até ele, como poderia uma garota ser tão bela e tão fria ao mesmo tempo?

-Pois não, padre?

- Poderíamos conversar á sós?

-Claro, entre, venha até a cozinha.

O padre seguiu a garota até a cozinha e se sentou.

- Quer beber algo? - Ofereceu a garota.

- Não obrigada. Vou direto ao ponto. Você matou a Madre superior?

   A garota que se servia com chá deixou a xícara cair subitamente, mas logo se recompos.

-Como é? Acho que está enganado,quando eu sai ,ela estava bem viva.

-Pois bem,a madre está morta, e queres me dizer que alguém esteve lá no meio tempo de sua saída e minha chegada?

- Pode ser, eu não... Maledire , como achas que fui eu? Sim ,aquela mulher era horrível, mas matá-la? Isso é demais!

- Tudo bem. Perdoe-me, acho que me equivoquei. Mas já houve dois assassinatos relacionados a igreja, Annabell. E sei que esteve nos dois.

- Padre, acho que deveria se retirar de minha casa. - Annabell se aproximou de seu ouvido e sussurrou ; "Me encontre na ponte ás 3:00 em ponto. "

    O padre se levantou e saiu do chalé. Miguel não sabia se confiava nela ou não .

Peça SocorroOnde histórias criam vida. Descubra agora