E se mortos falassem?

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"O homem que não tem a música dentro de si e que não se emociona com um concerto de doces acordes é capaz de traições, de conjuras e de rapinas."

William Shakespeare.

     Spoleto 1923, o cair das folhas era cada vez mais frequentes, as árvores estavam apenas cobertas por suas próprias folhas caídas, era até poético ver a morte aquecendo a vida.

    A cidade se preparava para um festa em que participavam todos o agricultores e músicos e o povo, não podia se chamar de festival era uma confraternização, o Sr. Menotti andava pelas ruas com seu pequeno filho Gian, que observava os músicos.
Aquele momento era especial para a cidade apesar de todo o caos agora eles estavam alegres e felizes.
       Era a primeira confraternização de Miguel em Spoleto. Ele observava a floricultura da Dona Julieta, que estava cheia de pessoas comprando flores, apesar de ser outono muitas pessoas penduravam flores nas sacadas era uma bela vista. Sem nem se quer perceber Annabelle se aproximava, a jovem esbarrou de leve no padre e sorriu, foi ai que a realidade apareceu, não importa quão bela seja a cidade ali era o centro de assassinatos.
       Miguel andou até a mercearia mais próxima , o dono do local o atendeu.

-Buongiorno padre, o que vais querer hoje?

- Acho que um vinho, por favor.

     O homem o olhou estranho porém não negou o pedido do padre.

         Lourenço andava com o pequeno Emílio pois Anna disse que ia até o riacho colher amoras que só tinham lá, mas isso já fazia um bom tempo

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         Lourenço andava com o pequeno Emílio pois Anna disse que ia até o riacho colher amoras que só tinham lá, mas isso já fazia um bom tempo. Ele pediu para que Pietro cuidasse da criança e ele iria atrás da mulher.
       Pietro colocou o sobrinho nos ombros e andou pela festa que acontecia, foi até a praça principal onde havia muitas pessoas e barracas.
Pelo menos hoje tudo estava tranquilo e nada de corpos pela cidade. " Mas a festa está só começando... "

      Annabell estava deslumbrante naquele dia, usava um vestido rosa com um corset preto, apesar de muitas garotas terem abandonado esse hábito  Annabell gostava de parecer "antiga", a saia lhe caia até a canela e ela usava também luvas de renda ...

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      Annabell estava deslumbrante naquele dia, usava um vestido rosa com um corset preto, apesar de muitas garotas terem abandonado esse hábito  Annabell gostava de parecer "antiga", a saia lhe caia até a canela e ela usava também luvas de renda que combinava com o vestido.
     Ainda não sabia o paradeiro de seu pai e nem se importava, tudo estava melhor sem ele, a sua mãe estava se curando e Annabell não sofria mais. Se aquele velho imundo quisesse, podia sumir do planeta e ela não se importaria.
        A festa estava alegre, um jovem veio convidá-la para dançar na roda, ela poderia simplesmente recusar, mas viu Miguel a observando do outro lado da praça, então ela se juntou ao garoto na roda. Seu corpo se movia ao ritmo da música e se movia com alegria. A música rápida e alegre tocava em seus ouvidos tão feliz , ela queria ficar ali para sempre. Quando a música acabou o jovem beijou as costas da mão dela. Ele era bonito e ela até aceitaria seus cortejos se não estivesse loucamente apaixonada por outro.
       Ela queria descansar um pouco mas a praça estava lotada então ela pegou um beco que dava para frente do riacho, Miguel a seguiu.

- Eu sabia que viria.

- Annabell não podemos...

-Eu nem fiz nada padre... -A garota ergueu a sombrancelha. - O que uma garota indefesa como eu faria?

- Ora! Eu sei o que faria!

- Então diga!

    Não, ele não podia. Ele a amava completamente e secretamente, aqueles lábios, aquele corpo eram sua salvação. Ele se levantou e não falou nada, simplesmente saiu em direção a Catedral.
       Annabell ficou olhando a água e ouvir seu barulho reconfortante, mas alguma coisa quebrava aquela harmonia. Era um zumbido irritante. A curiosidade matou o gato, não é, que daria vida a Annabell. Ela seguiu o som até um arbusto ali próximo, ela olhou por trás dele e viu moscas, olhos brancos e carne viva. O cheiro horrível preencheu suas narinas quanto um grito agudo preenchia sua garganta ao reconhecer o corpo.

     Pietro estava preocupado com o irmão, Lourenço, tinha saído a um tempo e ainda não tinha voltado. Estava tudo calmo demais, quando o primeiro grito rompeu a música, tudo parou para buscar a origem do som estridente.
       Todos procuravam, quando outro som chamou atenção um corpo caiu da torre da catedral, ouve gritos e correria, Pietro deixou Emílio com a moça da barraca de doces... E então o último grito, não era agudo, mas sim de um homem que Pietro conhecia bem. Ele correu entender a multidão, passou pelo beco, viu Annabell caída no chão chorando e então do outro lado do riacho estava Lourenço com um corpo nos braços, era Anna.
        Ele correu pelo riacho, caiu de joelhos e abraçou o irmão que chorava desesperadamente, pediu para que Lourenço largasse o corpo, o jovem estava em pânico, porém seus olhos não traziam esse sentimento. Pode ser que Pietro  não tivesse percebido naquele momento,mas ele estava mais perto da solução do que imaginava...

Momentos antes...

        Anna coluna suas amoras cantarolando, ela estava alegre, pois tudo estava indo bem ela não estava mais tendo seus ataques de pânico. E Lourenço estava sendo o marido mais carinhoso que ela podia querer. Alguma coisa tocou seu ombro ela virou assustada, mas seu susto logo desapareceu, ela sorriu e beijo o homem a sua frente, mas algo estava errado as mãos do homem estavam ao redor do seu pescoço, o ar sumia dos seus pulmões, ela tentou implorar mas ele não queria saber das suas súplicas.

- Eu sinto muito querida, mas você precisa calar a boca.

     Então o assassino levou o corpo dela até o riacho, havia uma garota do outro lado do riacho mas ela estava ocupada conversando com um padre, eles nem o repararam. O assassino colocou o corpo da mulher no Rio parecendo afogamento e seguiu mata a dentro.
     Lourenço saiu correndo da Mata e vou a sua esposa no rio e ouviu Annabell gritar. Anna estava morta, as lágrimas surgiram tão rápido que até ele se surpreendeu, e um grito saiu da sua garganta tão repentinamente e a dor surgiu em seu peito. Segundos depois Pietro estava ao seu lado.
  
       Depois de conseguir largar o corpo da esposa, Lourenço, seguiu com o irmã até a praça onde Emílio estava. O garoto estava assustado, e Lourenço só conseguiu abraçar a criança e desabar no choro.
        Pietro ia buscar Annabell quando a porta da catedral se abriu e padre Miguel saiu de lá  com suas roupas cobertas por sangue. Pietro pegou seu revolver e apontou para o padre.

-Eu... Eu... Eu tentei salvá-lo! - Miguel estava apavorado, e chorava, caiu de joelhos Pietro o levou até a delegacia onde o capitão o prendeu.

     Quando voltou a praça Annabell estava sentada na frente do riacho, e o olhava fixamente. Pietro se aproximou.

- Sr. Di Angelis, o cara da catedral era um frei ,não é? Viram a adaga cravada nele. Acha que foi a mesma pessoa que matou a minha mãe? - Ela o olhou buscando a resposta, seus olhos estavam mais obscuros que o normal.

-Srt.Annabell eu prometo que vou prender o desgraçado!

- Não prometa, é bom o senhor achá-lo antes de mim... Ele tirou meu bem mais precioso! - As lágrimas rolavam pelo seu rosto, mas a garota as limpou e saiu do local. Pietro estava assustado e confuso.

"Seria bom se mortos falassem! " Seus pensamentos estavam longe.
      
    

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