06| A Menina e os Cigarros

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Eclipse;


-A minha mãe cantava pra mim, a voz dele não era muito boa, mais ela sempre cantava músicas lindas- nos estávamos na cama ainda, já estava de madrugada, Kevin ainda não tinha chegado e Evan estava trancado no quarto

Eu sabia que alguma coisa tinha acontecido com ele, e respeitava sua escolha de querer ficar um tempo sozinho

-A minha mãe me contava história, nem sempre eram histórias boas, mais eu gostava- conto também, era fácil contar as coisas para ele

-Eu sempre quis ter um irmão- ele conta também- Mas é claro que isso é impossível, eu sou adotado, meus pais nunca pensaram em adotar outra criança e eu não conheço meus pais biológicos, isso é muito chato; você tem algum irmão?

Ela surge na minha mente, sua imagem sorridente, com um olhar amoroso, e expressão tranquila é rapidamente substituída por seu corpo machucado, seu último grito de dor, e seu olhar vazio, sóbrio, sem vida...

-Eu tinha...- me limito a dizer apenas isso

-Tinha?

-Ela morreu- ele fica em choque quando eu falo, parecia até culpado por ter tocado no assunto- Já faz muito tempo

-Eu sinto muito, desculpa por ter falado disso

-Não se culpe, você não tinha como saber, olhe- levanto a minha blusa de manga até chegar acima do meu cotovelo, logo ali perto da minha veia tinha uma pequena tatuagem escrito "Lua" com estrelas em volta toda em preto e branco- Eu fiz depois que ela morreu, foi minha primeira tatuagem, no mesmo dias eu comecei a beber- conto rindo um pouco- O nome dela era Luandra, mas eu a chamava de Lua

-É um nome lindo, é muito errado perguntar como ela morreu?

-Sim, mas eu posso responder do mesmo jeito... Ela sofreu um acidente de carro e morreu na hora- prefiro não contar os detalhes, aquele foi um dos piores dias da minha vida- Depois que ela morreu tudo ficou diferente, eu sempre soube que ela era a pilastra da minha família, a luz na escuridão, ela era a nossa lua, e tudo morreu com ela, agora é como um oceano sem onda e um céu vazio

-Eu sinto muito, acho que me senti igual quando perdi meus pais, meu conforto foi saber que eles prescisam descansar, isso me deu um fôlego novo...- seu olhar se tornava perdido enquanto ele contava, não imagino como deve ter sido difícil perder os pais sendo tão novo e tendo passado sua vida preso em casa, vivendo em uma segurança exagerado, ele era tão guerreiro quanto eu

Se eu fosse tão forte como ele, não teria me destruído tanto por conta da dor, ele melhorou a vida de muitas pessoas, dez coisas boas pra os outros... Eu pelo contrário só fiz besteiras, e me destruí

-Sabe uma vez a minha mãe esqueceu meu aniversário- eu conto para ele se distrair do seu passado e das lembranças ruins que tinha- E eu fiquei muito chateada aquele dia, eu só chorava, aí quando a Lua chegou em casa ela ficou xingando a mamãe comigo, me ajudou a fazer um bolo gigante de dois andares e a gente comeu tudo, sozinhas aliás, aí ela me levou no parque de diversões que tinha na minha cidade e no circo, chegamos em casa de magrugada e a mamãe já tinha chegado, ela ainda não se lembrava que era meu aniversário e aquilo me deixou triste de novo, ela brigou com a gente pelo horário que chegamos e chamou a Lua de inresponsável, eu chorei muito antes de dormi, mais quando acordei depois da minha irmã ter brigado com a minha mãe por horas eu tive um segundo aniversário, com tudo que eu gostava, é claro que aquilo não apagou o que tinha acontecido de ruim, mas foi um dos meus melhores aniversários, foi perfeito, pelo simples fato dela estar comigo dando o seu máximo para me fazer feliz!

-Ela era incrível, como a sua mãe pode ter esquecido o seu aniversário? Isso é maluquice!

-A minha mãe não era normal, depois do divórcio com o meu pai ela não era a mesma, ela ficou depressiva, se afundou no trabalho, a única que tirava um pouco da tristeza dela era a Lua...

-O que aconteceu com a sua mãe?

Eu não sinto confortável para contar que minha mãe tirou a própria vida dois dias depois da morte da minha irmã enquanto eu estava sofrendo em seu túmulo, era torturante pra mim me lembra disso... Naquele acidente eu perdi tudo que tinha de mais prescioso na minha vida, e eu perdi a razão que eu tinha de continuar a minha vida! Eu ainda respirava somente por ter aceitado o meu castigo nessa terra de acordar todos os dias sabendo que era tudo minha culpa, e ir dormi todos as noites consciente de que eles perderam a vida por minha causa

-Ela também morreu- me limito a dizer apenas isso

-Eu tinha um pato- ele se pronúncia após um tempo, a sua informação aleatória me fez rir

-Um pato?

-Sim, quando eu tinha treze anos eu pedi um pato pra minha mãe, o nome dele era Luke, Pato Luke

-Rocky você tinha um pato!- começo a rir desesperadamente, ele é o tipo de pessoa que eu imagino com um pato... Ele tinha um pato- E que fim levou o Pato Luke?

-Ele morreu com um ano, não sei como eu só encontrei ele no quintal com um rato morto e um pouco de cerveja francesa também, acho que meu pato ficou bêbado e morreu lutando com rato...

-Pobre pato

-Pobre pato- nós começamos a rir de novo, fazia tanto tempo que eu não ria até sentir meu corpo fraco e minha barriga doer, só o doce Rocky com duas histórias do falecido pato bêbado para me fazer rir desta forma

-To ouvindo muitas risadas nesse quarto!- Kevin grita do corredor

-E eu tô ouvindo histórias de patos!- Evan grita de seu quarto

-Malditas paredes finas- eu murmuro rindo

-Pato?- Kevin começa a rir também- Quem tinha um pato?

-Rocky!- Evan grita

-O Pato Luke, ele era um lindo pato

-Bela podemos ter um pato?- rosado pergunta aparecendo na porta do quarto, ele abusado como sempre já vem entrando e se jogando na cama, encima de Rocky e deitando em seu colo, Kevin também abusado faz o mesmo e se joga nos meus pés, esse arco-íris era muito safado, se aproveitando nos músculos do meu bom amigo

-Não!- o respondo

-Quero um pato rosa- ele diz

-Ou podemos adotar um gato e chamar ele de Pato, será que se educarmos um gato para se parecer com um gato funciona?- Kevin viaja em suas maluquices

-Sou alérgico a gatos, prefiro adorar um Pato Luke Júnior

-Rocky não vamos adotar um pato

-Vamos!- os três dizem juntos. Eu não quero um pato!

-Se chamarem aqui com um pato eu faço ele no forno!

Eles iriam arrumar um pato, tenho certeza disso... O falecido estava me arrumando problemas e dores de cabeça, não quero um Pato Júnior!

BELA| A Garota dos Cigarros de Menta!Onde histórias criam vida. Descubra agora