Capítulo 8

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Anastasia Steele

O dia amanheceu, frio e nublado.

Eu estava na frente do espelho vestida de preto: chapéu de feltro; uma blusa e saia até os joelhos; meia-calça e sapato. Cabelo amarrado na nuca.

No entanto, eu não parecia muito fúnebre.

Preto simplesmente acentuou a tonalidade suave da minha pele, deixou o azul dos meus olhos brilhantes como safiras e destacou o tom avermelhado dos meus cabelos.

Voltei a andar dentro do closet e fiquei olhando ao seu redor. Observei o tapete branco, a bela pintura francesa a óleo de uma jovem dançarina, um manequim de veludo, as portas brancas e gavetas cheias de roupas de grife caras, bolsas, sapatos, cintos, lenços, chapéus e acessórios.

Este era o meu lugar favorito em toda a casa. Às vezes eu vinha aqui e ficava sentada durante horas. Não importava qual problema eu tinha, apenas estar aqui sozinha me acalmava. Este era o meu espaço zen. Talvez fosse porque eu ainda não podia acreditar que este armário era quase tão grande quanto o meu trailer no Tennessee.

Olhei em volta ansiosamente.

Como desejava me esconder aqui, entre as minhas roupas maravilhosas, nos próximos dias.

Mas não podia.

Tinha que enfrentar o mundo hoje.

Digitei o código do cofre, abri a porta pesada e peguei uma caixa de veludo fino. Levantei a tampa e vi um colar com um pingente de safira em forma de lágrima. Olhei para ele e não senti nenhuma emoção. Ainda conseguia me lembrar do choque quando o vi pela primeira vez. Nunca tinha visto algo tão fabulosamente bonito. Até o meu olho destreinado sabia que custou uma pequena fortuna a Robert.

Dois milhões e meio de libras, na verdade.

Ainda podia me lembrar daquele dia como se fosse ontem. Era meu aniversário de dezoito anos. O tempo estava ruim e decidi ficar em casa. Só nós dois. Naqueles dias, ele ainda estava bem para sentarmos na sala azul, em frente a grande lareira. Ele em sua grande poltrona e eu enrolada aos seus pés sobre o tapete.

Oh, nós tínhamos tanto o que falar. Ele sabia de muitas coisas e eu era como uma esponja. Sugando tudo. Era a sua Eliza Dolittle.

Eu cheguei a esta casa ainda adolescente, vinda de um trailer, morando num lugar muito pobre. Pacientemente, lentamente, dia a dia, ele me ensinou como se comportar, falar e me educou.

Naquele dia ele se recostou na cadeira e me encarou com olhos indulgentes como se eu fosse um cachorro particularmente exuberante.

— Oh minha pequena Anastasia, se você tivesse entrado em minha vida, mais cedo — ele sussurrou.

— Eu estou aqui agora — disse a ele.

Foi quando ele puxou a caixa do bolso do roupão. Comecei a chorar de alegria e tristeza. Já sabia que seu tempo era curto. Em seguida, ele chorou e, mais tarde, quando estávamos os dois bêbados de vodkas e champanhe, ele insistiu que eu precisava usá-lo em seu funeral.

Com um suspiro eu fixo o colar em volta do meu pescoço. O metal estava frio. Eu me virei e olhei para o espelho. A joia azul brilhava com intensidade, contra a palidez da minha pele. Olhei para o meu reflexo e ouvi a sua voz rouca novamente.

— Eles virão pelo dinheiro, estarão de modo impecável, então eu quero que você os surpreenda. Não faça um velório triste para mim. Dê uma festa. Sirva o champanhe mais caro. Contrate músicos, dançarinos e comedores de fogo. Faça um brinde inapropriado para mim. Comemore. Mas não tente agradar aqueles pavões pintados. Eles vão desprezá-la por isso. — Seus olhos brilharam. — Você vai ser mais rica que a maioria deles. Deixe-os tentar agradá-la.

O Lorde de Greystoke {Completa}Onde histórias criam vida. Descubra agora