Capítulo 9

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Anastasia Steele

Assim que chego à igreja vejo os meus enteados.

A filha mais velha de Robert, Rosalinda, olhou para mim. Seus olhos estavam brilhando com malícia e ódio. Ela era a mais perigosa e mais vingativa de seus filhos. Com vinte e nove anos ela era uma mulher de cabelos escuros, alta, magra que, infelizmente herdou o nariz grande e a mandíbula marcante de Robert. Ela era casada com um homem covarde que mal falava e tinha dois filhos pequenos que eu nunca conheci.

A filha do meio, Bianca, era muito mais bonita já que parecia com sua mãe. Infelizmente, ou talvez felizmente para mim, ela não era muito brilhante, estava noiva de um jogador de futebol bem conhecido que estava de pé ao lado dela parecendo pouco à vontade. Ela era o que minha mãe chamava de inimigo disfarçado. Ela me deu um sorriso falso antes de voltar para seu noivo e inclinar a cabeça dramaticamente em seu ombro.

O mais jovem era o único filho de Robert, Dorian. Ele era o mais bonito dos três. Ele era loiro, seus cabelos eram bem lisos, olhos azuis suaves, quando sorria aparecia suas covinhas. Ele tinha charme e confiança, mas debaixo disso escondia algo sombrio. Muito sombrio. Na verdade, eu precisava ter muito cuidado com ele.

Lentamente, ele piscou para mim.

Foi tão insolente, de modo inapropriado e desrespeitoso, que senti algo se encolher e morrer dentro de mim. Robert estava errado. Eu não poderia lidar com essas pessoas. Nem em um milhão de anos. Não sozinha, de qualquer forma.

Eles eram uma espécie totalmente diferente de mim. Eles eram desonestos, ardilosos e falsos.

Meu olhar chocado foi para longe de Dorian e caiu em cima de Christian. Sua cabeça e ombros estavam acima de todos os outros. Ele estava vestindo um casaco escuro e seu cabelo estava ligeiramente despenteado devido ao vento.

Ainda assim, foi o rosto que me fez congelar.

Contra a brancura da paisagem de neve era como se ele fosse esculpido em pedra. Seus olhos eram quase prata e o reflexo de seu rosto trouxe luzes diretamente nos meus olhos. Mesmo à distância algo se passou entre nós. Algo elétrico que fez os pelos do meu corpo se arrepiarem. Eu não conseguia desviar o olhar. Era uma sensação estranha. Como se eu tivesse andado por um longo tempo no deserto e estivesse finalmente em casa. Voltado para casa. Como se mesmo a vida que vivi não fosse a minha.

Minha vida era com ele.

Então, ele acenou para mim e eu inclinei a cabeça e meus olhos se voltaram para a mulher dele. A morena obrigatória. Bonita, mimada e da sua mesma classe. Quantas vezes eu as vi, ainda assim sentia uma grande dor. De onde eu venho nós chamamos isso de ciúme.

O ciúme me surpreendeu e me confundiu.

Deve ser a dor, disse a mim mesma. Christian não é para você, mas ele vai estar lá para você.

Não importa o quão frio e distante Christian era comigo eu poderia confiar nele. Ele era o único que eu precisava confiar.

Robert disse isso e eu confiava em Robert. Esse homem vai lutar ao seu lado, ele disse.

Virei meus olhos em direção à entrada da igreja. Sim, eu poderia fazer isso. Eu morreria antes de desapontar Robert.

A secretária de Christian correu até mim.

— Bom dia, Sra. Steele.

— Olá, Srta. Smith — eu disse. De repente me senti apavorada. Agarrei a mão dela. — As flores na parte superior do caixão. São rosas escuras, não são?

Ela sorriu levemente.

— Sim, elas são.

— Oh bom. Por um momento pensei que esqueci de dizer a Janice.

Janice foi à secretária de Robert e ela organizou tudo com a Srta. Smith.

— Você não esqueceu — disse ela gentilmente.

— Elas eram as flores favoritas da mãe dele — expliquei.

— Eu entendo. — Sua voz era educada.

O olhar da Srta. Smith escorregou para o meu pingente. Eu entendi. Ela não conseguiu evitar. Era tão especial. Rapidamente ela desviou o olhar, sua expressão era de quase culpada.

— Venha por aqui— ela disse e me levou para dentro na fria catedral, úmida e cheia de centenas de pessoas.

Um súbito silêncio caiu sobre as pessoas que se reuniram. Nós caminhamos até o banco da frente em silêncio, nossos sapatos soando alto no piso de pedra calcária. Eu podia sentir todas as pessoas se voltarem para me olhar. Alguns estavam curiosos, outros abertamente invejosos ou ressentidos. Eu sou a garota americana que apareceu do nada, se casou com um milionário e em dois anos era a herdeira de uma fortuna considerável. Eles não sabem que eu o amava por completo, o bom, mau, o feio. Eu amei tudo. Eles não podiam ver a minha dor silenciosa.

Eles só viam a caçadora de fortuna.

Tudo o que eu podia ver era o caixão de mogno. A pálida luz da manhã entrava através do vidro das janelas da catedral e caia sobre seu caixão com suas alças douradas e um arranjo exuberante de rosas cor de rosa escura sobre ele. A seda que cobria seu corpo era perfumada com óleo de sândalo.

Robert estava deitado lá dentro.

Tomei meu lugar no banco duro e ouvi as palavras do pastor e de todas aquelas pessoas que não viveram para vê-lo em seus últimos meses. Eles falaram, com certo lirismo do homem maravilhoso que ele foi. Em seguida, Rosalinda tomou o púlpito para seu tributo. Eu mantive meus olhos no teto da catedral, secos e sem vida, ela disse ao mundo sobre seu grande amor por seu pai.

— Eu me sentava sobre seus joelhos. Eu o amava. Antes dele perder suas faculdades mentais, ele sabia o quanto eu lhe amava. Mas, a doença transformou seu cérebro em mingau e ele não podia mais saber a diferença entre o amor verdadeiro e as mentiras de estranhos, das pessoas que estavam lá para se aproveitar. Papai eu te amo. Sempre. Onde quer que você esteja.

Em seguida, foi a vez de Christian. Olhei para cima e seu olhar encontrou o meu. Eu movi meu olhar, cheio de confusão.

Sentei-me olhando para o chão e ouvi histórias antigas sobre Robert. Coisas que nunca soube. Ele gostava de caçar. Eu nunca soube. Ele poderia ganhar na bebida de qualquer homem. Nunca soube. Havia tanta coisa que eu não sabia. Só o conheci quando ele estava doente e fraco.

Meus olhos ficaram molhados, mas eu nem percebi que estava chorando até minhas costelas começarem a doer como se de repente, estivessem pesadas, cheias de tristeza.

Eu coloquei minha cabeça para baixo e fechei os olhos. Foi bom que ele foi. Ele estava com dor. Foi uma coisa boa.

Claro, eu não poderia suportar. Eu lhe disse que não conseguiria.

— Por favor, Robert, não me faça fazer isso. — E ele sorriu.

— Não, seu amor é puro. O que é puro não deve ser tocado, senão vai machucar o impuro.

Então eu não falaria em seu funeral. Em vez disso, uma parte de mim sempre estaria de luto, sentada no banco da frente em seu funeral, ouvindo.

— O Senhor é, meu pastor.  

O Lorde de Greystoke {Completa}Onde histórias criam vida. Descubra agora