Capítulo 2

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Anastasia Steele 

Barrington Manor, Bedfordshire

— Faça o que fizer, nunca confie neles. Nenhum deles. — Robert sussurrou. Sua voz era tão fraca que ela teve que se esforçar para entender.

— Não vou — eu disse suavemente.

— Eles são da minha própria carne e sangue. Isso, os tornam perigosos de uma maneira que você nunca vai entender. Nunca abaixe a guarda.

— Tudo bem — concordei imediatamente. Eu só queria que ele parasse de falar sobre seus filhos. Estes últimos minutos preciosos eu não queria gastar com eles.

Ele balançou a cabeça tristemente.

— Não, você não entende. Você nunca pode baixar a guarda, em nem um instante. Nunca.

— Tudo bem, não vou — eu disse em uma voz apaziguadora.

— Serei um espírito muito triste se você abaixar.

— Eu não vou — chorei fortemente e agarrei a sua mão. O contraste entre as nossas mãos não poderia ser maior. A minha era suave e macia, a dele era torcida e cheia de veias e manchas. Suas unhas eram da cor de marfim. A mão de um homem morrendo de sessenta anos de idade. Levantei-a aos lábios e a beijei com ternura.

Seus olhos brilharam brevemente em sua face pálida.

— Como eu te amo, minha querida Anastasia — ele murmurou.

— Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo — chorei desesperadamente. Senti medo. Não quero perdê-lo.

O mundo se tornaria um lugar cruel e solitário sem ele.

— Mantenha o nosso segredo e eles não poderão tocar em você — disse ele calmamente.

— Não vou contar a ninguém — prometi.

— Ninguém — ele insistiu.

— Ninguém — concordei, balançando a cabeça.

Ele suspirou.

— Está quase na hora.

— Não diga isso — insisti, embora eu sabia que ele estava certo.

Seus olhos se moveram para a janela.

— Ah — suspirou baixinho. — Você veio.

Meu olhar voltou-se para a janela. Estava fechada. Fiquei toda arrepiada.

— Não vá ainda. Por favor — implorei.

Ele tirou seu olhar da janela. Ele se esforçou muito para dizer:

—Tenho que ir. Eu tenho que pagar minhas dívidas. Não fui um homem bom.

— Espere um pouco.

— Você tem a vida inteira pela frente.

Ele colocou os olhos, estranhamente brilhantes, para longe de mim. Olhando para frente e com um tremor violento, ele deixou este mundo.

Por alguns segundos eu simplesmente olhei para ele. Lá fora os ventos de janeiro batiam violentamente contra as persianas. Eu sabia que os empregados estavam esperando lá embaixo. Todo mundo estava esperando por mim para descer e dar-lhes a má notícia. Então eu me abaixei e coloquei minha bochecha em seu imóvel, peito magro. Ele cheirava fortemente a remédios. Fechei os olhos com força.

Por que você tem que morrer e me deixar para os lobos?

Naquele momento me senti tão perto dele, eu gostaria que o tempo parasse. Gostaria de poder deitar sobre seu peito, segura e ficar longe do mundo real.

Eu ouvi o relógio. O fogo na lareira estalou. Em algum lugar um tubo rangeu.

Coloquei meu queixo em seu peito e virei para olhar para ele uma última vez. Ele parecia estar dormindo.

Pacificamente, de qualquer modo. Acariciei os finos fios de cabelo branco em seu couro cabeludo rosado. Deixei meu dedo correr para seu nariz proeminente e me chocou a rapidez com que a ponta do seu nariz perdeu o calor. Logo tudo dele será uma pedra fria.

Eu me perguntei quem ele viu na janela. Quem veio para levá-lo para sua prestação de contas?

Minha tristeza era tão grande que eu podia tocá-la. Suave. Sem forma. Sem nitidez. Eu não tinha lágrimas. Eu sabia que ele estava morrendo duas horas antes. Estranho porque ele parecia como se tivesse melhorado. Ele parecia mais forte, suas bochechas rosadas, os olhos brilhantes e quando ele sorriu, parecia que estava iluminado por dentro. Ele parecia muito mais forte. Perguntei-lhe se queria comer.

— Leite. Eu pegarei um copo de leite — disse com determinação.

Mas depois de eu pedir o leite e trazer, ele sorriu e recusou.

— Não é maravilhoso? — Ele perguntou. — Eu me sinto tão bem.

Naquele momento, eu sabia. Mesmo assim, era incompreensível que ele realmente não estava lá. Eu nunca quis acreditar.

— No final, você queria ir, não é?

Não houve resposta.

— Está certo. Sei que você estava cansado. Eu estava te segurando. Você vai na frente. Encontre um lugar para mim.

Ele estava deitado imóvel como um cadáver.

Oh Deus! Eu já sinto muita falta dele.

— Eu entendo que você não pode falar. Mas pode me ouvir. Quando chegar a minha vez quero que você venha me pegar. Estarei esperando por você para vir me buscar através da janela. Vá em paz agora. Tudo ficará bem. Eles nunca saberão a verdade. Eu nunca vou dizer-lhes. Até o dia que você voltar para me recolher.

Eu abri meu kit de unha e comecei a fazer as unhas dele. Com cuidado delicado cortei e lixei suas unhas amareladas.

— Aí está. Isso durará para sempre. Ninguém nunca vai ser capaz de dizer que eu não fiz um bom trabalho.

Então comecei a chorar, não soluços altos, mas um choro silencioso. Eu não queria que os empregados ouvissem. Para vir correndo ou chamar o médico e declará-lo morto. Eu sabia o que me esperava fora deste quarto.

Aproveito esses últimos minutos. Minha hora final com meu marido.

O tempo antes de me tornar a caça fortunas mais odiada de Londres.   

O Lorde de Greystoke {Completa}Onde histórias criam vida. Descubra agora