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Leio novamente o manuscrito em minhas mãos, tentando não gritar a plenos pulmões o quão ultrajante isso seja.

— Ser prestativa, refinada, graciosa... — tento esconder a indignação em minha voz. — Os homens querem bonecas de porcelana? Como se todos eles fossem perfeito! — exclamo desacreditada. Escuto um suspiro, obrigando-me a levantar o olhar sobre o senhor a minha frente. Encaro-o, notando o cansaço estampado em seu rosto. Sua derme marcada por linhas de expressão me faz imaginar a preocupação excessiva que ele teve. E também um pouco degradada. Mas isso é inevitável; a idade chega para todos.

Carregar uma família nas costas parece ser mais pesado do que se possa imaginar.

— Jing, você já deveria estar na cidade. Você sabe muito bem que contamos contigo para honrar nossa família. — disse papai calmamente. Como ele pode ser tão paciente? Respiro fundo, na tentativa de não desataca-lo. Abaixo levemente a cabeça, concordando silenciosamente. Sinto seus braços me rodearem fortemente. Entrego-me ao seu abraço, sentindo-me acolhida.

— Só conseguiria honrá-los de verdade sendo uma excelente médica e mulher independente. — digo em tom calmo, enfatizando a última frase. Sinto o abraço ser mais forte. — Tudo bem, bába. Tentarei honrar nossa família desta forma que desejas. — desvencilho-me de seu aperto, olhando-o. — Torça por mim, está bem? — abro um pequeno sorriso, vendo-o retribuir. Logo o mesmo acena levemente, sorrindo em seguida.

Caminho rapidamente para as cercas, abrindo a pequena porteira e puxando levemente Khan de seu acomodo. Acaricio seus rútilos fios, montando em suas costas.

— Certo, garoto! Estamos atrasados. Vamos por um atalho. — arrumo a rédea, balançando-a levemente. Assim Khan passa a correr em direção à cidade.


勇气

Desço das costas de Khan, encarando a face irritada de minha mãe. Olho para seu lado e noto minha avó com um grilo nas mãos. Ela ainda está fissurada em grilos? O barulho deles é infernal. Mei, minha irmã mais nova, está entre elas, mastigando uma maça.

— Jing, você por acaso passou por algum furacão? — pergunta minha mãe, em um tom irritadiço. Arqueio a sobrancelha, confusa. Sinto mamãe pegar em meus fios, colocando-os na frente de meu rosto. Noto meu cabelo todo emaranhado em pequenas folhas. Escuto Mei rir de forma contida.

— Máma, tive que vir por um atalho. Não foi culpa minha... — minha mãe me interrompe, arrastando-me para a casa da casamenteira.

— Não queremos saber! Agora vamos dar um jeito em você. — disse a ajudante da casamenteira, obrigando-me a ir atrás do biombo. De onde ela surgiu? Forço-me a tirar minhas vestes sobre o olhar repreensivo da senhora Xia He. — Vamos começar com um banho rápido, para tirar essa crosta de ervas. — seguro uma fala grosseira. — Céus, você está com tantas ervas no corpo! Parece que estamos fazendo uma sopa de Jing. — empurra-me em direção a banheira. Não contenho o riso, olhando-a de forma divertida.

Após ser puxada em muitas partes, lavada ao ponto de perguntar-me se ainda tenho pele e quase morrer com hipotermia, saio do banho. Visto roupas leves. Logo sou puxada para que tratem de meu cabelo. Sinto fio a fio ser penteado, segurando reclamações fúteis do quanto senhora Xia He é indelicada. Quando finalmente respirei em alívio por aquela tortura acabar, fui encaminhada para a sala de tecidos.

Minha mãe e algumas senhoras passaram a me vestir, sem nem me perguntar se aquelas cores são as que aprovo. Resolvo não questioná-las. Quero paz, nem que seja por alguns minutos. E bom, só enfim terminaram de me arrumar quando me maquiaram. Uma extravagante - repito -, extravagante maquiagem. Observo mamãe colocar o pente de esmeraldas, com um pequeno lírio de porcelana no alto de meu coque. Olho-a com os olhos arregalados, não esperando que a mesma fosse me presentear com o acessório valioso de nossa bisavó.

Dangerous Woman [Mulan] - Dylan WangOnde histórias criam vida. Descubra agora