Capítulo II

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Robert

Eu senti minha cabeça doer, isso me forçou a acordar. Abri meus olhos, mas eu não conseguia ver nada, estava tudo escuro, a mais pura escuridão.

Me sentei no que supôs ser colchão sob mim, sentindo cada parte do meu corpo reclamar de dor. As memorias do gás voltaram, eu ainda conseguia sentir minha garganta machucada e parede do meu nariz também, lembro-me de sangrar como um porco por eles. Eu também conseguia sentir os machucados em minha pele, onde o gás havia criado ulceras, agora enfaixados.

Haviam faixas em meus olhos também, isso estava me prevenindo de ver, e querendo saber onde eu estava e o quão grave eram meus ferimentos, levei minhas mãos as faixas, retirando-as. Puxei todo aquele pano para baixo, ouvindo alguém gritar.

— Sargento... sargento, não — os sons de um homem correndo pelo chão de cerâmica ecoaram.

Ele segurou minha mão impedindo que eu tirasse a faixa.

— Não tire essa faixa sargento, é pro seu próprio bem — brigou o homem.

Puxei minha mão, mas ele firmou seu aperto.

— Mas que inferno — empurrei a mão do homem — Eu quero ver o que está acontecendo, caralho.

Puxei a faixa, liberando meus olhos, mas eu ainda não conseguia ver nada, seguia a mais pura escuridão. Esfreguei meus olhos, querendo limpar o que estava bloqueando minha visão, mas não estava adiantando, eu não conseguia ver nada ainda. Comecei a esfregar violentamente, sentindo meus olhos arderem.

— Não, não faça isso, por favor, sargento...

Subitamente senti o homem tocar meu ombro e dei um pulo assustado, batendo minha cabeça contra algo duro, uma parede? Só sei que a dor foi terrível e grunhi, a mais pura dor e pura escuridão tomou meus sentidos.

Me debati na cama, desesperado, querendo ver.

— Sargento Somerset, por favor fique deitado eu vou chamar o médico para...

— Eu não consigo ver — tentei tatear o homem, sentindo a mais pura ansiedade subir meu peito — Me ajude eu não consigo ver. Meus olhos...

Comecei a tatear as coisas a minha volta desesperado, senti o colchão e deslizei minhas mãos por ele até esbarrar no que eu acho que era uma bandeja de metal, derrubando-a, fazendo barulho de vidro quebrando e metal batendo contra a cerâmica. Levei as mãos ao ouvido, sentido aquilo ecoar na minha audição.

Comprimi meu rosto sentindo as lágrimas acumularem e escorrerem, eu não conseguia ver elas, sentindo-as escorrer pelo meu rosto. Chutei o lençol que estava em cima das minhas pernas, querendo fugir dali. Senti alguém tocando minha pele e eu pulei assustado da cama, caindo em direção ao chão em um baque dolorido.

Tateei o chão tentando ver o que estava a minha volta, desesperado como uma criança com medo do escuro. Mais lágrimas se juntaram em meus olhos.

— Sargento, por favor se acalme — falou o homem — Doutor Crawford, por favor — gritou.

Deslizei minhas mãos pelo chão frio de cerâmica, desesperado para reconhecer algo. Ansiedade misturada com medo contraindo meu peito dolorosamente, e as vozes de homens falando a minha volta, cochichando, conversando, eu não conseguia vê-los, eles estavam rindo de mim? Eles iriam fazer mal a mim? Deus, será alemães que em pegaram?

Tentei sentir o cheiro dos que estavam a minha volta, alfas, betas até ômegas eu senti, todos aqueles cheiros inundando o meu sentido, cegando-o como se eu tivesse inalado vários perfumes diferentes, deixando-me ainda mais confuso e desnorteado.

O Amor Vendado (livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora