Capítulo VI

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Robert

3 dias depois.

Lentamente eu abri minhas pálpebras, não que isso fizesse diferença, eu seguia fitando a escuridão e ela me olhando de volta. Tentei me mexer e uma pontada horrível no meu braço me fez arquear de dor, fazendo-me relaxar contra a cama, tentando controlar minha respiração. Senti faíscas de dor viajando do meu pulso ao restante do meu corpo e me lembrei de tudo.

Eu me sentia um idiota, havia cortado meus pulsos e nem morrer eu havia conseguido. Havia acovardado e agora eu sentia vergonha de ter tentado. Eu só queria chorar e voltar para casa, eu queria ir para Badminton, para perto do meu pater, de volta para a minha vida normal, longe desse inferno.

Senti lágrimas subindo em meus olhos e deslizando. Eu quase ri naquele momento, eu não sabia que cegos conseguiam chorar, que engraçado.

— Lorde Somerset, você acordou? — ouvi a voz gentil de Dawson ecoar — Tente não se mover, mi lorde, seus pontos estão bem frescos.

Senti que eu não estava de volta a ala hospitalar, eu estava em outro lugar, um quarto separado? Ao menos não tinha os barulhos de outra pessoa dividindo comigo.

Ouvi ele se aproximar e eu levei minha mão boa ao rosto, esfregando minhas lágrimas, não querendo que ele as visse, mas era tarde, senti ele se sentar no colchão ao meu lado e deslizar uma mão gentil por meus cabelos, acariciando-me.

— Somerset...não quero ver mais lágrimas em seus olhos...o pior já passou, vai ficar tudo bem — senti que ele estava sorrindo, seu perfume de leite e mel encheu minhas narinas, me acalmando — Então — sua mão acariciou meu rosto — É o horário do almoço e eu pedi ao Capitão Colby permitisse a troca da sua alimentação, a partir de hoje você vai precisar mais comer aquela sopa horrível.

Uma pausa, sua mão se afastou de mim, e eu me senti sozinho, somente eu e a escuridão, quis que Dawson me tocasse de novo, eu não queria ficar sozinho.

— Então, nós não estamos sozinho — não, não estamos, eu podia sentir o cheiro de outro alfa na sala, ele tinha cheiro de chá earl grey — Doutor Gable está aqui conosco, ele é um psiquiatra, e estava querendo ver a possibilidade de conversar com você um pouquinho.

Outra pausa, dessa vez ele segurou minha mão gentilmente. Normalmente eu me assustava quando alguém me tocava subitamente, mas com Dawson, eu gostava do toque de Dawson, era bom segurar a mão de alguém no escuro.

— Me faria muito feliz se você concordasse em falar com ele, você sabe?

— Eu não sou louco — esbravejei, sentindo a mais pura ansiedade encher meu peito, e temendo que eu tivesse magoado Dawson, eu repeti baixinho — Eu não quero falar com ele, eu não sou louco, eu só...eu não...

Senti a mão dele apertar a minha de forma reconfortante.

— Você não é louco, mi lorde, eu não acho, mas as vezes...mesmo nós homens sãos, precisamos externar nossos problemas antes que eles nos machuquem — uma pausa, eu podia sentir ele pensando — Por que não fazemos assim...enquanto eu pego seu almoço na cozinha...você conversa um pouquinho com o doutor? Coisa de 5 minutinhos, nada mais...por mim?

Pensei por um instante, eu não queria falar com o médico de doido, mas ele também não queria dizer não a Dawson, não enquanto ele estava usando todo seu charme de ômega. No fim eu suspirei e acenei positivamente, comprimindo minhas pálpebras.

Senti ele sorrir, algo no odor dele se tornou mais leve, mais quente e eu sorri notando que eu podia sentir a mudança de humor dele pelo cheiro, eu achei que só animais sabiam fazer isso.

O Amor Vendado (livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora