Capítulo IV

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Robert

2 semanas depois.

Acordar sempre era a parte mais difícil do dia. Em um momento eu estava imergido em meus sonhos, revendo minhas memorias, flash de cores diante de meus olhos, eu conseguia ver claramente os homens em minha casa, em Badminton. O mesmo sonho de novo e de novo, meu irmão, Peter, meu Pater.

E assim tudo se tornava a mais pura escuridão quando eu abria os olhos.

Os sons a minha volta era a primeira coisa que atraia minha atenção, os enfermos conversando, o solado do sapato dos enfermeiros batendo contra a cerâmica, as coisas caindo no chão, desde que eu havia perdido minha visão.

Eu acordava, mas não queria. Então logo eu fechava meus olhos novamente, fingindo para mim mesmo que aquela escuridão diante de meus olhos era simplesmente pelas minhas pálpebras cortando a luz, e quando eu as abrisse estaria tudo normal novamente. Relaxei contra a cama, sentindo meu corpo pesado demais para me levantar.

Me sentia o mais puro inútil, invalido. Eu não podia fazer outra coisa além de ficar deitado na cama o dia todo, com a certeza que se eu me levantasse sairia derrubando tudo e fazendo vergonha a mim mesmo. Essa dura verdade me fez querer chorar, senti até as lágrimas se acumulando em meus olhos, mas eu as reprimi.

Eu também estava cansado de ser fraco e chorão.

Só queria morrer, mas nem isso eu podia, ao menos eu não sabia como. Não conseguia ver onde estavam as armas ou os instrumentos cirúrgicos, se eu conseguisse pegar um bisturi, estaria feito. Mas eles escondiam e mim ao menos não havia nem um perto e eu não queria levantar da minha cama e zanzar cegamente atrás.

— Bom dia, tenente Somerset — ecoou a voz do enfermeiro Dawson— Trouxe seu café da manhã.

Eu não podia nem morrer de fome, Dawson todo dia estava lá quando eu acordava, com sua sopa sem sabor. Ele era cheio de bondade, mas também cheio de pena, e essa pena, essa doo, me deixava enjoado, com mais nojo de mim mesmo.

— Eu vou te tocar, okay? — avisou ele, e o aviso era bom.

Ele acariciou meus cabelos primeiro, como ele sempre fazia, medindo minha temperatura com a mão em seguida.

Senti ele arrumando as almofadas atrás de mim.

— Você pode encostar aqui para comer — ele direcionou meus ombros a encostar nos travesseiros — Você dormiu bem?

Eu não respondi nada, não por grosseria ou por que eu não gostava de Dawson, pelo contrario eu gostava muito de Dawson, ele era o mais gentil dos enfermeiros, o único que me tratava como um homem normal, que agia como se eu fosse alguém ainda.

Sua voz também era diferente, era sempre em tom baixo, mas alto o suficiente para ser ouvida, mas não para soar como ordens. E ele tinham um cheiro delicioso de ômega, leite e mel. Um cheiro que conseguia me acalmar nas minhas crises em um nível primitivo.

Mas mesmo assim, com toda essa bondade honesta, eu não consegui abrir minha boca para responde-lo, eu não conseguia falar com ninguém a dias, eu só não queria falar.

E como sempre, ele não se ofendia comigo e seguia sendo gentil.

— Bem eu dormi muito bem, mais do que o normal, pois o enfermeiro que dorme no bunker de cima estava de plantão...e ele ronca — murmurou e riu em seguida, uma risada deliciosa.

Senti o inicio de um sorriso coçar no canto do meu lábio, mas eu não consegui sorrir, somente continuei olhando a escuridão diante dos meus olhos e ouvindo Dawson.

O Amor Vendado (livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora