James
— Não faça isso comigo, Somerset, por favor — falei desesperado olhando os olhos dele se fecharem, escondendo sua íris embranquecida — Doutor! Socorro.
Continuei apertando o sangramento, sentindo o sangue dele encher minhas mãos. Olhei apavorado na direção dele, observando seu rosto se tornar cada vez mais pálido. Por que ele havia feito isso? Por Deus isso era horrível. Olhei na direção dos cacos de vidro sobre a cama, ele havia se cortado com vidro. Por Deus, ele não podia morrer.
William veio correndo na minha direção, olhando apavorado na minha direção.
— Não fique olhando, William, me ajude. Segura o pulso dele — indiquei o braço a ele, e William correu na minha direção colocando a mão onde eu estava pressionando.
— Oh, Deus lobo, que bagunça, vou ter que lavar todos esses lençóis — gemeu.
Isso me deu uma ideia. Peguei o lençol de seda e puxei, rasgando-o. William olhou ainda mais chocado na minha direção, como se eu tivesse dado um tapa na cara dele.
— James! Você não pode fazer isso, o capitão Colby vai matar a gente, caralho! — brigou em um tom baixo, como se estivesse medo do próprio capitão ouvir a gente.
— Cala a boca, William, e sai dai — empurrei a mão dele do pulso, e envolvi a tira de seda envolta, comprimindo. Ele perderia a mão, mas não ia morrer.
Eu não ia deixar ele morrer. Apertei até prender todo o sangue dentro dele. Olhei na direção de William e gritei.
— Vai buscar o doutor, rápido.
— Qual deles? — gaguejou a resposta, me olhando ainda confuso.
— Qualquer um! — e assim ele saiu correndo gritando.
Olhei na direção de Somerset e por todo o sangue espalhado em seu pijama, senti o desespero em meu peito crescer mais e mais. Eu havia sido treinado para uma situação como essa, mas nem todas as respostas estão em um livro, um livro não ensina como lidar com os nossos próprios sentimentos.
Senti lágrimas enchendo meus olhos.
— Dawson — ecoou a voz de Crawford — O que aconteceu.?
Olhei na direção dele e minhas lágrimas deslizaram pelo meu rosto. Ele se direcionou para inspecionar o pulso de Somerset.
— Ele...ele se cortou...cortou o próprio pulso — minha voz falhou e eu me senti um menino novamente. Eu queria que alguém me abraçasse e dissesse que tudo ia ficar bem. Que logo Somerset ia ficar bem.
Crawford me olhou com um olhar ruim, eu não sabia descrever, havia desprezo, mas também havia maldade. E por um longo minuto eu tentei entender aquele sentimento, até que ele externou.
— Você deixou objetos cortantes perto dele? — sua voz era firme, mais uma acusação do que uma pergunta.
— Não.
— Não minta para mim, você deixou ou não? — repetiu no mesmo tom.
— Não, ele quebrou a xícara de chá e usou o vidro para se cortar...eu... eu dou chá para todos os pacientes, todos no mesmo tipo de xícara, xícaras do mesmo jogo, doutor — mais lágrimas deslizaram pelo meu rosto e eu disse, baixinho — Isso não é minha culpa.
Mas ele continuou me olhando, do mesmo jeito cruel, como só um alfa conseguia ser. Seu odor de laranja e coisas mais cítricas rastejava por debaixo de minha pele, em assustando no fundo de minha alma. Eu não sabia se ele estava fazendo de proposito ou eu estava exagerando, mas ele estava se impondo como alfa em cima de mim e me assustando em um nível primitivo.
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O Amor Vendado (livro I)
Historical FictionApós uma exposição ao gás mostarda nas trincheiras, o jovem duque Robert M. Somerset, perdeu totalmente sua visão, o deixando completamente desacreditado em seu valor ao mundo a sua volta, indigno de cumprir seus papeis como alfa e duque na sociedad...