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Ester

Léo foi subindo o morro e eu fui só escutando ele contar as histórias de como minha avó cuidava de todo mundo ali e como as coxinhas dela eram maravilhosas, enquanto eu olhava pela janela e via as pessoas subindo e descendo o morro, e algumas meninas me olhavam com cara de nojo, eu hein.

Não demorou muito chegamos na frente da casa da minha avó, não mudou nada desde a última vez que vim aqui, só algumas plantas a mais.

- Ô DONA DINÁ - Léo gritou assim que desceu do carro e foi me ajudar a descer a mala, logo minha avó apareceu na porta.

- Ai meu Jesus! Minha Estrelinha tá aqui graças a Deus! - ela disse estendendo as mãos pro céu e vindo me abraçar.

- Que saudade eu tava da senhora, vó! - eu disse a abraçando e não consegui segurar o choro, pensando que finalmente eu estava a salvo.

- Que foi, Estrelinha? O que aconteceu? - ela disse me soltando e me olhando daquele jeito de preocupação dela.

- Eu conto tudo, vó, mas vamo tomar um açaí que só Deus sabe a saudade que eu tô de tomar um açaí de frente a pracinha.

- Claro, eu só tenho que chamar a Maria - ela foi indo pra dentro e eu fiquei sem entender nada, logo ela voltou com uma japinha que parecia ter a minha idade - Estrela, essa aqui é a Maria, mas todo mundo chama ela de Japa, ela tá morando de favor aqui comigo até se ajeitar.

- Prazer - ela disse e me abraçou - coincidência vocês estarem indo tomar açaí, meu turno lá começa daqui a pouco, a gente pode ir junto.

- Eu vou junto! - o Léo gritou e já veio agarrar eu e a Japa pelo braço, descendo o morro com a gente e minha avó ia vindo do lado.

Chegamos na lanchonete e eu sentei, pedi meu açaí e comecei a contar tudo pra eles, contei sobre o Pedro, o início do namoro, como ele me afastou de todos, contei das brigas, do ciúmes possessivo, traições, agressões e do estupro.

- Eu vou matar esse moleque! Ele não é homem! É moleque! - Dona Diná já tava gritando e dava pra ver a raiva nos seus olhos.

- Pô, ele é da polícia Dona Diná, dá pra mexer com ele não. - a Japa falou tentando acalmar minha avó.

- Como não dá? Deixa eu botar o pé em SP que na primeira oportunidade eu vou caçar esse filho da puta - o Léo gritou também, chamando a atenção de algumas pessoas, incluindo o Loirinho da barreira e um cara que andava com ele.

- Coé, Léo? Que brabeza toda é essa? - o cara ao lado do loiro disse, se aproximando da nossa mesa - Bença, vó - estendeu a mão pra minha avó.

- Deus te abençoe e te proteja, meu filho.

Léo explicou a história pro Loiro e pro outro cara, logo eu que nem queria que isso se espalhasse muito, agora já tem gente que eu nem conheço sabendo.

- É bom tu ter me contado, Léo. Esse cara pode querer vir atrás dela e foder nossos esquema tudo - o cara disse e o Loiro concordou - e tu nem me apresentou tua neta, vó, essa é a famosa Estrelinha? - perguntou me lançando um olhar malicioso, corei na hora.

- Essa é minha menina e nova moradora, Ester, mas eu chamo ela de Estrelinha - eu estendi a mão e fiz um toque com ele - Ester, esse é o Alemão, meu outro netinho de criação, cuidei desse menino desde que era pequeno, você conheceu ele mas não deve lembrar, era bem pequenininha.

Então esse gostoso é o dono do morro? Se bem que o rosto dele me é familiar...

- Pera, tu é o Thiti? - disse já me levantando pra dar um abraço nele, e vi o Léo e o Loirinho rindo do apelido.

- Thiti não, Estrela, agora é Alemão - ele disse me estendendo os braços, vi que também me reconheceu.

Eu abracei ele e ouvi minha avó falando "Sabia que iriam se reconhecer, não se desgrudavam!"

- Foi mal aí mas tá em cima da hora de eu buscar a Gabi, daqui a pouco eu volto aqui com ela - Alemão falou saindo do abraço e se despediu de todo mundo, pediu bênção pra minha avó e me deu um beijo na testa, saindo dali, e o Loiro ficou, me olhando como se eu fosse uma presa em potencial.

Do outro lado da rua reparei em uma menina me olhando feio, meu pai o barraco vem.

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Continua

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