Após a Guerra

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Harry abriu os grandes e misteriosos olhos verdes. Seu rosto evidenciava o medo que sentia, as orbes girando ao redor do quarto tão conhecido por si, examinando qualquer perigo que espreitasse por entre as cortinas vermelhas e douradas de sua cama, no dormitório da Grifinória. Por um segundo, jurava que tinha ouvido o som de uma serpente. O corpo paralisado, os pelos arrepiados dos pés a cabeça como se fosse um ouriço e a respiração pesada indicavam tudo, menos uma boa noite de sono.

"Meu nome é Harry Potter, eu tenho dezessete anos. Eu sou aquele que sobreviveu, eu sou O Eleito. Eu derrotei Voldemort. Dumbledore está morto. Snape também morreu." — Ele conseguia sentir o cheiro do sangue que jorrava de Snape enquanto ele dizia que Harry tinha os olhos de sua mãe. — "Eu venci, eu estou vivo. Hermione está viva, Ron está vivo. Hogwarts está se recuperando. Não há mais o que temer".

Com esses pensamentos em mente, o coração de Harry desacelerou e entrou em um ritmo calmo e constante. Sentou-se devagar na cama, inalando o cheiro de suor e hormônios do dormitório masculino da Grifinória. Tinha cheiro de Casa.

"Repugnante, típico de Grifinórios" A voz de Draco Malfoy se fez presente em sua cabeça. Desde a batalha contra Voldemort e o convite para que os alunos do último ano pudessem estudar aquilo que perderam devido ao caos, Malfoy foi visto em raras ocasiões. E apesar da memória viva que tinha de um Malfoy cheio de si, tudo o que seus olhos veem agora é um garoto cansado e amedrontado, andando como um fantasma pelos corredores. Mas não era por isso que Potter sentiria pena do loiro. Ele merecia todo o desprezo que o mundo da magia pudesse lhe oferecer. O Ministério da Magia teve compaixão suficiente inocentando o pai e a mãe dele, pois Lucius Malfoy entregou vários Comensais da Morte as mãos do Ministério, em troca de perdão. Já Draco, bom, era apenas um peão nos jogos do Senhor das Trevas, além de ser menor de idade, e por isso foi facilmente inocentado. Só a visão de Malfoy em uma cela precária em Azkaban fazia Potter estremecer por inteiro, mesmo que - em partes, grandes partes de si- desejasse que ele sofresse.

Levantou-se, sonolento, e tomou um longo banho. Era domingo, e Potter estava chateado por não poder dormir mais, e concluiu que seria uma boa ideia andar até Hogsmeade para tomar uma boa cerveja amanteigada.
Vestiu-se, deu uma olhada na cama de Ron e percebeu que ele não estava lá. Mais uma dentre as várias noites que fugia com Hermione para fazer sabe lá Merlin o quê. Na verdade, tinha uma boa ideia do que faziam, mas continuaria fingindo que não. Era melhor para sua sanidade mental, que ele já havia perdido há tempos. Pensou em Gina e em como o romance deles havia acabado tão rápido quanto começou, e lembrou-se de algo que ela havia dito para ele quando terminaram. "Não podemos ficar juntos porque temos um trauma em comum. Isso não é amor. Mas, Harry, eu ainda quero ser sua amiga." — Ele nem ficou triste, de fato, pois ela estava certa. E era uma boa amiga.

Se dirigiu ao Grande Salão, onde avistou os longos cabelos de Hermione sentada ao lado da cabeleira de fogo do melhor amigo de Harry. Enquanto atravessava, sentiu um desconforto, como se alguém o observasse, e logo encontrou o causador do mal estar. Draco pigarreou, observando a torrada em sua mão com muita concentração, como se ela tivesse se tornado a coisa mais fascinante do mundo. Várias vezes aquilo tinha acontecido, parecendo que o Malfoy queria dizer alguma coisa mas não conseguia, ou simplesmente não podia. De qualquer jeito, Potter não dava a mínima, então seguiu seu percurso e sentou-se em frente aos amigos.

— Bom dia, Harry. Dormiu bem? — Hermione lançou um sorriso para ele, as mãos segurando uma xícara fumegante de chá.

Harry pigarreou. — Mais ou menos. Você sabe, os pesadelos...— Calou-se. Não queria estender muito o assunto.

— A Hermione não tinha te dado dicas para melhorar os pesadelos? — Ron disse, de boca cheia. A namorada deu um tapa em sua mão, o repreendendo. Ele apenas lançou um olhar em resposta que dizia "Você está parecendo a minha mãe", e continuou comendo.

— Você diz, falar meu nome, minha idade, que eu estou bem? Hm, sim, eu faço, costuma me acalmar. Eu só não entendo como. A Mione diz que é algo que ela leu em um livro de psi...psicofagia. — Harry se atrapalhou.

— É psiclorofina, idiota. — Ron disse, enrolando um dos cachos de Hermione na ponta dos dedos. Parecia cansado, como se tivesse passado a noite acordado. Harry não ousava pensar a respeito do que manteve o amigo tão ocupado.

— Pelas barbas de Merlin, é psicologia! p-s-i-c-o-l-o-g-i-a. E é o estudo da mente, dos comportamentos, sentimentos humanos. Se eu fosse Trouxa, com certeza estudaria isso. Me surpreende que você não saiba sobre, Harry, você viveu muito tempo no mundo dos trouxas. — Deixou que Ron fizesse cafuné em seus cabelos. Parecia um pouco cansada, mas sempre atenta. Harry admirava a dedicação da amiga em tudo o que fazia.

Uma voz grossa e familiar interrompeu a conversa. — Se esqueceu, Granger? Seu queridinho amigo ficou trancado em um armário a vida toda. — Malfoy riu, sem emoção alguma. — Não culpo seus tios, Potter, eu facilmente te confundiria com um animal também.

O sangue de Potter esquentou como o inferno, e ele se levantou tão rápido que o chão pareceu tremer. Não se ouvia mais nenhuma conversa, todos observavam e especulavam como acabaria aquela briga. Ótimo, Potter pensou, mais uma vez atenção desnecessária voltada para si.

— Você não deveria estar preocupado com as propriedades que o seu pai está perdendo toda semana, Malfoy? Ou quer tentar esquecer o fato de que você está falindo? Eu até entendo você querer chamar a minha atenção, sabe, já que em pouco tempo perderá todos os seus amigos. Se é que já não perdeu. — Olhou para os lados de Malfoy. Ele veio sozinho. Nada de seus guarda-costas pseudo amigos para lhe escoltarem. — Se der uma entrevista ao Profeta Diário, quem sabe alguém sinta pena de você. É a única coisa que você merece. — Os dois se encararam por segundos que pareceram levar uma eternidade, e ouvia-se apenas a respiração das pessoas no salão.

— Seu maldito! — Malfoy vociferou, e estava a um centímetro de sua varinha quando Hermione se levantou como um raio e lhe lançou um olhar severo.

— Malfoy. Não. — Ela estava com a mão firmemente em volta de sua varinha, pronta para qualquer coisa. — Todos já perdemos o suficiente nos últimos meses. Você sabe mais disso que nós.

Malfoy lançou um olhar enviezado para o trio de ouro, e Harry já se preparou para socar o rosto do loiro caso ele ousasse chamar sua melhor amiga de sangue-ruim. Então, surpreendentemente, ele ajeitou a gravata verde e, com um olhar tão agressivo e frio como uma lâmina, saiu tão rápido quanto chegou. Potter desabou na mesa, subitamente sem apetite. O salão voltou a conversar assim que os cabelos bagunçados de Draco desapareceram na esquina do corredor. Potter estava confuso com a agressividade de Malfoy, pois o mesmo estava quieto haviam semanas. Estava completamente enganado, pensou, se por um segundo acreditou que ele podia melhorar. Draco Malfoy sempre seria medíocre, um lixo. Nada nunca faria Potter mudar de ideia em relação a isso.

— Você está bem, Harry? — Ron parecia preocupado. Harry se segurava com força a mesa, os nós de seus dedos ficando brancos como a neve, como se a qualquer momento fosse cometer uma loucura, que ele sabia que cometeria, pois já se imaginava usando das Três Imperdoáveis no loiro.

— O mundo seria um lugar fantástico sem ele, não seria? Se eu pudesse realizar um pedido, seria que ele fosse apagado, esquecido para sempre do mundo. Seria um favor a todos. — Pensou em voz alta. Enquanto se acalmava, percebeu o peso de suas palavras, mas decidiu ignorar a culpa que se instalava em seu coração.

— Você está certo. São pessoas como ele que fazem com que o mundo seja um lugar tão hostil. — E com essa fala de Ron, os três amigos mudaram de assunto. Mais tarde iriam fazer uma visita a Hagrid.

Ah, Harry Potter, cuidado com as coisas que deseja.



Capítulo introdutório curto apenas para dar um gostinho da história. O que acharam? tem alguém aí? KKKKKKKK
A fanfic não será longa e eu não irei demorar para atualizar! Obrigada pelo apoio desde já.
Até o próximo capítulo.

O Garoto Que Foi Esquecido • DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora