Sonhos, Sexo e Medo

31.7K 3.3K 18.7K
                                    



— Pensei que iria demorar mais para voltar. — Disse a voz. — Vejo que a mudança já aconteceu, então.

— O quê? — Harry sentiu um calafrio correr por sua espinha e todos os pelos de seu corpo se arrepiarem. Os dedos dos pés pinicavam com a textura da terra e grama sob eles, além de estarem dormentes com o frio. Ele piscou uma, duas vezes e inspirou devagar o ar limpo e agradável, o cheiro das plantas aquecendo seus pulmões. Ele estava de volta à Floresta Proibida, as costas contra a mesma árvore do outro sonho. A voz, ainda sem corpo, vagava ao seu redor, estalando galhos e fazendo as belas folhas farfalharem. — O que disse?

— Eu disse...— A voz tinha um tom de riso. — Que você não demorou para vir me visitar de novo. Sabe, é muito difícil falar com você. Principalmente com todas as poções para dormir que eu sei que toma.

— Por que eu te visitaria? — Harry se grudou a árvore como se pudesse ficar invisível. — E como sabe sobre as poções?

— Ora, Eu.... — A voz se agitou, travou na metade da frase e não disse mais nada. Pelo contrário, desviou o assunto. — O que eu sei não é importante. Então, pensou sobre o que conversamos na outra noite?

— Aquilo não foi bem uma conversa. — Harry se ouviu dizer, não controlando as palavras que saiam de sua boca.

— Como assim? — A voz parecia divertida de novo, e Harry ficou irritado.

— Para ser uma conversa, as duas pessoas precisam se comunicar. E só você falou da última vez.

— Não me lembro de ser tão respondão. — A voz riu.— Tudo bem, certo, o que quer me perguntar?

Harry estava preparado para uma discussão acalorada, uma disputa para conseguir informações. Não esperava ganhar espaço para falar tão facilmente assim. Essa facilidade o confundiu, e ele de repente se viu sem palavras. Ele sabia onde estava, sabia que era um sonho, a voz nunca revelaria seus motivos se ele simplesmente perguntasse "O que quer comigo?", e tendo consciência de tudo isso, o menino percebeu que era inútil fazer qualquer pergunta. Teria de jogar aquele jogo. Então Harry decidiu falar a coisa mais insensata possível. — Não sei.

— Eu sabia que você iria dizer isso. — Ronronou a voz. Harry notou algo de muito familiar na maneira como falou, mas não conseguia associar um rosto a essa voz. Ele sentia como se estivesse ouvindo a um amigo que não via há muito tempo. Mas como a voz seria uma pessoa? Era só um sonho. Produto da cabeça de Harry. Certo?

— Sobre o que estava falando antes? — Harry perguntou. — Sobre uma mudança...

— Ah, sim. Noto que você já passou a se sentir diferente. Mais confuso, talvez até mais imprudente, mas certamente você está diferente .— A voz respondeu. — Consigo sentir.

— Não entendo...não sei o que quer dizer. Isso é alguma coisa ligada a Magia das Trevas? Tem algo a ver com Voldemort? Eu derr-...

— Por Merlin, menino! Você não pode achar que todos os problemas de sua vida giram em torno de Voldemort! — Harry se surpreendeu pela voz não ter medo de falar o nome do Lorde das Trevas. — Como diria Rony, ele está Mortinho da Silva. Que o inferno o esteja recebendo bem.

— Você conhece Rony. — Foi o que Harry conseguiu dizer.

— Claro que conheço! — A voz parecia querer dizer mais alguma coisa, porém se conteve. Pigarreou, e continuou dizendo. — Sei muitas coisas sobre você, Harry.

Essa voz só pode ser fruto da minha cabeça.
É só um sonho, não é real. — Harry pensou.

— Eu não sou da sua cabeça! Quer dizer, eu estou dentro de sua cabeça, mas eu não sou de lá, entende? — A voz disse, exasperada. Só então Harry percebeu que a pessoa que conversava com ele tinha lido seus pensamentos.

O Garoto Que Foi Esquecido • DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora