Beijos, Feitiços e Quadribol

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Harry olhou para Draco, dormindo na cama ao lado.

O sonserino estava virado de frente para ele, os lábios entreabertos, a franja caindo sobre os olhos fechados e os longos cílios loiros fazendo sombras sobre a bochecha levemente corada.

Harry registrou aquele momento em sua cabeça. Ele não podia esquecer. Não podia esquecer do jeito como o Malfoy encolhia as pernas ao dormir, ou como revirava os olhos e estalava a língua no céu da boca toda vez que acreditava que Harry estava falando algo estúpido – ele fazia isso frequentemente. Potter não podia se esquecer da elegância ao andar, da postura sempre ereta como de um aristocrata, dos traços finos e da pele tão bonita que parecia frágil a ponto de se quebrar. Draco era um garoto de porcelana, perfeito naquele momento. E Harry estava apavorado com a ideia de se esquecer daquilo.

Seu coração se apertou dentro do peito. Ele tinha dois caminhos que poderia seguir. Duas estradas tortuosas que levariam a finais terríveis. Ele podia tentar retardar o processo de desaparecimento do sonserino, tentar ao máximo se afastar. Não se aproximar o suficiente para gostar tanto de Draco a ponto de fazê-lo desaparecer. A ideia de que o ódio era a única coisa que podia salvá-lo era tão absurda, tão suja, tão seca enquanto descia pela garganta de Harry que ele se recusava a acreditar.

E havia o outro caminho. Ser o melhor amigo que Draco poderia ter enquanto tivessem tempo, fazer memórias, e se certificar que elas se enraízem tão fundo na cabeça do grifinório que ele nunca se esqueceria do Malfoy. E mesmo se o sonserino sumisse por causa disso, Potter continuaria lutando por ele. E lutaria até ele voltar. E repetiria o nome do garoto para si mesmo, todas as noites, se fosse preciso.

Os dois caminhos eram terríveis. Era como escolher entre andar sobre pregos ou sobre o fogo, ambos estando descalço.

Ele se levantou da cama lentamente, os pés encostando no piso frio. Seus pelos se eriçaram com a falta do calor de suas cobertas, e mesmo assim, ele deu um passo para frente. E mais outro. E outro também. Até estar com os joelhos apoiados contra os lençóis onde Malfoy estava deitado. Harry se sentou com delicadeza na borda da cama, o tempo todo fitando o rosto calmo do rapaz em sua frente.

O moreno estava sendo imprudente naquele momento. No meio da noite, se aproximar, olhar para Draco daquela maneira. Era impróprio, era errado, era maior que ele. Ele ergueu a mão esquerda e encostou levemente contra as costas quentes de Malfoy, os dedos acariciando o tecido fino da camiseta. Pressionou a palma da mão naquela região e fechou os olhos, prendendo a respiração.

E ele ouviu. O som começou a retumbar dentro dele em ecos crescentes de uma música silenciosa. Os batimentos do coração do Malfoy, calmos, ritmados, bombeando o sangue. Ele estava vivo, ele estava ali. Aquilo preencheu lugares em Harry que ele nem sabia estarem vazios. E ele não pôde evitar sorrir daquela vez. Porque, naquele segundo em que duas batidas do coração do Malfoy se alinharam com as batidas do coração de Potter, o moreno não sentiu medo do que poderia acontecer. O jogo ainda não tinha acabado. Eles não tinham perdido.

Ele tirou a mão das costas do Malfoy. A respiração do garoto parecia mais forte. Quando Harry abriu os olhos, as orbes azuis acizentadas o fitavam como se estivessem vendo todo o universo.

— Oi. — Draco falou.

Os dois se encararam enquanto Harry tentava se recompor do susto que levara.

— Você tem sono leve. — E Harry sorriu, a vergonha por ser pego naquela situação o dominando.

— Como uma pluma. — comentou, a voz ainda rouca de sono. — Eu estava tendo um sonho estranho. Foi bom você ter me acordado. — Draco engoliu a saliva e seu pescoço tremulou. Os dois estavam envergonhados, se esquivando um pouco. Em um movimento, o garoto se sentou e colou as costas contra a cabeceira da cama. Eles ficaram mais distantes.

O Garoto Que Foi Esquecido • DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora