Harry teve a pior noite de sono de sua miserável existência. Quando seus músculos relaxavam, e os ossos também, e ele se deixava levar pela dormência gutural que se apossava de seu corpo, a mente gritava para que ele ficasse bem acordado.
Ele abria os olhos, procurando por Malfoy, e apenas conseguia encostar a cabeça no travesseiro quando sentia a mão do loiro - a que ainda restava - acariciando suas costas. Era uma mão que dizia eu estou aqui, Harry. Eu sempre estarei. Jamais te deixarei.— Shhhh...— Draco dizia, quase como se cantasse uma canção de ninar só para Harry. — Vai ficar tudo bem. — E o Potter estava tão cansado, e aquela mão quente era tão real, que por alguns segundos naquela madrugada ele até se esqueceu de que a qualquer momento ela podia deixar de ser.
O medo era uma bola maciça no estômago do grifinório, e ele queria vomitá-lo inteiro. Queria expurgar todo aquele medo de dentro de si, porque se ele não pudesse estar em condições de ajudar Draco ninguém mais poderia. Então ele se obrigou a dormir, mesmo que por curtíssimas horas.
Ele não podia deixar de pensar no sonho que tivera. Seu eu mais velho o dizendo que ele ia se esquecer, que Harry ia sucumbir ao desaparecimento de Draco, e que não poderia salvá-lo. O grifinório amaldiçoava profundamente o dia em que começou a ter aqueles sonhos difusos e sem sentido, e agora que estavam no fim da jornada mais insana de sua vida, eles pareciam não ter ajudado em nada.
O relógio na parede os despertou antes de o sol nascer, e Potter deduziu, dentro de sua cabeça confusa e inchada de pensamentos, que aquele relógio cuco era a trilha sonora do apocalipse. Era como ele se sentia: na beirada do fim do mundo. O quarto estava vazio; provavelmente os outros já estavam na Sala Precisa, esperando-os.
Harry se levantou e acompanhou um Draco igualmente derrotado até o banheiro e abriu o chuveiro para o sonserino, que encontrava dificuldades em tocar qualquer coisa. O loiro não conseguia mais pegar nas mãos a escova de dentes, ou as roupas de Harry, ou até mesmo sua própria varinha. Como se o universo o estivesse chutando porta afora, como se a chama que mantinha Draco ali estivesse fraquinha, e todas as circunstâncias soprassem para apagá-la de vez. O moreno se perguntava quando os pés de Draco não conseguiriam mais tocar o chão, e ele escorregasse para um limbo onde ninguém poderia alcançá-lo, para um lugar onde todas as coisas começam e terminam, e eventualmente ele se tornaria poeira cósmica enquanto todos em Hogwarts continuariam vivendo suas vidas.
Em um momento do banho, em que Harry lavava os cabelos do Malfoy com cuidado e carinho, um pensamento tão arrasador perfurou o peito do moreno que ele deixou de tocar os cabelos de Draco bruscamente. Embaixo d'água, o loiro o encarou nos olhos.
— O que foi? — Ele sussurrou.
Harry teve forças apenas para dizer:
— Não é nada.
Draco deu um sorrisinho travesso que não combinava em nada com os olhos tristes.
— É o que serei em algumas horas.
Harry o fuzilou com o olhar. Tamanha foi a raiva que sentiu daquela frase que uma pontada de dor em sua têmpora o fez perder o equilíbrio por um instante.
— Não diga isso. Jamais repita isso. — E voltou a enxugar os cabelos do loiro.
— Harry. — O sonserino chamou, mas não obteve respostas. — Cicatriz, olhe para mim.
— Estou olhando. — A verdade era que Potter andava encarando a rachadura dos ladrilhos da parede haviam bons dez minutos.
— Não está, não. — Draco usou a mão ainda visível, porém opaca, para segurar seu queixo e força-lo a olhar para si. Foi um toque tão firme. A única coisa que Malfoy ainda conseguia tocar era Harry sem que seus dedos o atravessassem. Os olhos verdes se chocaram com os azuis. — Agora sim, coisa linda. Agora você me vê. O que foi?
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O Garoto Que Foi Esquecido • Drarry
FanficUm desejo feito por Harry Potter faz com que todos esqueçam da existência de Draco Malfoy, e apenas Harry pode vê-lo e lembrar-se dele. Agora, ele precisa se decidir entre ajudar a alguém que sempre o detestou, ou sucumbir ao ódio que veio alimenta...