Poções e Cavalheirismo

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— Então, é basicamente isso. Ou estou esquecendo de algo? — Harry se virou para encarar Malfoy, que negou com a cabeça.

O sol há muito se extinguiu e deixou de incidir seus raios claros e quentes pelas janelas amplas e altas da biblioteca. Um silêncio chocado perdurou pelas últimas duas ou três horas, nas quais Harry e Draco haviam relatado, com o máximo de exatidão possível – mas sem enrolar demais – tudo o que achavam crucial para fazer Hermione e Rony se lembrarem da existência do Malfoy. Citaram as brigas mais importantes, o comportamento nada agradável que o loiro tinha para com eles e vice-versa, e todos os acontecimentos que julgaram serem realmente relevantes.

Até mesmo as ofensas não foram poupadas, então Harry disse com o máximo de calma possível que Draco se referia aos amigos como "A sangue-ruim e o pobretão defensor de trouxas". A garota estremeceu com o xingamento, mas nada disse, e Harry notou a tensão entre as sobrancelhas de Draco em preocupação. Não era como se o menino tivesse subitamente mudado seus ideais, não, parecia mais aterrorizado. As mesmas pessoas as quais ele tinha dedicado todo o seu ódio durante seis anos agora eram as únicas capazes de ajudá-lo, e teriam todo o direito de se recusarem por tudo o que ele já havia feito a elas. O destino, na visão de Harry, era irônico. Já para Draco, era um desgraçado.

O Malfoy tinha consciência de que se estivesse no lugar deles, nunca ajudaria alguém que o ofendeu. Ele podia ser ruim, mas não era tão burro assim. Sabia se colocar no lugar do outro, de vez em quando, apesar de seu pai puni-lo a cada vez que demonstrava compaixão. Não gostaria de ser chamado de sangue-ruim ou pobre, mesmo se fosse ambos. Então por que faço isso? O pensamento passou rapidamente por sua cabeça e ele logo o chutou para fora de sua mente. Não era hora para heroísmos, não da parte dele, e o que seu pai o ensinara era lei. Se o pai dissesse para odiar trouxas, assim Draco faria. Sem questionar.

Mas também havia o lado bom. Quer dizer, não havia nada de bom naquilo, mas certamente valia de alguma coisa. A redenção de Draco no sexto ano. Harry explicou para os melhores amigos que só estava vivo porque Draco negou reconhecê-lo para Bellatrix. Também citou que o menino não tinha matado Dumbledore mesmo com a própria cabeça e a de seus familiares a prêmio, e também disse que a mãe de Malfoy havia salvado sua vida por conta de Draco. Mesmo que Harry o odiasse, não podia negar que o comportamento do loiro fora crucial para a própria sobrevivência e a dos amigos, e também não podia negar que, mesmo que Draco reproduzisse os pensamentos preconceituosos dos pais, ele não era mal o suficiente para seguir Voldemort. Nunca gostaria dele, nunca o veria como mais que um maldito sonserino do nariz empinado, mas não podia tirar o mérito do garoto por toda a ajuda. Só então Harry se deu conta de que nunca havia agradecido. Mas talvez fosse tarde demais para isso.

— Então o Comensalzinho da Mortinha está em apuros e pede, por favor, por nossa ajuda? — Rony disse com a voz tremendo de raiva.

— Seu amigo Weasley acabou de enfiar na bunda as últimas três horas de conversa, Potter. — Draco disse, impaciente. Suas costas estavam doendo de tanto ficar sentado. Logo suas palavras apareceram no quadro negro, e Rony grunhiu de raiva.

— Ora, eu que vou enfiar essa cadeira inteira no seu traseiro sonserino! — Rony disse, fazendo um gesto obsceno com os dedos médios das mãos.

— Cale-se, Rony! — Hermione disse decidida, mas também parecia bem irritada. — Harry, sinto falar que não me lembro de nada do que disse. Absolutamente nada. — Pausou. — Mas também agradeço por isso. Se você estiver falando a verdade...

— Eu estou falando a verdade! — Harry gritou.

— Está bem! Mas o que quero dizer é que não entendo o porque de ajudar uma pessoa que claramente merece o que está acontecendo a ela! Sem querer ofender, sabem...

O Garoto Que Foi Esquecido • DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora