Cansado de Fugir

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— Me diga logo o que você quer para que eu possa seguir com a minha vida. — Harry disse ao sentir a grama alta formigando embaixo de seus pés descalços. O garoto tirou os óculos do rosto e coçou os olhos, a mente embaralhada como sempre acontecia quando ele estava sonhando. Era assim que diferenciava o que era real do que não era. Analisando a própria mente.

— Sei que está farto disso. Também estou. — A voz melodiosa e masculina respondeu entre os ventos e os uivos de um lobo ao longe.

— Então pare de me atormentar. Deixe-me dormir em paz.

— Eu quero isso tanto quanto você, pirralho.

Harry deu uma risada sarcástica e longe de ser realmente divertida.

— Saia de dentro da minha cabeça, se quer tanto assim.

A voz demorou a responder, pesando as palavras.
— Sabe, Harry, a linha entre o que você quer e o que você precisa é tênue demais. Você quer se ver livre de mim, mas precisa da minha presença em seu sono. Eu não queria estar aqui, mas preciso te ajudar a seguir seu caminho. Esse é o meu papel.

Harry começou a andar em direção a parte escura da floresta, de onde a voz sempre parecia emergir das sombras. Estava determinado a vê-la, queria respostas. Queria tantas coisas. E esse era o problema. Ele nem sabia o que precisava. Então parou no meio do caminho e olhou para o céu, a lua banhando seu rosto juvenil. Suspirou, rendendo-se.

— Do que eu realmente preciso?

— Fico feliz que você tenha perguntado. Achei que teria de amarrá-lo a uma cadeira para que prestasse atenção em mim. — A voz tinha um tom de sorriso.

— Eu sempre estou prestando atenção em você.

— Será mesmo?

Harry franziu as sobrancelhas grossas.
— Que quer dizer com isso?

— Para alguém que presta atenção, você deixou muitas dicas importantes passarem. Você não pode simplesmente escutar o que eu falo, tem de compreender. Internalizar.

— Eu já tenho muitas coisas internalizadas em mim. — Harry disse, deitando-se no chão para continuar a observar a lua. Parecia que estava conversando com ela, se ele usasse a imaginação.

— Eu sei que tem.

— Não sabe, não.

A voz parecia achar divertido, como se Harry tivesse contado uma piada engraçada.

— Um dia, você entenderá.

— Odeio quando fala comigo como se eu não estivesse preparado para ouvir o que tem a dizer.

— É porque você não está.

O grifinório fechou os olhos com força, a frustração correndo dentro de suas veias.

— Me diga alguma coisa. Qualquer coisa.

Silêncio se estendeu pela floresta, sugado pelas raizes das plantas e folhas secas caídas no chão. Os animais noturnos também estavam silenciosos, como se esperassem por alguma coisa, um sinal.

— Você merece algumas respostas, e eu entendo isso. Por isso, eu vou te deixar fazer perguntas.

Harry revirou os olhos.
— Eu faço perguntas, e você nunca responde.

— Eu sempre respondo. — O tom ficou mais grave conforme rodava entre as árvores. — Mas não da maneira que você quer.

— Então isso é como um jogo para você?

O Garoto Que Foi Esquecido • DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora