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- Até estou com medo de quem é o próximo infeliz?

- Não te preocupes Hector, a Floresta Negra nem é assim tão assustadora quanto parece. - menti-lhe porque também estava cheia de medo. Ela não parece tão assustadora em livros.

- "Não te preocupes Hector", estás a gozar? Eu juro que vi um esqueleto a olhar para mim! - sempre o mesmo exagerado.

- És incrível. - ri-me pelo drama que ele estava a fazer.

Andamos pela floresta até que chegamos a um lago de cor preta como o carvão. Aqui era território de vários monstros e caçadores.

- Vai uma banhoca? - perguntei ironicamente ao Hector. Ele fez uma cara de nojo e percebi não concordava com a ideia.

- Nem morto nadava naquela água suja. - ele virou-se de costas para o lago para me olhar nos olhos. - Acho que só alguém muito burro iria nadar naquela água de esgoto.

Eu nem sei para que é que o Hector tem cérebro senão o usa. Eu estava a fazer sinais para ele se calar mas ele não entendeu então continuou a falar e a falar. Agora um homem com armas tinha saído do lago e vinha na nossa direção.

- O que é que tu disseste sobre as pessoas que mergulham neste lago baixote? - disse o homem. Ele tinha aquele tipo de voz grossa que te fazia tremer as pernas de medo. Isto não vai acabar bem.

Olhei para o Hector e vi que os olhos dele estavam mais esbugalhados do que o normal. Ele devia estar tão assustado que já estava a ficar roxo pela falta de ar. Ele virou-se para trás para ver o homem e ficou calado sei dizer nada por uns segundos.

- Não pode ser. - disse com uma voz de derrota. Que raio se passa com ele?

O homem assustador acalmou a sua cara zangada e as rugas que estava a fazer na testa devido à raiva desapareceram lentamente. Estou a perder alguma coisa aqui.

- Pequeno Hector? - como é que o homem grande coberto de água suja sabia o nome dele. O Hector sempre me disse os únicos amigos que tinha eram do reino.

- Sebastian, que alegria em ver-te. - espera ele disse Sebastian? Não pode ser. Este era o guerreiro que eu queria que fizesse parte do meu conselho. Mais uma vez no livro não parecia tão assustador. Estou a começar a achar que os livros enganam.

- Como é que o conheces Hector? - perguntei porque já estava farta de não estar a perceber nada.

- Ele é o meu primo. - não pode! Eu não sabia disso. - Mas não interessa porque já estamos de saída porque temos assuntos importantes do reino a tratar. - oh porcaria. Numa escala de zero a dez quanto é que o Hector vai ficar chateado ao saber que o seu primo é o "assunto importante do reino"? Pois...

- Hector... ele é o meu escolhido. - disse baixinho e calmamente. Talvez fora uma má ideia não lhe ter dito os meus escolhidos antes.
- Não pode ser! - disse o Hector demasiado calmo. Eu sabia que por dentro estava aos berros mas conseguiu não demonstrar isso por fora. E ainda bem.

- Desculpa, mas tecnicamente a culpa não é toda minha. Se me tivesse contado que ele era teu primo antes talvez eu... - calei-me quando vi o olhar mortal do Hector direcionado para mim.

- Bem pequeno Hector, parece que eu sou muito importante para a rainha ter vindo até aqui para falar comigo . - o guerreiro, que agora sabia que era o Sebastian, estava rir-se de tudo isto enquanto o Hector tentava manter a calma. Um dia mais tarde ainda nós íamos rir disto tudo! - Mas posso saber, sua alteza, o que lhe trouxe aqui?

- O senhor. - disse mas logo percebi que soou mal. - Quer dizer, eu tenho uma proposta para si.

Ele olhou-me de cima abaixo e arrependi-me logo de ter aceitado trazer este vestido até ao joelho com vários tons de rosa.
Digamos que rosa não é a cor que mais me sobressai.

𝐎𝐬 𝐄𝐥𝐞𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora