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ENCANTAMENTO DA MORTE
Sweet Dreams - Eurythmics


Eu sempre escrevia tudo o que sentia e via. Era uma forma de manter vivo o que eu um dia senti. Podia ser pateta, mas eu fazia-o sempre. Mas nem sempre escrevia algo bom.

Havia um livro em especial, chamado de “Feitiços Proibidos”, que era sobre todos os feitiços sombrios que não podiam ser usados. Eu sempre o lia e fazia anotações nas suas páginas amareladas. Era simplesmente inevitável não o ler de novo, eu sempre adorei o perigo.

Lembro-me que durante muitos anos vi a minha mãe a escrever nesse livro pesado. Com a sua caligrafia delicada, ela preenchia folhas e folhas e acabava sempre por adormecer com uma pena com tinta preta na mão. De todos os feitiços, o meu favorito sempre foi o “Círculo do Mal”. Acho que com ele aprendi que a morte nem sempre é eterna. Às vezes é apenas a transição para uma nova vida.

*****

Nesse dia acordei com o alarme de segurança do reino. Começar o dia já com um catástrofe. Bem-vinda à vida de rainha.

- Que se passa, Hector? - perguntei enquanto descia as escadas do castelo e calçava as minhas velhas botas pretas ao mesmo tempo.

- O alarme só aciona quando sente uma magia estanha no reino. Vamos à praça para descobrir. - respondeu me enquanto apertava a sua camisa. Sai-mos pela porta do castelo e fomos de cavalo até à praça.

- O que é que bruxas fazem no meu reino? - perguntei mal desci do meu cavalo. Avistei três bruxas com capas roxas e prateadas sentadas à volta de algo feito com pedras. Quando me aproximei mais delas vi que estavam de olhos fechados e que estava desenhado um pentagrama em pedras, à volta delas.

- Ei! - gritei mas elas continuaram a sussurrar o encantamento que estavam a fazer. Olhei à volta e vi que algumas pessoas estavam a ver das janelas das suas casas, ainda de pijama por serem cinco da manhã, o que se estava a passar. Aproximei-me delas e peguei numa das pedras interrompendo o seu ritual. Mal a tirei, as três abriram os olhos furiosas comigo. Até parece que o reino é delas é tudo. Fogo nada mais. - Quem são vocês? E que raio estão a fazer no meu reino?

- Tu interrompeste o nosso ritual de magia obscura. Quem pensas que és para interferires com as forças das trevas? - perguntaram-me as três ao mesmo tempo. Até parece que estou dentro de um filme de terror.

Olhei para o Hector, que tão corajoso com ele ainda nem tinha saído do seu cavalo, e fiz-lhe uma expressão de interrogação.

- Tu és a rainha, resolve tu. - raios te partam, Hector!

- Minhas senhoras, eu sou a rainha do fogo. - Como é que posso dizer da forma mais educada possível que quero que elas se vão embora daqui? - Peço-vos que levantassem, levem as vossas pedras consigo e também as vossas trevas e vão se embora que há pessoas que querem dormir. - Eu sou mesmo educada.

- As trevas nunca dormem. Estão sempre acordadas há espera do momento perfeito para atacar. - estão completamente doidas.

- Posso-vos ajudar de alguma forma? - perguntei para acabar já com esta treta. Dava-lhes o que elas queriam e nunca mais as via. Bum problema resolvido.

- A magia nos chamou de terras longínquas para vir a este reino procurar o que está a destabilizar a magia natural. - mas elas têm de falar sempre ao mesmo tempo?

- E o que essa "magia" disse exatamente? - eu tenho cá uma sorte...

- Disse-nos que há alguém que está a brincar com o que não devia. Que está a inverter o sentido das coisas. E nós temos de descobrir o objeto que está a alterar o processo de vida e morte. - e foi aí que percebi que a pessoa que estava a inverter o sentido das coisas era eu. Era eu que fazia isso há anos. - Rainha deste glorioso reino, eu peço-lhe que se souber quem é a pessoa desumana que está a fazer isto, que nos diga imediatamente. - agora tenho duas opções. Mentir como uma cobarde ou ser nobre e dizer a verdade.

- Mal souber quem é eu informo-vos. Não se preocupem. - e menti como uma cobarde. - Continuem com o vosso trabalho. Eu tenho de ir ao meu castelo tratar de uns assuntos reais. Aproximei-me do cavalo e subi para cima dele.

- Que assuntos reais? - perguntou o Hector confuso.

- Os do tipo reais. - respondi e comecei a ir em direção ao castelo, a galope no meu lindo cavalo.

*****

- Rose, preciso da tua ajuda. Achas que podes vir ter ao meu reino... tipo agora? - eu liguei à Rose porque não sabia a quem mais ligar. Precisava de ajuda. Ajuda de uma amiga.

- Sim, dá-me uns minutos. - respondeu e desliguei a chamada. Estava nervosa com o que poderia acontecer. Eu não queria que ninguém soubesse o que eu tenho feito nos últimos anos desde a morte dos meus pais.

Enquanto andava de um lado para o outro no meu quarto vi três portais abrirem-se em vez de um. Que raio? Saiu a Rose, o Adler e por fim o Dylan.

- Rose, eu liguei só para ti por algum motivo não achas? - como é que ela não percebia que eu só queria a ajuda dela. E do Adler também mas não queria a do Dylan para depois ele me atirar há cara a má rainha que sou.

- Nós somos um só agora. Uma equipa. - começou a dizer a Rose inspirada. - Nós vamos ajudar-te independentemente de qual for o teu problema.

- "Juntos somos mais fortes". Lembras-te? - perguntou o Adler ao dizer a frase que sempre dizíamos em pequenos.

- Vamos lá pessoal! Nós conseguimos fazer isto se lutarmos lado a lado. - olhei para os meus três fiéis amigos. Eles eram a minha equipa e não a trocaria por nada deste mundo. - Juntos somos mais fortes. Lembram-se?

- Sim Adler...lembro-me. - eu sei que eles vão me ajudar mas o que eu fiz. O que eu fiz está muito errado. Tudo começou com aquele livro estúpido.

- Diz-nos o que fizeste Scarlet para poder-mos te ajudar. - a Rose insistiu mas era vergonhoso ter de o admitir. Eu estava tão louca e desesperada que o fiz sem pensar.

Sempre que fico nervoso começo a ficar com calor. Sinto o fogo dentro de mim a aquecer cada vez mais então arregacei as mangas da minha camisola. Sem pensar isso me denunciou a uma pessoa.
Quando olhei para eles os três para começar a contar o que tinha feito vi que o Dylan tinha reparado na pequena cicatriz em forma de espiral no meu braço.

- Não me acredito Scarlet... - disse o Dylan olhando-me nos olhos. Vi tristeza no seu olhar e a sua voz demonstrava que ele estava desiludido com o que tinha feito.
Um lágrima solitária escorreu pela minha bochecha esquerda sem eu reparar. Vi que o a Rose e o Adler não estavam a perceber o que se passava mas o Dylan pôs as mãos há cabeça e suspirou fundo. Quando finalmente me olhou e viu a minha lágrima aproximou-se de mim e abraçou-me. Ele abraçou-me.
Ele já sentiu esta dor. A dor da morte. A pior dor de todas é a que acontecesse aos que amas.

- Não vou perguntar porque o fizeste porque eu teria feito a mesma coisa se tivesse esse feitiço ao meu alcance. - admitiu o Dylan quando se afastou de mim. - Agora... alguém sabe disso?

- Não. Mas hoje apareceram três bruxas de magia obscura porque sentiram que no meu reino havia algum objeto que estava a interferir com a ordem da vida e da morte. - expliquei-lhe enquanto mordia o lábio por causa dos nervos.

- Como assim vida ou morte? - perguntou o Adler totalmente perdido.

- Deixaste algum rasto do que fizeste? - notava a preocupada na cara do Dylan. Ele podia dizer que me odiava mas eu sabia que lá no fundo ele ainda se preocupava. Era o mesmo comigo.

- Meu deus... - disse-me ao relembrar onde tinha escondido a folha com o encantamento obscuro. A folha com o encantamento de trazer os mortos à vida.

✨✨✨

ESPERO QUE TENHAM GOSTADO

𝐎𝐬 𝐄𝐥𝐞𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora