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GRITO DA ESPIRITUALIDADE
Play with Fire — Sam Tinnesz

Eu estava sentada no meu trono feito de ossos. Era lá que passava os meus dias, confinada dentro das paredes de pedra do castelo. Nunca podia sair, porque nunca podia dar nas vistas. Eu tinha um segredo a manter, e tinha de permanecer de boca fechada e de olhos bem abertos.
Eu estava a fazer festas ao gato preto que estava no meu colo e conseguia ouvi-lo a ronronar. No meu castelo haviam vários gatos a andar pelos corredores para me fazerem companhia quando o meu corvo não estava comigo. Toda a gente diz que os gato pretos dão má sorte mas eu não acredito. Eu acho que eles são apenas um animal mal compreendido, tal como eu.

— Desculpe interromper minha Rainha, mas há um rapaz que quer falar consigo. Ele está do lado de fora da barreira...  — a minha atenção virou-se logo para o meu criado. Quem era o rapaz suficientemente tolo para estar tão perto da barreira? E porque é que estava?

— Um  rapaz... — levantei-me do meu trono calmamente e ouvi o gato a miar quando caiu ao chão. — ...e como se chama esse rapaz misterioso?

— Ahh...ele disse-me que se chamava Tyler.

*****

— Mãe, não! — gritava alto com a minha voz de choro.

Remexi na cama tentando esquecer o pesadelo horrível que estava a ter. Era sempre o mesmo, todas as noites.
Estava na Batalha Elementar, escondida atrás duma pedra com o Dylan perto de mim. Eu olhava para todos os lados e só via violência e traição.
Dezenas de pessoas estavam caídas no chão inconscientes e outras gemiam de dores por estarem gravemente feridas. O pior, era as manchas de sangue que estavam por todo o relvado. Havia demasiado sangue derramado no chão.

— Mãe! — e aí vi, outra vez, a última memória que tenho da cara da minha mãe. Foi quando a Rainha da Espiritualidade criou um tornado de fumo roxo à volta de elas as duas.

Elas estavam a gritar e parecia que choravam também, até que a minha mãe olhou uma última vez para mim e ambas desapareceram.

Aconteceu tudo tão rápido. Num segundo estava no meio da Batalha e no outro tudo tinha desaparecido. As únicas lembranças que tinha da minha mãe tornaram-se em cinzas. E foi nesse momento que me apercebi que a tinha perdido de vez. Que a tinha perdido para sempre.

As pessoas com poderes do Fogo, ou seja, da realeza do Reino do Fogo, quando morrem transformam-se em cinzas. Mas ao contrário das fénix, nós não renascemos delas.

— Rainha, está bem? — senti umas mãos frias a tocarem-me no braço, me acordando do meu terrível pesadelo.

Abri os meus olhos e sentei-me na cama ainda um pouco sonolenta. Vi que estavam três guardas a olharem para mim muito assustados. Tinha sido assim a semana inteira.

Eu sempre tive pesadelos com esse dia fatídico mas, esta semana, sonhei com ele todas as noites. A única diferença, é que nesta semana o pesadelo tinha um pormenor diferente. Quando a minha mãe desaparecia e virava cinzas, eu levantava-me e começava a correr até o que restava dela. Normalmente acordava antes de poder chegar a ela, mas nesta semana, quando chegava à beira das cinzas sentia sempre algo a puxar-me para cima, pelo pescoço. Eu punha sempre as mãos no meu pescoço e sentia que era uma corda que estava à volta dele.

𝐎𝐬 𝐄𝐥𝐞𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora