Londres
1641
— Tem que se arrepender, minha filha, para entrar sem pecados no reino de Deus — o padre pediu.
Belle permaneceu em silêncio lançando ao religioso um olhar de desafio que o calou.
— Sendo assim — o chefe da guarda continuou, virando-se para o público — Annabelle Green é considerada culpada por todos os seus crimes e morrerá na guilhotina como manda a lei da Inglaterra...
O homem prosseguiu com a sentença e Belle respirou fundo, tentando se manter firme. Ela não se importava.
Sempre soubera que poderia ter um fim assim, mas em algum lugar dentro do seu peito havia a dor pelos sonhos desperdiçados.
Lembrou-se dos planos de ir para a América. Começar vida nova. Longe da vida de crimes. Tudo estava perdido para ela agora, mas pelo menos seus amigos poderiam manter o plano.
Arrastou o olhar para o público que assistia a tudo ávidos por sangue. Sentiu nojo daquela encenação ridícula. Por que não a matavam logo?
No meio à plebe avistou o barão e suas roupas empoadas a fitando com um olhar de vitória e lamentou não ter enfiado uma espada no peito dele quando teve oportunidade. Porém, não foi a presença do Barão de Wessex que fez sua visão escurecer, e sim o homem atrás dele.
Por Deus, o que ele estava fazendo ali? Viera ter certeza de que ela iria mesmo pagar por seus crimes?
De repente seus olhares se encontraram.
Belle sentiu como se todo o resto desaparecesse e naquele momento ela teve, pela primeira vez, um arrependimento amargo da vida que vivera. Porque foi aquela vida que a separou irremediavelmente daquele homem.
Mas por que estava lamentando? Ele a odiava e ela deveria odiá-lo também. E se estava ali, à beira de ser executada era também por culpa dele. Will Cavendish fazia parte daquela nobreza hipócrita que ela tanto odiava.
E estava ali para assistir sua morte.
E por que ele a encarava daquela maneira? Como se lamentasse?
Num átimo, as lembranças do que viveram juntos passou pela sua mente. A paixão ainda estava ali, dentro dela, apesar de tudo. Apesar de seu fim.
E soube, com uma certeza inabalável, que não lamentava tê-lo conhecido.
Com ele vivera emoções que nem sabia que existiam e sentira-se mais viva do que nunca.
E se iria morrer, levaria consigo a lembrança do que tinha vivido com o Duque de Buckingham.
Kent – Inglaterra
Belle caminhou por entre os arbustos ondulando os quadris e soltou um suspiro de alívio quando chegou à estrada. Os olhos verdes perscrutaram o caminho.
A carruagem que se aproximava era muito fina. Ela parou e jogou os longos cabelos castanhos para o lado. A blusa bufante caiu para o lado revelando um bom pedaço da carne branca e macia. Então ela respirou fundo e se posicionou à frente da carruagem que se aproximava.
O cocheiro freou os cavalos bruscamente, assustado.
— O que aconteceu, Bernard?
Ela ouviu a voz aristocrática de dentro do coche e sentiu asco. Homens ricos e influentes usavam esse tom de voz. Homens desprezíveis.
— Meu senhor — o cocheiro falava apalermado —, tem uma senhora obstruindo a passagem... — O homem a encarou. — Ficou maluca? Colocando-se à frente dos cavalos dessa maneira? Podia ter morrido! Ou quebrado o pescoço! Ou ter algum membro amputado!
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Entre o crime e a nobreza
Historical Fiction** Livro completo na Amazon** Aqui apenas degustação Inglaterra - 1641 Belle é uma bandoleira, uma ladra das estradas que percorre as florestas inglesas seduzindo nobres desavisados para que seus comparsas roubem todos seus pertences. William Cavend...