Uma semana desde a conversa sobre a chave de Beomgyu e os garotos já haviam testado uma penca de objetos.
— Tae... Acho melhor a gente desistir...
— A gente não pode desistir. Vem. Vamos testar esse livro. — Taehyun andou apressado para a porta e Beomgyu entrou na sua frente, fazendo com que o menor passasse direto e sentisse aquela sensação de frio interior. — Que droga Beomgyu!
— Você não vê? Você está enlouquecendo com isso. Eu nem gosto de ler. Pare de tentar.
— Mas Beomgyu...
— Não Tae. Sem mas. Já deu. Tentamos de tudo possível. Ou você acha melhor carregar a cama para fora? — ironizou irritado com a atitude de Taehyun.Ele ficou quieto olhando para o livro nas mãos, sua rotina era, basicamente, ir para a faculdade, trabalhar (ou não) e passar a noite toda procurando objetos que serviriam como chave. Beomgyu tinha razão. Tinha enlouquecido na busca desesperadora da chave. Sentiu as bochechas queimarem.
— Olha. — Taehyun voltou seu olhar para Beomgyu ainda parado na sua frente. — Vai descansar por favor. Tá muito tarde e amanhã você precisa ir para a faculdade. Taehyun, vamos esquecer isso, por favor? — pediu para Tae com uma voz baixa e calma.
Taehyun estava sentindo pontadas na cabeça por conta do estresse que estava passando. Concordou com Beomgyu e o fantasma pegou o livro que estava em sua mão. Tae arregalou os olhos, isso provava que o livro nunca poderia ser a chave do loiro.
— Viu? Eu te disse que não gostava de ler. Principalmente esse daqui... Romance na Idade Média. Minha mãe tinha um péssimo gosto... Que coisa. — olhou por alguns segundos melancólico para o livro e folheou algumas páginas. Fechou o livro de repente e voltou-se para Taehyun. — Vamos?
O garoto nem precisou assentir, antes mesmo que o fizesse Beomgyu já havia voltado para o quarto. Suspirou fundo e foi desligar as luzes da casa. Olhou no relógio da cozinha perto da pia: 22:42. “Nem está tão tarde Beomgyu... Mas só aceitei porque estou cansado”, pensou saindo do cômodo escuro.
Entrou no quarto e ouviu soluços baixos e abafados. Beomgyu estava sentado com o rosto entre os joelhos com o livro nas mãos. Apertava-o contra si com muita força. Tae sentiu-se triste e seu coração doeu mais do que dá primeira vez que ouviu o menino chorar no guarda-roupa.
Parecia claro o motivo: saudade dos seus pais. Taehyun não sentia isso desde quando sua avó sumiu. Saudades era um sentimento de quando criava algum laço com alguém e ele não tinha nenhum. O único que lhe restava desapareceu.
— Beom... Você tá bem? — A resposta era óbvia, mas perguntar não faria mal, não sabia mesmo nem o que dizer para fazer o garoto prestar atenção nele.
— Sa-sabe Tae... E-eu devia ter obe-bedecido. Foi tã-tão difícil ver eles irem embo-bora. — tossiu ao final da frase e soluçou mais alto ainda. Se já chorava alto antes, agora então... Sorte que ninguém ouvia-o do lado de fora.Tae não se incomodou. O garoto estava sofrendo, se passaram oito anos, claro, porém ele ficou sozinho por tanto tempo. O coração de Beomgyu talvez demorasse para se curar. Parecia de fato amar os pais, foi um tolo, mas amava-os.
Beom chorou por quinze minutos aproximadamente. Nesse meio tempo, Tae arrumou sua cama e ajeitou as coisas no quarto para amanhã na faculdade.
—Taehyun... Aquela proposta ainda está de pé? — Beom se levantou. Olhos inchados, rosto encharcado, nariz escorrendo e cabisbaixo.
— Proposta? Que proposta Beom? — perguntou para o amigo. Não se lembrava da proposta.
— E-eu... Posso dormir na sua cama? — Tae encarou-o lembrando-se da tal proposta. Aceitou com um balanço de cabeça. Pegou um travesseiro de dentro do guarda-roupa e rumou para a porta — Você... Pode dormir... Comigo? — olhou para ele corando. — Quer dizer... Do meu lado. Por favor...?Tae sentiu seu coração acelerar e a respiração pesar. Virou-se e colocou seu travesseiro de volta na cama, do lado do que seria de Beomgyu. Abriu a cortina da janela do quarto e desligou a luz. Agora o ambiente era iluminado pela luz da Lua. Taehyun se deitou primeiro e ficou encarando o fantasma. Estava, ainda, brincando com manga da camiseta cumprida.
— Não vai se deitar? — perguntou começando a se incomodar com o garoto se balançando para frente e para trás. Beomgyu saiu do transe e respirou fundo. Naquele momento se sentiu uma criança que tinha tido um pesadelo e corria para a cama dos seus pais. Mas os seus pais não o deixava ao mesmo tempo calmo e nervoso do jeito que estava.
Se deitou ao lado de Taehyun prendendo a respiração, mas logo soltando-a novamente, ou morreria (de novo). Ambos perderam o sono naquele momento.
Taehyun e Beomgyu disputavam uma batalha interna com si mesmos. Estavam suando, respirando tão rápido que pareciam em uma maratona. Ah, e uma sensação estranha no pé da barriga, uma que Beomgyu jamais havia sentido e Taehyun jamais imaginaria sentir. As famosas borboletas no estômago.
Estava muito calor naquela madrugada, com aquela sensação, Taehyun imaginou que iria desmaiar de calor. Estava derretendo. Beomgyu percebeu e decidiu fazer algo para ajudar.
— Como você disse que se sente quando algum fantasma encosta em você? — perguntou falando baixo, quase sussurrando. Tae olhou para sua direita e se arrependeu, não sabia que era possível que seu coração funcionasse naquela velocidade absurda. Certamente teria um troço se não se acalmasse. Respirava devagar e respondeu entre pausas a pergunta do garoto ao seu lado.
— Um frio, como se meu corpo fosse congelar... Não sei explicar...
— Você tá bem? — perguntou preocupado, Taehyun estava suando tanto que pingava.Beomgyu levou sua mão esquerda até a de Taehyun que estava largada ao lado do seu corpo. Quando Taehyun foi tocado sentiu que o calor se dissipava lentamente do seu corpo, logo indo para uma temperatura morna. Seu coração se esquentava apesar de saber que estava sentindo um frio que diminuiu a sua temperatura.
Olhou para sua mão direita, a de Beomgyu sumia e era possível ver que ela estava literalmente dentro da sua.
— Você sente frio. Eu sinto calor. — Taehyun voltou a olhar para o garoto. Ele olhava para o teto, então pôde contemplar o rosto calmo de Beomgyu como se estivesse prestes a cair no sono. E como se fosse mágica sentiu seu coração se acalmar, sua respiração estava mais lenta, ainda que sentia a sensação de ter o coração aquecido.
Olhou para o teto e piscou seus olhos que ficavam cada vez mais pesados. Antes de adormecer teve tempo apenas de dizer uma coisa para Beomgyu.
— Obrigado... Beom.
E adormeceu com o corpo voltando à sua temperatura normal e ainda com as mãos unidas as do fantasmas que, após ouvir o agradecimento fechou os olhos e dormiu.
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My Favorite Ghost [TaeGyu]
Roman d'amour[CONCLUÍDA]⭐ Kang Taehyun, um jovem solitário, deseja inconscientemente ter amigos ou um alguém para conversar. Ele só não imaginava que iria ter que conviver vendo fantasmas e dividir a sua própria casa com um: Choi Beomgyu.