O mau presságio de Baekhyun.

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BAEKHYUN

Manter meus olhos focados na estrada agora era a tarefa mais difícil de todas, pois a cada instante, eu queria tirar a certeza se o ardiloso sorriso de Chanyeol ainda estava lá, presente no canto de seus lábios com um misto de leviandade e provocação. Virei meu rosto pela milésima vez para tirar a dúvida e me deparei com o aspecto brilhante, aceso como uma chama de um anjo demonicamente ciente do que estava acontecendo.

Meus dedos não paravam quietos no volante do carro, eu estava contendo turbulência em meu interior e meu coração parecia me socar de dentro para fora. Metaforicamente, eu atenderia, diria que não havia ninguém em casa, porque disfarçar e fingir demência eram a minha única saída naquele momento.

De fato, o caminho pareceu mais longo do que o habitual. Durante a viagem, liguei o rádio, porque o silêncio me torturava, mas a música que tocava era Let the New Begin e qual seria a chance dele conhecer uma banda nada famosa, como eu conhecia a existência de CHPTRS? No entanto, Chanyeol ― cumprindo com seu dever de me fazer pagar com a língua ―, cantou o refrão inteiro com a voz mansa, porque não seria alto que ele me atingiria. E, sim! Agora eu estava fadado a uma tortura psicológica de quase seis minutos de duração.

Sentia cada palavra na minha pele, em um lugar muito profundo dos meus pensamentos e isso me causava uma amarga agonia na garganta. Eu sabia que a simplicidade na voz e as palavras sussurradas, poderiam a qualquer momento me fazer desligar aquela droga de carro, descer, dar uma ordem até ele entender que eu não era tão normal quanto aparentava ser, nem tão calmo quanto eu desejava me manter. Que eu era semelhante ao oceano que aos poucos aparecia na vista, com a beleza que somente Reykjavík tinha: ora calmo, ora tempestuoso, se equilibrando para não ser inundado por lavas ou afogado em gelo.

Eu só não entendia o que estava acontecendo, pois minutos antes, a coragem absurda que eu tive de roubar a caixa de seu dono não foi uma decisão cogitada. Eu também não compreendia a intenção que ele tinha em queimar cada carta, para depois assisti-las se resumirem a cinzas e palavras queimadas. Como ele ousava tentar? Como diabos ele achava que isso solucionaria alguma coisa?

Sim! Eu estava irritado, pois até ontem, Chanyeol se mostrava convicto que permaneceria com as lembranças e iria colecioná-las até que elas batessem no teto, e de repente, toma a decisão de que elas deveriam desaparecer completamente de sua vida?

Quebrar a quietude do carro com meus desabafos era o meu único desejo momentâneo. Começar calmamente, para depois ir perdendo o controle aos pouquinhos, assim como a música que ressoava pelo carro. Seria prazeroso para ele me provar alguma coisa incendiando tudo? Ele realmente gostava do desafio?

Felizmente, chegamos sem acontecer nenhum surto durante o caminho. Eu o guiei, quieto dentro do elevador, com poucas palavras no corredor e batendo a porta atrás de nós dois quando chegamos à sala de treinamento.

Enquanto eu amarrava meus tênis, preparando-me, Chanyeol surgiu ao meu lado.

― Ficou um pouco apertado ― o ouvi comentar, deixando escapar uma risada soprada por fim.

Um dos meus pés estava sobreposto em cima do banco para que eu pudesse amarrar os cadarços. Ergui meu rosto para avaliá-lo e tive uma súbita surpresa misturada com apreciação do que estava enxergando.

Eu emprestei para Chanyeol um dos uniformes que havia ficado grande em Sehun e caiu tão impecavelmente no novo esgrimista que eu temia vê-lo insistir que deveria usar outro, de um tamanho maior. Por conta do branco em excesso e do pano bem assentado em seu corpo, Chanyeol parecia ainda mais alto e elegante. E algo estava diferente, ele havia cortado o cabelo que anteriormente ia até as costas e agora batia um pouco acima de seus ombros, e após meu coração se deparar com essa cena, eu havia notado que o corte realmente havia caído bem nele.

BLACKOUT | ChanBaekOnde histórias criam vida. Descubra agora