[Esse capítulo possui 2 poemas, não possuem continuidade, compartilham apenas o mesmo contexto]
Te Dou Meus Sonhos
Baixei esse vinil do Tim Maia por você,
Para ouvirmos deitados na casa dos seus pais,
Cortinas fechadas e som de ventilador girando,
Estamos escondendo a visão e nossos barulhos,
Só as paredes vão saber o quanto te amo;Recebendo meus beijos tão quentes quanto o ar,
Desmanchando tuas mágoas com peso de chumbo,
Teu corpo damasco, aperto nos lábios para puxar o suco,
Pega-me pelo maxilar e logo pelo queixo,
Tais não foram esculpidos atoa pelos deuses;Você está deslumbrante nesse verão,
A cor, o frescor e tato da pele... sublime a etéreo,
Brilhando como mangas, pitangas e damascos no pé,
Teu cheiro de amêndoas, comeria como um bolo,
Planejei esse momento tantas vezes e meses,
Me deixe mostrar que sou devoto a teu corpo;Quando chegar gente e casa ficar cheia,
Vamos fazer amor no carro da sua mãe,
Mahmundi - Vibra no rádio, gemido nos bancos,
Vamos baforar nos vidros e desenhar corações,
Qualquer lugar é uma capela a nos casar;Conheço a estampa dessa lençol como capa de livro,
Fazendo dessa cama partida, jogue ao meu favor,
E o que me dá paz nesse mundo é saber que,
A noite vou vigiar e o ouvir o som do teu sono,
"Venha dormir em casa, que eu te dou meus sonhos"¹;(Data: 24 de Janeiro de 2020)
¹Tim Maia - Venha Dormir Em Casa (1977)
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amanhecer de domingo
Quando estamos juntos,
Sinto uma saudade que eu nem sabia possuir,
De um momento que me orgulho de merecer,
Som de passarinhos, luz entrando pela janela,
Mil vontades para continuar deitado,
Mesmo quando amanhece no domingo;Uma delas é passar a vida enrolando
os meus dedos nesses cachinhos,
Desenrolando meus nós nos beijos de língua,
Segurando seu rosto como um punhado de hortênsias,
Ficar alisando as sobrancelhas com os dedos,
Encarando como se procurasse a oitava maravilha;Estou por toda parte e com as mãos sobre você,
Suas palavras acalmando a minha dor,
Alguma esquecida que atina a me afligir,
Se você fosse carcereiro e eu prisioneiro no subsolo,
Queria pena perpétua, vendo teu corpo relaxado
nas minhas mãos, Te juntando num pedaço;A bala de caramelo com maracujá desmancha na boca,
Ao pensar em ti me descascando e bebendo feito vitamina,
Queria derreter o seu corpo com a boca, mãos e poesia,
Sua roupa mais íntima parece uma caixa dos prazeres,
Nunca vi uma mas a minha teria o formato do teu corpo;Queria passar a noite inteira trocando ideias e beijos,
Sentir seu aroma enquanto senta e a brisa toca seus cachos,
Uma noite de orgia com as estrelas - ou voyerismo delas,
Abraçados, rebolando, dizendo coisas de amor,
Respiração de dois corpos juntos,
Me morda para não gemer tão alto;Vou deitar, livro numa mão e tua coxa na outra,
Confio em você para guardar meu sono,
É o máximo que posso confiar a alguém,
Amanhã, vou acordar só pra ter o vislumbre,
Da tua companhia na cama bagunçada,
Morrer de amores num amanhecer no domingo;(Data: 29 de Fevereiro de 2020)
¹Referência a Memórias do Subsolo do livro homônimo de Fiódor Dostoievski
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AUTO PIEDADE
Poetry[2020] s.f. Sentimento, emoção ou comportamento de pena de si próprio diante de um evento estressante. É um sentimento associado ao auto-conforto. Forma de autocomplacência com relação a problemas, desgostos ou vicissitudes pessoais. Imagem retirada...