01 de outubro.
Olho fixamente para o teto do meu quarto, estava com insônia e estava acabando comigo, olho para o despertador que indicava quatro da madrugada, olho para o lado e vejo o pimpom, -meu cachorro- Ele dormia tranquilamente e eu sentia inveja, já fazia dias que eu não conseguia fechar os olhos, fico mais um tempo sentindo aquele frio do quarto, resolvo levantar, era meu aniversário de dezoito anos e eu não estava nem um pouco feliz com aquilo, era fato que eu não era uma das garotas mais felizes do mundo, sei que muitos acham que é uma simples tristeza, aquela que toda pessoa sente, aquela que é normal... mas pra quem tem depressão tudo é mais difícil, sua mente te mata aos poucos em todos os momentos mesmo quando você está fazendo piadas e sorrindo, a tristeza não te mata, mas ela te destrói aos poucos.
Vou até a cozinha e percebo que a casa está uma bagunça, pelo jeito Igor-meu irmão- havia aproveitado bastante com sua namorada, eu morava com ele a dois anos, éramos só nós dois, na verdade era só eu, ele trabalhava como médico e bem pouco ficava em casa, eu sempre estava sozinha, e nossos pais sempre faziam o possível para ficarem longe da gente, sempre tentava ligava para a mamãe, porém ela estava sempre ocupada de mais, não atendia quando eu ligava e quando chegava a atender não falava direito, papai era alcoólatra e havia separado de mamãe, ele mesmo que não fazia questão de nos ver...
Eu sou a Flora, não sou atraente ou pouco bonita, não tenho uma montanha de dinheiro, nem mesmo cinco centavos, mas juro que sou uma ótima pessoa e que se um dia você precisar eu vou estar lá.
Pego um copo de água, e enquanto bebia olhava em direção a cortina da janela, os primeiros raios de sol apareciam e então tive uma ideia. Fui para o quarto e vesti uma calça jeans e um moletom preto, calcei meu vans e sai, abro a porta com cuidado para não fazer barulho, fecho-a de novo e saio olhando aquele dia que amanhecia, "dezoito anos" queria voltar tanto no tempo, lembro que quando eu era pequena eu escondia meus braços na blusa e dizia que havia os perdido, brincava de esconde-esconde com o Igor e sempre era achada primeiro porque tinha que fazer xixi, eu e ele sempre íamos no carro fazendo apostas para ver qual gota da chuva chegava primeiro no final do vidro, eu fingia dormir no sofá e meu pai me levava para o quarto nos braços, e nesse tempo o meu maior sonho era crescer, o que eu tinha na cabeça?
Enquanto eu andava com as mãos no bolso do moletom por causa do frio, eu olhava as casas alinhadas e lembrei também das corridas de bicicleta que eu fazia com o Igor e quando ele estava me ensinando a andar de patins e fez com que eu pedisse o número da nossa vizinha pra ele... Saudades de quem meu irmão era, ou melhor... Saudades de quem eu era.
Parei no parquinho e vi um garoto parado na ponte que ficava ali perto, me sento no balanço e fico o observando, não dava de vê-lo direito, por causa da distância, mas eu consegui perceber que ele estava do mesmo jeito que eu estava, mas algo fez com que eu não fosse lá, o olhei e por um instante ele me olhou também mas logo voltou a olhar para o lado da ponte.
O dia amanheceu por completo, o garoto saiu e eu resolvi voltar para casa também, olho ao relógio e eram sete e vinte e dois, vou correndo até em casa e quando entro vejo Michele, minha melhor amiga, sentada no sofá e Igor do seu lado na poltrona, quando eu os olhei eles me olharam e ela levantou vindo me abraçar com preocupação.
- Tava aonde? Quer me matar? - ela segura em meus ombros e me olha com os olhos nublados.
- Eu saí, queria respirar um pouco.
- Me avisa na próxima vez, tá bom? Poxa fiquei com medo de você ter feito besteira. - Ver ela daquele jeito me deixou por um lado feliz, significava que ela se importava comigo, ela era minha amiga de verdade.
- Estou bem. Estou bem.- a abraço forte e meu irmão olha a cena com os olhos fixados na bunda da Michele, ele era escroto.
- Seu namorado disse que não vai poder voltar de Nova York hoje, mas na próxima semana vai tá aqui para te dar os parabéns. E eu estou aqui para te dar os meu parabéns, te amo tanto sua chata. - ela me abraça de novo mas dessa vez sobe em mim e fica com as pernas no meu quadril, louca.

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30 dias.
Genel KurguImagina só você cometer suicídio e depois percebe que teve uma segunda chance pra viver aquele último mês de uma forma diferente, e por um minuto você pensa que tudo irá ser do mesmo jeito, um engano talvez? Flora Ricante! uma adolescente de 18 an...