A dor de ficar sozinho

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2002 - América latina - Orfanato

-- A pobrezinha não para de tremer, já demos um banho quente nela, agasalhamos...Vou preparar uma sopa.

-- Você viu como ela chegou? Coberta de sangue. Ela não vai querer comer nada, e seja lá pelo que essa menina passou, essa tremedeira não é de frio.

Duas mulheres sussurram o que fazer com a criança que está em uma das camas do quarto feminino do orfanato, já era madrugada quando a polícia chegou com a menina. Muito magra, olhos dilatados, manchas de sangue pelo corpo e não conseguia parar de tremer. Segundo os policiais foi um caso de violência doméstica, ao chegarem no local a mãe eo pai estavam mortos. A mulher já tinha pedido medida protetiva contra o marido agressor, mas nada adiantou, o papel apenas não tem o poder de afastar o agressor. Segundo testemunhas que ouviram os gritos, o homem alterado invadiu a casa e agrediu a mãe e a criança. O homem ainda esfaqueou a mulher e provavelmente ao ver o que tinha feito, se matou em seguida.

Enquanto a menina tremia no canto do quarto, enrolada nas cobertas, olhando para o escuro a sua frente, algumas cenas percorriam a sua mente. A voz de sua mãe gritando ressoava por toda a alma.

Foge! Naomi, corra!!!

***

2022 - Espaço Aéreo da Europa

Naomi acorda assustada de seu pesadelo, pulando de sua poltrona. -- Calma. -- S segura no braço dela para que ela sente novamente.

-- Onde estamos? -- Ela pergunta confusa. olhando para a janela do avião

-- Indo para a Polônia, esqueceu?

-- Não me esqueci, só queria saber em que parte do percurso estamos agora. -- Naomi passa a mão no rosto na tentativa de limpar a mente.

-- Falta pouco. Mas não prestei atenção na ultima localização. Pesadelos com seu passado novamente?

-- Quando eu tento me lembrar daquele dia eu não consigo, é como se a minha mente estivesse bloqueada para tudo que ocorreu. Cientificamente existe um bloqueio de situações traumáticas, mas não é só a tragédia, eu não me lembro de nada, eu nem lembro como era o rosta da minha mãe. -- Ela apoia o rosto na mão e fixa o olhar no seu reflexo na janela.

-- De alguma forma o René mexeu com seus pensamentos não foi?

Naomi fica em silêncio, remoendo aquele gosto amargo na boca que fica sempre depois dela ter um pesadelo.

Longe deles, de volta à França, René finalmente saiu do hospital, aos cuidados do mestre de Naomi e S, um carro foi buscá-lo, mas antes de ir para o hotel, onde ficaria hospedado até a data agendada para sua viagem à China, René pede para que o motorista pare em uma cidade um pouco antes de Paris.

Chegando ao destino intermediário, em um bairro de classe média, René pede que o motorista estacione antes do destino.

-- Senhor, eu tenho ordens de não o deixar desacompanhado -- Informa o motorista.

-- Não se preocupe, não vou tentar nada contra a minha vida, mas você pode me acompanhar até a porta.

O motorista concorda e eles saem do carro. Ao chegar na frente da casa o coração de René acelera, e lágrimas já começam a transbordar, antes de conseguir dar o primeiro passo em direção a porta, alguém chega por detrás dele.

-- Posso ajudar? -- Uma mulher loira, segurando uma sacola de mercado pergunta se colocando na frente de René. -- O que desejam?

-- Eu vim fazer uma visita para a família que mora nessa casa. -- René responde confuso, mas alguma coisa dentro dele já sabia o que viria a seguir.

Ribon - O despertar da alma ninjaOnde histórias criam vida. Descubra agora