"Não toca na minha mãe!"
— Tem uma criança gritando...Acho que sou eu. Eu não queria voltar aqui. Essas lembranças. Eu as escondi em algum lugar para não achar.
Um barulho muito forte de móveis caindo no chão assusta Naomi que está deitada em algum lugar escuro, não é a sala onde a deixaram, é a escuridão da sua mente. Uma luz começa a clarear o local, as lembranças estão ressurgindo.
"Sua vadia!" — A voz de um homem bêbado ecoa pelo local.
"Não toca na minha mãe!"
— Não toca na minha mãe! — Ela repete.
Naomi e a voz infantil falam ao mesmo tempo, e o chão abaixo dela se parte em mil pedaços, nesse momento ela cai, mas não em um túnel escuro, era vermelho. Sangue. Um mar de sangue.
Tentando nadar naquele líquido pegajoso, um pouco daquele sangue entrava em sua boca e era angustiante o gosto de ferro. De quantas pessoas eram aquele sangue?
"Naomi?" Uma voz familiar a chama pelo nome em meio àquela enorme poça de sangue, ela olha por todos os lados tentando encontrar a dona daquela voz. Ela conhecia, era familiar, era uma voz reconfortante, era...
— Mãe! — Naomi a encontra boiando no mar de sangue e tenta desesperadamente nadar até ela — Mãe, eu estou indo! — Quanto mais perto ela chega, mais a sua mãe se afunda. E quando finalmente a alcança, sua mãe tinha submergido completamente.
Mergulhar naquele mar de sangue seria uma opção?
Para Naomi foi! Ela mergulhou sem pensar duas vezes, mas como enxergar embaixo de sangue? Nesse mar de sangue era possível, afinal, tudo não passava das alucinações das lembranças de Naomi.
Quanto mais fundo ela mergulha, mais denso fica o sangue, como uma lama que prende ela no mesmo lugar. Estranhamente o sangue coagulado é fácil de ser retirado com a mão, e assim ela vai abrindo espaço até chegar a uma sala. Era uma sala humilde, um sofá marrom de corino, com algumas almofadas tapando o assento rasgado.
— Senta aqui comigo — A mãe de Naomi estava sentada no sofá. Seus cabelos cacheados estavam presos, mas alguns fios ficaram soltos em seu rosto. A pele negra estava marcada com tons arroxeados, inclusive o olho.
— Mãe? — Naomi pergunta cautelosa.
Sua mãe a encara, as duas ficam naquela sala se olhando.
— Eu... — Naomi treme os lábios prendendo o choro, enquanto aperta suas mãos para suportar a dor. Ela sabia que aquilo era uma ilusão de sua mente.
A sua mãe gentilmente abre os braços para ela. Não importa se aquilo era uma ilusão, Naomi se joga nos braços de sua mãe. Era tão real...O abraço e aconchego dela, o cheiro de comida que ficava nos seus cabelos, já que sua mãe fazia comida em casa para vender em canteiros de obras próximo de onde elas moravam.
Ser uma mãe solo, morando em uma periferia não era fácil, mas sua mãe fazia o possível pela filha.
— Você é a minha maior joia. — A mãe de Naomi diz emocionada ao abraçar a filha — Meu maior tesouro e eu sou muito feliz por você ser só minha! — Ela abraça a filha com muito mais força — Você não tem o sangue dele! Você não tem o sangue daquele desgraçado.
— De quem você está falando? — Naomi já sente o desconforto de ser apertada com muita força pela mãe.
— Eu fui fraca...Eu não tive coragem de deixá-lo. — Ela aperta Naomi com toda força — Eu podia estar com você hoje, eu poderia estar vendo você crescer e ser a cientista maravilhosa que você é.
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Ribon - O despertar da alma ninja
Fiksi IlmiahSéculo 22, o mundo está inundado de tecnologia, os ninjas deixaram de ser necessários para batalhar, mas a sombra da escuridão nunca nos deixou. As guerras são travadas com armas. Porém há males maiores do que as guerras humanas, o homem não acredit...