Naomi está do lado de fora do quarto ao telefone e S está ao seu lado. Ela está prestando atenção em cada frase que a pessoa ao telefone está dizendo, S tenta ficar o mais próximo possível tentando ouvir algo.
-- Sim, Sensei. De acordo, garanto que não vai se arrepender do menino, acredito que não teremos problemas com ele. – Ela faz uma expressão de surpresa com alguma coisa que a pessoa diz a ela pelo telefone – Eu não sei exatamente o que senti, não sou de questionar, mas não entendo a relevância dessa pergunta. – Mais algumas palavras do seu Sensei ao telefone – Sim, sim senhor, vamos continuar.
Naomi desliga o telefone e se volta para S que estava muito colado com ela, de modo que sua orelha ficasse próxima ao celular.
-- Saia de perto de mim! – Ela esbraveja. – Vamos, precisamos nos apressar se queremos pegar o próximo voo ainda hoje.
-- O que?! – S diz resmungando – Como assim? Acabamos de sair de uma longa viagem, não vamos poder ao menos descansar?
-- Descanse no avião. Ou quer que eu retorne à ligação e você discute os detalhes com ele?
-- Não, não – Ele faz um gesto exagerado com as mãos – Você venceu! Na verdade, ele venceu. Mas espero que ao menos a gente fique na primeira classe, não aceito menos que isso.
-- Aff – Naomi se irrita – Vamos ver o que podemos fazer, confesso que depois de hoje gostaria também de um minuto de descanso, mas não temos tempo a perder. Vamos!
Quando o táxi chega, S entra primeiro e Naomi entra logo depois, enquanto o carro dá a partida ela observa a janela da ala hospitalar da Universidade, ela sente um aperto no coração que nunca tinha sentido antes. Naomi sempre foi criada friamente, nunca obteve contato afetivo com o seu Sensei, era uma relação de aluna e professor apenas, desde que foi adotada, mas naquele momento ela se compadeceu de Allan, de como ele parecia angustiado de ter que deixar a sua família. O táxi se distância da Universidade e Naomi faz de tudo para sufocar aquele sentimento de compaixão.
-- Allan? – Na faculdade Allan ainda está sentado na cama com o envelope que Naomi tinha entregue a ele, o professor entra se aproximando do rapaz e percebe as lágrimas molhando o envelope – Allan?! – Ele se preocupa e se apressa a examinar o rapaz – Aconteceu alguma coisa? Está sentindo alguma dor fora do comum?
Allan começa a intensificar o choro ao ponto de tremer o corpo. E começa a pronunciar as primeiras frases de forma engasgada.
-- Minha família...Minha família...Eles...Eles precisam de mim! – Ele começa a ficar enérgico com sigo mesmo – Eu não posso decepcionar minha família! Não posso deixar o medo me fazer parar agora, nem que isso custe a minha vida.
O professor vê o desespero de Allan, ele imagina o tipo de proposta que Naomi propôs a ele, para Allan a sua família era tudo para ele, seu pai era doente e sua mãe cuidava dos outros 6 irmãos mais novos.
-- Eu vou aguentar o que for preciso.
O professor estava nervoso e aflito com a dor do rapaz, durante todo aquele tempo ele sempre cuidou de Allan e viu o quanto ele se dedicava, mesmo com as dores musculares, mesmo com efeitos colaterais dos remédios que eram enviados para aplicar nele.
"Esse menino... – O professor pensa com o seu próprio choro engasgado na garganta – Esse menino chegou aqui tão pequeno e raquítico, trabalhou tanto para se desenvolver. Nunca desistiu. Eu mesmo já vi por diversas vezes seu desespero com seus pais e seus irmãos. Porque? Porque será que existe tanta dificuldade nesse mundo?"
-- Professor – Allan o chama – Obrigado por tudo que você fez por mim. Não sei como será a minha vida daqui para frente, mas eu agradeço por tudo e espero que você tenha sorte em tudo que faça.
Allan se levanta da cama, veste a sua roupa, pega a sua mochila e guarda o envelope dentro. Ele sai do quarto sem falar mais nada. Ele caminha pelo corredor da faculdade e no pátio externo observa, com uma ponta de inveja, os jovens que ali estavam e que eram tão normais, vivendo uma vida tão corriqueira comum a eles. Tão diferente do que ele vivia.
Ele pega o ônibus de sempre, absorvendo cada detalhe do caminho, os muros pichados, as crianças brincando na rua, tudo aquilo de repente passou a ter um peso, um valor, maior do que antes.
Allan finalmente chega na porta de casa, um apartamento na periferia, ele para por alguns instantes na porta escutando o falatório dentro da casa. Ele era quem pagava o aluguel de um apartamento de três quartos em uma área mais segura. Ele quem pagava o tratamento do pai que andava de cadeira de rodas, quem pagava todas as contas de casa. Seu corpo começa a tremer novamente, sua vida nunca pode ser como ele quis, nem ao menos namorar como qualquer outro garoto da sua idade. De repente a porta abre, era uma de suas irmãs saindo para o curso, que ele também bancava.
-- Allan! – Ela se assusta com ele parado na porta – Que coincidência na hora que eu abri a porta você ia entrar. – Ela beija a rosto dele – Tchau maninho preciso ir, não quero me atrasar para o curso.
Ela sai correndo em direção as escadas.
-- Allan, você chegou. Brinca com a gente! – Um coro dos gêmeos Nicolas e Ramon o puxa para a realidade.
"Não adianta sofrer – Ele reflete em seu interior enquanto vê seus irmãos correndo em câmera lenta pela sala – Eu preciso agradecer por ter a oportunidade de conseguir sustentar a minha família com o melhor que eu posso."
-- Meu filho! – A sua mãe o nota na porta – O que faz parado do lado de fora?
--Ah... – Ele coloca a mão atrás da cabeça tentando disfarçar as expressões de preocupação forçando um sorriso – Nada mãe, eu já estava entrando.
Allan finalmente entra e fecha a porta, ele estava decidido que iria suportar o que fosse para continuar protegendo a sua família.
-- Senhores passageiros. – A aeromoça começa a falar – Bem-vindos ao voo F7398 com destino a França, tenham todos uma boa viagem.
-- Ah... – S se espreguiça na poltrona – Como é bom viajar na primeira classe.
-- Elói... – Naomi está vendo um arquivo no celular, a ficha do próximo recrutado. – Em um manicômio? – Ela vira para S – Isso é sério?
-- Já disse para parar de pensar em coisas lógicas Naomi, daqui para a frente você verá coisas que dúvida.
Naomi mexe em seu celular passando as fichas dos possíveis recrutados e para mais uma vez na ficha de Allan. Ela observa a foto dele por alguns instantes.
-- Ei, Naomi. – S a desconcentra.
-- O que é? – Ela responde ríspida.
-- Oi, oi...Para que essa agressividade? Eu ia perguntar se você já quer pedir alguma coisa para comer, ficamos o dia inteiro sem comer direito talvez por isso você esteja com esse mal humor.
-- Desculpa, estou realmente cansada. Podemos pedir a comida.
S chama o serviço de bordo e Naomi olha uma última vez para a foto de Allan e fecha o arquivo.
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Ribon - O despertar da alma ninja
Fiksi IlmiahSéculo 22, o mundo está inundado de tecnologia, os ninjas deixaram de ser necessários para batalhar, mas a sombra da escuridão nunca nos deixou. As guerras são travadas com armas. Porém há males maiores do que as guerras humanas, o homem não acredit...