Ribon - O despertar da alma ninja

Explosão de areia

"Eu não tenho uma história para contar, tudo foi destruído, tudo virou pó, tudo literalmente explodiu"

Aisha de fato não lembra dos seus pais, pois ela foi abandonada pela mãe na porta do laboratório. Provavelmente para salvar a filha, já que a família nunca aceitaria uma inseminação artificial. Por algum motivo o marido daquela mulher deve ter descoberto, e ele não tomaria conta de uma criança, que para ele, não era sua filha. Quase uma traição. Essa mulher já deve estar morta, mas ela protegeu a sua filha a entregando ao laboratório.

Desde então Aisha vivia no laboratório realizando os testes que o Mestre de Naomi e S enviavam, todas as despesas dela foram pagas por esse tutor a distância. O contato direto dela era a doutora Mirna, uma cientista que cuidava dela como se fosse sua mãe. Até aquele dia fatídico...

Síria, 2021, Centro de pesquisa

— Você está indo muito bem, bem até demais. — Drª. Mirna termina de examinar Aisha depois de um teste. Ela vira-se de costa para a menina deixando o estetoscópio em cima do balcão e anota em uma ficha os dados que coletou de Aisha. A saúde dela estava ótima, mas o coração de Mirna que estava apertado, pois ela sabia que o prazo final da pesquisa estava terminando, e o que seria de Aisha depois disso? O tutor responsável pela pesquisa, o mestre de Naomi e S regularmente recolhia os dados da evolução dos recrutados, o estudo desde seu início tinha um prazo final estabelecido, mas nunca foi dito o que seriam dessas cobaias humanas depois disso — Acredito que em breve você conseguirá alcançar um nível a mais.

— Isso não é normal, não é? Eu conseguir fazer o que eu faço. Por isso eu fico presa nesse laboratório. Não vejo nem outras pessoas aqui dentro que sejam iguais a mim.

Drª. Mirna termina de fazer as anotações e volta a olhar para Aisha, com aquele olhar de ternura que fazia a menina se sentir em casa, mesmo dentro daquele laboratório frio. Era raro que ela pudesse sair, mas a Drª. Mirna vivia pelo trabalho e para acompanhar o desenvolvimento de Aisha, então praticamente morava no laboratório. Algumas pessoas cochicham nos corredores que ela não tem uma casa para onde ir, pois a vida dela sempre foi o trabalho, desde que Aisha chegou.

— Você é especial Aisha, de um jeito que ninguém mais é. E você pode representar a cura para esse mundo falido e coberto de sangue e guerra. Mas se você cair em mãos erradas não vai cumprir o seu propósito de vida, e pode ser usada para o mal. — Mirna, carinhosamente retira uma mecha de cabelo caída no rosto de Aisha e coloca atrás da orelha da menina — Você é um milagre da vida. — Elas sorriem uma para a outra — Hora do jantar.

O refeitório do laboratório era pequeno, alguns colaboradores e pesquisadores que trabalhavam no turno da noite estavam fazendo companhia para Aisha. Ela não tinha uma família, mas cada dia ela jantava e almoçava na mesa com várias pessoas, e todo mundo a conhecia. Existe algo estranho e incômodo naquilo, as paredes metálicas, o chão frio, a comida sendo servida nas bandejas, era sempre, todos os dias o mesmo lugar, a mesma sensação. Não importa o quão gentil fossem com ela, não era uma mesa de uma casa, nada ali parecia com uma casa, era tudo um grande laboratório frio e branco. Às vezes Aisha sentia como se todo aquele frio a domina-se. Tudo estava sempre frio, branco e vazio.

Após o jantar ela vai para o quarto, logo depois de colocar a bandeja pela janelinha onde tem uma pessoa que sempre lava os seus pratos. Aisha sempre sorri para a mulher que recolhe as bandejas, mas nunca chegou a trocar palavras com ela. No quarto, improvisado, ela vai ao banheiro e escova os dentes, isso era importante, Drª. Mirna sempre falava da importância de escovar os dentes.