Prólogo

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O mundo é harmônico quando existe amor entre as pessoas. Quando todos se entendem e tentam dar seu melhor para a paz. É estranho eu ter que começar contando esse fato óbvio porque... essa história começa exatamente com um desentendimento populacional, que rendeu a base lógica da harmonia: o amor.

Vamos começar dizendo que um jovem príncipe, de apenas 11 anos, decidiu se aventurar pela floresta de seu reino, depois de uma discussão pesada entre seus pais, que já tinham se habituado a tais brigas.

Foi em uma dessas expedições que o jovem, Dillas Morshon, encontrou a Choupana da Floresta Branca. Propriedade conhecida entre os aldeões, mas que Dillas acreditava ser uma das muitas lenda do reino de Tharnos. O jardim colorido rodeava toda a casa, era tão vibrante que deixou o principezinho tonto, e a cabana enfeitada com velas nas janelas o deixou intrigado.

-O que está fazendo aqui?- perguntou uma voz tremida de menina

Quando Dillas se virou assustado, sentiu seu coração disparar. Era a garota mais exótica que já tinha visto. Seus cabelos eram lisos como seda e compridos como os rios movidos pela correnteza. Tinha uma pele dourada refletida pelo sol, e os olhos mais brilhantes que qualquer estrela existente. Sua aparência era mística, como uma Índia tropical. Vestia roupas simples, mas grandes demais para o seu curto corpo de criança. O príncipe não parava de piscar, talvez estivesse sonhando.

-Eu...

-Você não pode ficar aqui! Está amassando nossas flores.

-Eu posso ficar onde eu quiser! Sou um príncipe, plebeia.

A menina apontou um cajado velho para ele.

-E eu sou uma Porta-Voz Natural. Eu poderia te destruir se eu quisesse.

Dillas franziu o rosto.

-O que é uma "porta-voz"?

-É o que vocês ridiculamente chamam de "bruxa".

-E você é uma bruxa?

-Não! Sou uma Porta-Voz.

-Mas você não disse que era a mesma coisa?

-Vocês que acham isso- a menina apertou ainda mais o cajado - agora saia daqui, antes que eu te faça um estrago!

Dillas gargalhou, debochado.

-Tremendo desse jeito?

-Eu não estou tremendo!

-Está sim.

-Não, não estou!

-Está sim!

A criança ia rebater quando foi surpreendida por sua responsável.

-O que está fazendo com meu báculo, menina?

Uma senhora de idade se aproximou.

-Estou espantando um invasor, Madrinha. Ele estava atacando o nosso jardim, e tentou entrar na nossa casa!

-Eu não estava atacando nada!

-Já chega! Nissa, vá ver como está o cozido.

-Mas...- a mulher a encarou violentamente- Sim, madrinha - a menina saiu tristonha.

-Desculpe menino, Nissa tem um grande desejo de provar ser corajosa. Mas de todo é uma boa garota- a velha riu- Deseja alguma coisa?

-Não, senhora.

-Pode me chamar de Mãe Bá, é como sou conhecida pelas pessoas. E você deve ser da realeza, vestido desse jeito...

Nissa ouvia a conversa irritada. Sua madrinha devia estar expulsando o invasor. Ela não o conhecia, mas já o detestava. Desejava que seus poderes aparecessem de uma vez para exterminá-lo.

A menina estava tão concentrada no burburinho da frente de sua casa que deixou a panela quente do cozido cair. O barulho assustou o príncipe e Mãe Bá, que correram para a cabana.

-Onde estava com a cabeça, menina? Meu ensopado precioso- lamentou a curandeira.

-Eu ajudo a limpar- disse o príncipe rindo.

-Não vai, não!

-Se ele quiser ele ajuda, Nissa! E ele está sendo muito educado conosco em se oferecer pra limpar a bagunça que você fez. Anda, vá pegar os panos.

E foi assim, o primeiro encontro entre as duas crianças. Com o desentendimento. Dispensável dizer que mais tarde eles ficariam praticamente inseparáveis. Dillas aparecia todas as manhãs para ver Mãe Bá e Nissa, e nas vezes de eventos ou quando seu pai tinha que deixar o castelo, ele a levava para o palácio escondida.

Nissa acabou entrando na patifaria da má influência do príncipe, e já ajudava Dillas a montar armadilhas no quarto de seu irmão mais novo, o príncipe Leo. Brincavam de esconde-esconde por todo o castelo. O que era um desafio, já que tinham que se esconder dos súditos do palácio também. A menina ensinava a Dillas o que sabia sobre o poder e a magia da natureza. O príncipe lhe presenteava com livros roubados da biblioteca real. Nissa aprendeu a cavalgar, enquanto recitava poemas arcaicos, os quais Dillas não era capaz de entender, mas tinha prazer em vê-la cantarolando algo dos livros que ele dava a ela. Dillas aprendeu as danças do povo com Nissa. Os dois viraram cúmplices dos mais profundos segredos e artimanhas.

Dillas e Nissa se completavam; um príncipe endiabrado e uma afilhada de curandeira passiva e medrosa. Nobre e Bruxa. E foi assim por muito tempo.

Até o dia da coroação do príncipe Dillas Morshon.

Do Outro Lado Desse ReinoOnde histórias criam vida. Descubra agora