Os olhos azuis do novo monarca acompanhavam fixamente o movimento das ruas pela janela comprida do escritório de seu pai. A coroa dourada de rei era destacada pelos seus cabelos louros. Suas mãos sustentavam a cabeça, de modo que fazia doer os cotovelos apoiados no parapeito da janela.—Estou ansioso pelo seu pronunciamento, Vossa Majestade —Uma vóz mansa comentou. O príncipe riu no automático, virando-se para o amigo. Manetta Scol tinha o ar peculiar de quem estava sempre vendo graça nas coisas. Sua postura descontraída era o charme que fazia com que na maioria das vezes fosse o centro das atenções. Apesar da pele já enrugada pela idade, era uma figura elegante, de cabelos cor-de-carvão que caiam por cima dos ombros, e o busto sempre a mostra pelas roupas largas.
—Velho Manetta! Sabe que não precisa dessa formalidade comigo.
Manetta lhe estendeu a mão e o principe a pegou em comprimento —E gostará de ouvir o que tenho a dizer— disse por fim
—Veremos— o escriba sorriu —Seu pai ficaria orgulhoso de você, o povo o exaltou tanto quanto ele em sua coroação.
Dillas voltou os olhos para a festa das ruas.
—Meu pai era um bom homem, realmente. Mas ...— Dillas caminhou distraído até a estante de livros.
—Mas...?
—Eu ouso dizer que meu pai tinha um coração mole demais.
—Ora, era por isso que regia tão bem o reino, afinal!
—Devia ter visto o rosto dele antes de partir. Estava tão passivo, Manetta, de uma tranquilidade tremenda.
Scol lamentou.
—Uma pena eu não ter sido presente. Não sou capaz de me perdoar por isso.
Dillas estalou a língua.
—Não se culpe por isso! Meu pai te tinha com um irmão, ele não o culparia.
O silêncio permaneceu por alguns instantes, até ser interrompido pela voz malicíosa do escriba.
—Estava procurando alguém na multidão?
—O que?— respondeu a Majestade, folheando um livro, distraído em sua poltrona.
—Ora, já não era hora de encontrar uma companheira, não?
Dillas piscou.
—Não vejo razão para isso, ainda.
—Então o que chamava sua preciosa atenção para a festa?
—A festa.
—Não me faça de tolo!
Dillas riu.
Um guarda do castelo interrompeu a conversa.
—Vossa majestade— curvou-se em uma solene reverência —Chegou a hora da saudação do povo.
Dillas respirou fundo e disse:
—Pois bem! Organize todos no salão, já estou descendo— O rei fechou o livro e se levantou abruptamente da poltrona.
—Certo, com sua licença, Vossa Majestade— O guarda se curvou novamente e esperou o Rei Dillas dar o sinal para que ele se retirasse.
O rei lançou um último olhar para fora da janela e caminhou até a porta da sala.
—Bom, vamos ver os presentes que você vai ganhar. Se der sorte, vai ser muita comida!
O príncipe riu com gosto.
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Do Outro Lado Desse Reino
FantasyPara um mundo funcionar em harmonia precisa existir paz e amor ao próximo, certo? Mas e se fosse o amor a porta aberta para a destruição? Uma jovem "bruxa" será obrigada a enfrentar uns novos forasteiros que ameaçam os portadores de magia. A popula...