CAPÍTULO 13- ENFERMEIRA

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A noite estava abafada, a luz amarela das tochas era irritante para os olhos, mas não tanto quanto o barulho dos protestos.

Uma festa seria dada na manhã seguinte, uma festa que muitas pessoas achavam injusta. Desumana. Era como se a noite daquele dia tivesse sido normal. E naquela noite eles protestavam por seus amigos que foram expulsos como pragas de um reino que já havia experimentado o gostinho da paz.

Aquela noite seria lembrada como "O Protesto dos Alienados" pelos nobres e anti-bruxos, que só não foram condenados à morte pela piedade do rei Dillas. De um jeito ou de outro, muita gente se machucou na manifestação daquela abafada noite. A rua estava inundada por ódio e pesar.



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Príncipe Leo acordou com duas enfermeiras e sua velha educadora Carthila ao seu redor; uma secando seu suor, mais uma torcendo pano em uma bacia de água quente, e a outra sentada em uma cadeira no pé da cama, lendo.

-Alteza?! Como está se sentindo?- perguntou a Madame Cathila com preucupação, quando notou que o nobre havia abrido os olho.

Leo olhou confuso, sua cabeça latejava com cada batimento cardíaco. E foi uma das pontadas nervosas que o fez lembrar. Mordeu a lingua.

-Onde está o Dillas?

-Não se esforce muito, minha Alteza. Vossa Majestade está abrindo as portas do salão, para o baile de boas vindas da Família Real Trakonor de Shtonkus.

O garoto se ergueu de súbito. A enfermeira pulou para seu lado, afagando seus ombros.

-Desculpe-me, Vossa Alteza. Mas precisamos esperar sua recuperação.

-Não é necessário. Me sinto ótimo, talvez até melhor em anos - se levantou emburrado, mas foi empurrado de volta ao leito.

-Perdão, meu príncipe. Mas minha obrigação é...

-Tá, tá, tá. Então me faça o favor de me dar o que comer, sim?

A enfermeira deu um sorriso forçado e saiu do quarto.

Ao seu redor ainda estava mais duas mulheres. Precisava se livrar delas, antes que a outra retornasse. Se pudesse ao menos distraí-las. Bom, talvez a do livro estivesse concentrada o suficiente para não lhe dar atenção, mas não podia arriscar.

-Ei, que livro está lendo?- indagou, soando quase como uma ordem.

A enfermeira loira interrompeu a leitura para olhar para ele, embaraçada.

-Ah... é só...

-Eu não me importo. Pode ler pra mim?

-Mas Alteza...

imoral?

A mulher ruborizou.

-É impróprio para sua idade, Vossa alteza. - disse, entre gaguejos .

-Já tenho 15 anos, acha que tem alguma coisa que ainda não vi?

A moça olhou confusa para a outra enfermeira, que ergueu os ombros em sinal de recíproca incerteza.

-Pois bem... Ah, "Grundock sorriu e correu como a tempestade para o covil de Kijah. Sua amada lhe esperava. Logo quando se encontraram se agarram um no outro com o fervor mutuo. Agiam como dois animais irracionais na fragrância da pura paixão. Tudo desapareceu imediatamente, e os cabelos de Lih eram o único perfume que Grundock queria sentir."

Do Outro Lado Desse ReinoOnde histórias criam vida. Descubra agora