CAPÍTULO 7- ARCO

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   O enterro da Porta-voz Nara foi marcado pelo sol escaldante da manhã, que alimentava as flores douradas jogadas sobre seu sepulcro.

Rezava uma lenda aborígene, que se o dia do sepultamento de uma bruxa fosse acalorado, a natureza tinha se agradado dos seus feitos, e o deus Protetor levaria a alma da criatura para um bom lugar, passando reto pelo limbo das almas perdidas. E é por isso que ninguém chorava ali. Não era certo chorar, porque isso magoaria o espírito de Nara.

O enterro foi simples, com poucas pessoas e moderada duração. Nenhum aldeão comum tinha comparecido; nem mesmo os que tiveram amizade com a falecida. E era melhor assim.

Era bem melhor assim. Pensava a menina Nissa. Ela não entendia porque uma pessoa tão boa e amiga pudesse ter sido alvo de uma crueldade dessas. A monarquia considerou o fato como "acidente", mas todos os curandeiros sentiram a ira do incêndio. Era uma fogo violento. Um fogo assassino. Era uma chama "anti-bruxa", e todos sabiam que aquele tipo de coisa não era de longe natural.

A verdade amarga doía, mas não podia ser negada. Nara não sofreu um acidente. Ela foi vítima de um homicídio.


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Navi se camuflou atrás dos muitos troncos de eucalipto, ao mesmo tempo que observava detidamente um cervo tranquilo, que bebia de um lago esverdeado. O rapaz seminu apertou os olhos castanhos e puxou a corda do arco até a bochecha.

-Um...-O animal bebia sereno - Dois...- Navi soltou o ar pela boca- Três!

A flecha disparou pela floresta; sua velocidade arranhou o ar.

Navi xingou. O cervo tinha fugido.

-Uau Navi, qual a refeição de hoje? Qual a refeição? Sim, o que vamos comer no dia de hoje? Ah, sim!- resmungou consigo mesmo o rapaz. Trotou frustrado até o lago -Hoje vamos comer: PEIXE!- disse entre um sorriso forçado.

O moço já estava a semanas naquele lugar, e tudo o que encontrou foi frutas silvestres e Carpas no lago, e aquela era a primeira manhã que ele era abençoado por um mamífero, grande o suficiente por dois dias.

Sentado em uma pedra escorregadia, Navi escolhia sua refeição matinal, enquanto aproveitava os raios solares, que faziam a pedra branca em seu pescoço brilhar.

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-Quando você vai decidir por seu plano maquiavélico em prática?- perguntou príncipe Leo, enfatizando a frase com um abano de mãos.

-Não é maquiavélico, e tire os pés da minha mesa.

-Você é tããão chato.

-Que ótimo, finalmente achamos algo em comum. Agora vá caçar o que fazer, sim?!

Leo suspirou exagerado.

-Tem razão, já está na minha hora.

Dillas ignorou o irmão e continuou estudando a papelada sobre a mesa.

-Não está interessado no que vou fazer?

-Claro, claro! Agora pode ir.

O príncipe bufou. Seu irmão não estava nem sequer ouvindo. Era sempre assim.

-Então pois bem, vou dar um gostinho da minha idéia- ele começou, sentando em cima da mesa onde o rei trabalhava. O monarca não esboçou qualquer interesse -Vou fazer companhia na viagem da menina da floresta. - Dillas ergueu os olhos.

-Você é um príncipe, caso tenha esquecido!

-E daí? Sendo assim, posso fazer companhia pra quem eu quiser. Não é?

Do Outro Lado Desse ReinoOnde histórias criam vida. Descubra agora