CAPÍTULO 3
No outro dia, acordei cedo para me preparar para o dia de aula.
Mia estudava na Universidade São Valentim, uma das mais tradicionais de São Paulo. Sua mensalidade custava uma pequena fortuna, e apenas a nata paulistana poderia pisar naquele lugar. Eles eram muito seletivos.
Os filhos dos empresários ricos estudavam com os filhos de outros empresários ricos por um motivo: contatos. Nada era por acaso. A rede de ensino São Valentim começava no primário, indo até o nível universitário. De lá, os alunos saíam mais que amigos: era uma verdadeira fábrica de parceiros de negócios.
Curiosamente, não havia aulas de manhã – os alunos riquinhos não iriam acordar cedo, é claro. Também não havia aulas à noite, vez que ninguém precisava trabalhar durante o dia. Todas as aulas aconteciam na parte da tarde; só mesmo um lugar de elite poderia se dar a tamanho luxo.
Eu me vesti segundo as orientações de Mia: uma saia branca de seda e uma blusa cor-de-rosa, com caimento suave – sem deixar de ser sensual. Brincos, saltos altos e maquiagem. Tentei imitar exatamente o que Mia me obrigou a aprender sobre todo aquele pó que ela passava na cara. Não foi fácil.
Uma bolsa Fendi completava o visual. Ao olhar-me no espelho, dei uma gargalhada.
Quem diria que eu, Ana Lívia, algum dia me vestiria assim, cheia de frescura? Esse era um momento histórico!
Stela e Tomás estavam no trabalho, por isso não tive que me despedir deles ao sair de casa. Que bom. Quanto menos contato, menos a chance de escorregar no meu disfarce (além do mais, eles amoleciam o meu coração e tiravam o meu foco).
Adentrei na garagem da mansão e reconheci o carro de Mia: um Mini Cooper Coupé amarelo. Elegante e berrante.
Bufei – isso era a cara da minha irmã. Toda patricinha paulistana de respeito deveria ter um desses.
Liguei o GPS e saí da mansão, os nervos em frangalhos.
Aí vamos nós.
Dirigir o carro da Mia foi fácil, vez que consistia em um modelo automático. Difícil mesmo foi me acostumar ao trânsito caótico de São Paulo. Parecia uma selva de pedra enlouquecida, e eu não estava acostumada a isso. Mesmo com o GPS, errei várias vezes e fiquei dando voltas; felizmente, tinha saído cedo e não me atrasei.
A Universidade São Valentim ficava em um bairro tão luxuoso quanto o da casa de Mia. Quando adentrei em seus portões de ferro, engoli em seco – que lugar.
Consistia em um conjunto de prédios elegantes, construções de tijolos vermelhos ao estilo neoislâmico – o que conferia ao lugar ares românticos e opulentos, típicos de séculos passados. Os prédios eram ladeados por árvores bem cuidadas, bancos de pedra e um imenso gramado central.
Havia também um estacionamento repleto de carros chiques; parecia uma competição de quem tinha mais dinheiro.
Estacionei em uma vaga e saí do carro (meio apavorada). Não sabia o que esperar daquele lugar. Eu tinha um mapa mental dos corredores na cabeça, bem como o nome de todos os amigos da Mia – mas vê-los pessoalmente seria diferente da teoria. Eu não poderia me dar ao luxo de deslizar.
Nunca fui fraca ou tive medo de desafios; os últimos anos foram duros comigo, e eu soube aguentar o tranco. Os tapas na cara que a vida me deu construíram uma muralha dentro de mim. Mas o que eu estava fazendo agora era um crime, e poderia ter consequências aterradoras.
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Príncipes Perversos
RomanceLívia terá que assumir a vida de sua irmã gêmea. Por circunstâncias inesperadas, as irmãs Lívia e Clara foram separadas na infância. Lívia leva uma rotina simples no interior - enquanto Clara possuí uma vida cheia de luxo, refinamento e intrigas na...